quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Macross Frontier (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 02/10/2009.

Alternativos: Macross F
Ano: 2008
Diretor: Shoji Kawamori
Estúdio: Satelight
País: Japão
Episódios: 25
Duração: 26 min
Gênero: Ação / Mecha / Drama








Antes de mais nada, vamos a uma breve introdução, para que não nos percamos no universo criado para Macross. Cronologicamente temos: Super Dimensional Fortress Macross (1982), Macross - Do You Remember Love Movie (1984 - Choujikuu Yousai Macross: Ai Oboeteimasuka), Macross II Lovers Again OVA (1992), Macross II Lovers Again Movie (1993), Macross Plus OVA (1994-95), Macross 20th Anniversary Premium OVA(2002), Macross Zero Ovas (2002), Macross 7 TV (1997), Macross 7 : The Galaxy is Calling Me Movie (1995 - Ginga ga Ore wo Yonde Iru), Macross 7 encore OVA 1 (1995), Macross 7 Dynamite OVA 2 (1997) e Macross Frontier (2008). No site, já contamos com resenhas de algumas dessas séries. Duas delas, em especial, serão muito citadas: Macross (Robotech) e Macross Zero. A essa altura já devem estar pensando: "Essa doida de pedra esqueceu de várias seqüências!" Bem, na verdade não esqueci, mas resolvi citar apenas os diretamente ligados à produção japonesa, e não os que foram ”trucidados“ pelos americanos em séries, seqüências e especiais que foram criados apenas para gerar renda. Cite-se de passagem "Macross - The Sentinels", quem assistiu já sabe do que estou falando. Continuando as explicações, citei Robotech pois esta série, que chegou a ser exibida por aqui, era na verdade uma junção de três séries, criada com um único objetivo: dinheiro. Mas como alguns conhecem Macross como Robotech ou vice-versa, apenas citei para que não haja uma diferenciação. E para encerrar, vamos entender o que é protocultura e decultura, termos muito utilizados no universo Macross.

Na primeira série de Macross, protocultura significa ”primeira civilização“, um ancestral da civilização extra-terrestre, no caso os zentradi, que após uma grande evolução, subiu literalmente aos céus, evoluindo para uma raça de gigantes guerreiros, esquecendo suas raízes e inclusive coisas básicas, como diferenciar homens de mulheres. Mas como em toda civilização, as idéias não eram iguais, e algumas colônias se espalharam pelo universo, sendo que uma delas se instalou na Terra sob a forma "miclones", clones miniatura dos zentradi, ou seja, a raça humana. Já a decultura passou a ser a canção vital que retorna essas lembranças aos zentradi, e é aqui que Minmay surge: ela é a grande musa da série Macross, capaz de acalmar os zentradi com suas canções. Mas na época da primeira série, a palavra decultura sequer existia. A partir daí, continuamos a cronologia de Macross. Logo ao final da primeira série, seres humanos são lançados ao espaço com fins de colonização, nascendo assim as cidades espaciais em gigantescas aeronaves com ambiente parecido com o natural.

Mas qual o motivo de tanta falação? Muito simples. Para alguém que já acompanhou a série Macross desde o princípio (o que, devo enfatizar, é bem raro), esses dados são irrelevantes, mas quem fosse começar a assistir agora certamente ficaria perdido no meio de tantas informações e nomes que foram criados unicamente para a série.

Macross Frontier foi lançado em comemoração ao 25° aniversário da primeira série de Macross e ”talvez“ por isso seja muito parecido com ela em questão de embasamento e enredo. Estreou no Japão em abril de 2008 e já teve 2 sequências na forma de filmes, anunciadas para novembro de 2009, então vamos aguardar. O enredo central gira em torno de 3 personagens principais: Alto Saotome, Sheryl Nome e Ranka Lee. 
Triângulo amoroso? Sim, é claro! Clichê? Talvez: leia e tire suas conclusões.

Macross Frontier introduz um mundo tecnologicamente avançado, onde a humanidade sobrevive em uma das várias colônias espaciais espalhadas pelo universo. E lá vive Alto Saotome, filho e sucessor de uma tradicional e conhecida família do Kabuki (teatro japonês) e que, após uma briga, acaba deixando a linha de sucessão familiar e está tentando tornar-se piloto. Ele atualmente frequenta um Colégio, onde faz parte do clube acrobático aéreo e, por este motivo, é escolhido juntamente com seus colegas para atuarem na turnê da famosíssima cantora Sheryl Nome. De início achamos que ele é apenas o estressadinho do anime, nada mais comum para um jovem de 17 anos, não acha? Sair de casa, encarar o mundo sozinho e, pra completar, ainda ser chamado de ”Hime“ (princesa). Realmente ele tem motivos de sobra para ser meio chatinho.

A estrela do anime, Sheryl Nome, é a encarnação da mocinha mimada, mas com o tempo acabamos entendendo seus motivos. Durante sua primeira apresentação, introduzimos os vilões do anime: os Vajra, uma nação alienígena que ataca os humanos e viajam através de dobras no espaço-tempo, destruindo todas as civilizações com as quais têm contato. No início imaginamos que é apenas mais uma invasão alienígena, algo ao qual já estamos acostumadíssimos a ver na maioria dos animes, mas não se engane. A profundidade do enredo é bem mais complexa do que guerra entre mundos: Ai-kun que o diga. 

Sheryl até pode parecer apenas uma cópia da Lynn Minmay do primeiro Macross, mas as coincidências entre as personagens param por aqui. Ambas são cantoras, mas Sheryl tem uma personalidade bastante diferente da doce e meiga Minmay. Ela manipula a mídia e as pessoas conforme seu desejo, mas todo o seu senso de autoritarismo cai por terra quando conhece Alto, pois como ela mesma diz, o que mais a interessou é o fato dele não a tratar como uma estrela. Afinal, ele já esta acostumado ao sucesso, e ter alguém famoso ao seu lado não é lá nenhuma novidade. Algumas vezes ela é até mesmo esnobada por ele, mesmo que sem intenção, pois ele não cede facilmente a seus caprichos.









Toda essa lentidão em assumir sentimentos certamente lembra Macross, mas o conjunto não estaria completo se não houvesse uma terceira pessoa para completar o triângulo amoroso do anime. E esse personagem vem na forma da doce Ranka Lee, uma jovem senhorita que esta tentando a sorte como cantora. Fã de Sheryl e disposta a tudo para conseguir realizar seu sonho, sua participação entra de supetão no relacionamento de ambos, pois ela apaixonou-se instantaneamente pela bela ”Hime“. A vida de Ranka começa a mudar quando ela é escolhida para uma pequena participação no filme ”Pássaro Humano“ que, pasmem, conta a história de Macross Zero. Muitas coisas ocorrem durante a gravação desse filme e, num desses acasos que só acontecem uma vez na vida, ela acaba sendo convidada para fazer o papel de Mao, a irmã da protagonista do filme. A partir desse momento, sua vida vira de cabeça pra baixo, pois ela passa a competir não somente em popularidade com Sheryl mas, também, pelo amor de Alto.

Nada mais comum que uma intriga amorosa, não? Mas no caso dessa série em especial, temos várias! Michael, Luca, Ozma, Klan, Nanase e Catherine participam como coadjuvantes de luxo em cenas que nos deixam delirantes por diversos motivos. Como, por exemplo, o relacionamento entre Michael e Klan: ele, um atirador de elite mulherengo, e ela, uma zentradi dedicada às suas funções. As diversas passagens contando a historia deles é hilária, principalmente pelo fato de Klan, quando micronizada, se transformar em uma criança; pois ao invés de ter formas de mulher, ela se torna uma pirralha de humor terrível devido às brincadeiras de Michael. Mas nem isso impede a aproximação entre eles, e como diria Michael: ”Eu sou um covarde. Por que levar a sério é assustador demais“, comentado sobre o porquê de ele não se envolver seriamente com as mulheres. Outro a chamar atenção é Luca, o jovenzinho gênio de aparência tranqüila que apenas observa a bela Nanase, um amor totalmente platônico, mas levado às últimas conseqüências quando chegamos perto do desfecho da série e ele se vê obrigado a proteger sua amada. Outra coisa que chama a atenção são as coincidências entre a história de Roy e Claudia, do primeiro Macross, com Michael e Klan. Mas o desenvolvimento da vida dos personagens em Macross Frontier foi bem diferente, tornando-os únicos em sentimentos e ambientação. Ainda assim, algumas cenas entre Alto, Sheryl e Ranka lembram muito o relacionamento de Hikaru, Hayase e Minmay, como, por exemplo, o fato de Ranka e Minmay trabalharem em um restaurante como garçonetes e, também, terem participado do concurso de Miss Macross. Coincidências ou clichês à parte, isso é o que menos importa.

Outro fato interessante é que as aeronaves mantiveram os nomes originais. O esquadrão de Roy, por exemplo, também se chamava Skull, a gigantesca nave de batalha da SMS tem o nome de Macross e, inclusive, a própria Minmay é citada durante o anime, com direito a imagens e pequenos flashs da história. A animação é muito boa, diga-se de passagem: de primeira linha, sem quedas na qualidade gráfica. Principalmente tratando-se do aspecto das aeronaves, como os famosíssimos Valkyrie das forças armadas. Em Macross Zero, a aeronave utilizada é o VF-00, aqui podemos notar a evolução temporal da série, mostrada de forma bastante clara pela evolução dos Valkyries, em Macross Frontier eles já estão em sua 25aevolução. Também podemos notar algumas alterações em relação à capacidade de tiro e à adequação das aeronaves aos seus pilotos, como no caso do VF-25 G Messiah Valkyrie de Michael, que possui uma arma especial para franco-atirador. Esses pequenos detalhes que fazem toda a diferença quando se está assistindo. 

Em relação às outras séries, Macross Frontier foi devidamente melhorada. Em relação ao enredo, existe toda uma vitalidade presente em seus personagens. Afinal, realmente existe o triângulo amoroso central, mas todos os outros personagens, inclusive os não citados, têm toda uma história de vida, conflitos particulares dentro e fora da nave, o que acaba deixando o anime muito mais interessante, pois não ficamos presos somente à nave de combate e às guerras.

E para finalizar, eu gostaria de comentar sobre Grace O'Connor e Brera Sterne. Ambos possuem uma passagem bem significativa durante o anime, mas se eu fizer qualquer comentário sobre eles acabarei entregando o grande segredo do anime, então é melhor avisar: prestem muita atenção nesses 2 personagens, a passagem deles é crucial para o desfecho da série.

Produzido em 2008, com 25 episódios animados com muita competência pelo Studio Satelight, trilha sonora sob responsabilidade de Yoko Kanno em performances de Maya Sakamoto, entre vários outros nomes de peso, destacam-se as já conhecidas ”Ai Oboete Imasu ka", que faz parte do encerramento da série Macross, ”Aimo“ canção tema do filme ”Pássaro Humano“ realizado dentro do anime e que conta o enredo de Macross Zero, "My Soul for You" de Macross 7, “ What 'bout my star?“ que embala as disputas amorosas entre Sheryl e Ranka, fazem da parte musical realmente um show a parte. Todas as musicas são excelentes, como já se era de esperar. 



Com tantos pontos fortes, Macross Frontier certamente merece todos os prêmios que recebeu desde seu lançamento e, por este motivo, acabamos sendo brindados com uma ótima série que deixou aquele gostinho de ”quero mais“. Recomendo essa série a todos os fãs de Macross... e que venham os filmes!

”Até ontem você era insignificante... a lenda começa daqui pra frente!“

Cátia Nunes