quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Shura no Toki (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 06/11/2009.

Alternativos: Shura no Toki: Age of Chaos; Mutsu Enmei Ryu Gaiden: Shura no Toki
Ano: 2002
Diretor: Shin Misawa
Estúdio: Studio Comet
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 24 min
Gênero: Histórico / Ação





Minha total fascinação por animes de época é bem previsível, visto que escrevi sobre vários deles. Novamente volto a falar sobre o período historicamente mais recheado de ”personagens aproveitados“ para séries animadas, dessa vez o escolhido foi ”Shura no Toki“. Primeiramente, por se iniciar no período Heian-jidai, que na realidade é o período de auge da corte imperial japonesa, voltado essencialmente às artes e cultura, o que me interessa bastante. Segundo, e vale relembrar, foi nessa época que surgiram os samurais, como forma dos senhores feudais protegerem seus pertences e famílias. E terceiro, também é nessa época que surgem os ”Homens de Shura“ e seu inigualável estilo Mutsu Enmei Ryu (luta de mãos vazias), não há registros de que qualquer um deles tenha perdido suas batalhas. Mas já deixo claro que estas informações vêm do anime, não há realmente um registro histórico sobre isso como, por exemplo, no caso de Musashi: afinal, existem testemunhas, registros e, baseando-se nisso, ele se tornou uma lenda na sua época e até os dias atuais. O enredo foi levado às telas em 2004, estreando na TV Tokyo com 26 episódios e baseado no manga de Masatoshi Kawahara, publicado de 1987 a 1996 pela Kodansha e adaptado para o anime por Misawa Shin. 

O anime inicia-se 10 anos após a batalha de Sekigahara: o sangue e as marcas da guerra ainda estavam presentes no ar, deixando a todos desconfiados e com os nervos à flor-da-pele. Nessa época ainda restavam alguns herdeiros do estilo Mutsu Enmei. Nossa historia começa quando um jovem espadachim é perseguido por samurais e cruza o caminho de Miyamoto Musashi e seu inigualável estilo Niten Ichi Ryu. Na época, Musashi já era conhecido, principalmente por seu temperamento esquentado.

Após salvar o rapaz, mesmo que não intencionalmente, Musashi se interessa por um jovem andarilho que está comendo à sua frente e lhe sorri amistosamente. Seu nome é Yakumo Mutsu, um jovem pertencente ao Clã Shura, responsáveis por aperfeiçoar o estilo ”mute“, a luta de mãos limpas, ou seja, sem armas ou espadas, e durante séculos sua arte nunca foi derrotada. Musashi apenas sente a forte aura presente de Yakumo, mas não consegue lutar com ele, visto que, após o convite para um duelo, Yakumo apenas continua a sorrir amigavelmente. Musashi vai embora e promete que um dia voltará para, assim, se confrontar com o dono daquela aura que fez seu coração sentir vontade de lutar.





Segundo conta o enredo do anime, após o confronto de Musashi com um Mutsu, acrescentou-se à extensão ”ryu“ a sua técnica. Nos episódios iniciais fala-se muito da história de Musashi. Neste período ele era apenas um andarilho em busca de respostas, ele ainda não havia ”se encontrado“ realmente com as artes de guerra, poemas e histórias míticas às quais seu nome é ligado. Neste período ele apenas buscava um oponente mais forte, e o encontrou na forma do jovem Yakumo. Quando se menciona Musashi, deve-se lembrar do seu estilo com duas espadas, mas ninguém havia presenciado este estilo em batalha, pois aqueles que o fizeram retirar a segunda espada não sobreviveram para contar. Pelo menos não até surgir o anime ^_^.

Passando dos 50 anos, com seu nome reconhecido, Musashi escolhe Iori, um jovenzinho que o acompanhou na sua jornada como andarilho, como seu filho adotivo, e a partir daí começa uma nova história dentro do anime, com a participação do Clã Sanada (revejam Samurai Deeper Kyo), Miyamoto Iori, Yagyuu Jubei (Ninja Scroll) e Takato Mutsu. Nessa parte do anime, começa um jogo de armações políticas visando concretizar o poder. Nessa fase existem muitas desavenças, pessoas usando falsamente o nome Mutsu e um torneio promovido para, além de entreter, desafiar o poderio do Xogum. Dezesseis anos após o término dessa historia, Jubei morreu e, segundo conta a lenda, ninguém sabe realmente a causa: veneno, doença, mas segundo dizem, morreu sorrindo feliz após seu ultimo confronto. 

A terceira fase começa com a abertura forçada dos portos japoneses a outras nações, a chegada dos Navios Negros e o Comodoro Perry. Aqui são introduzidos Sakamoto Ryoma, Katsura Kogorou, Souji Okita, Hijitaka Toushizou e Mutsu Izumi. Notaram que entramos no Bakumatsu? Sugiro que assistam os OVAs finais de Rurouni Kenshin, Peace Maker Kurogane e alguns outros. A partir desse momento os fatos mais relevantes da revolução Meiji são colocados em capítulos. Depois de seus 26 episódios, Shura no Toki deixa aquele vazio. Infelizmente não se cogita uma continuação. Apesar de não empolgar como deveria, o anime prende a atenção devido à parte histórica e a participação de personagens famosos. Algumas passagens do anime não têm muito fundamento, mas isso até pode ser relevado e compensado com as lutas bem detalhadas pois, com exceção da ”aura de guerreiro“ que envolve os personagens, nota-se que os estilos de luta são totalmente ”usáveis“, ou seja, não existe nada de impossível acontecendo no decorrer da série.



Quanto à parte técnica, a trilha sonora não chega a empolgar, mas desempenha seu papel a contento. A animação e o ”design“ são bastante agradáveis, apesar de não terem nada de inovador, mas devemos levar em conta que o anime não é nenhuma estréia de 2009, ou seja, o design é bastante compatível com a época de produção. Outro detalhe interessante é o formato do rosto e os traços dos personagens, tipicamente masculinos, além do fato de todos os personagens principais, os Mutsu, serem muito parecidos. Não sei se isso é uma característica do Clã Mutsu ou apenas coincidência, visto que os outros personagens são parecidos mas possuem características peculiares que os diferenciam, apesar da coincidência de formato de rosto e ombros. Existe uma mudança bastante palpável no ”design“ a partir do episódio 20, uma mudança para melhor em minha opinião, visto que nos episódios iniciais existe uma pequena distorção nas imagens, nada muito grave ou que prejudique o anime no geral. ”Shura no Toki“ tem alguns defeitos mas ainda assim é recomendado, principalmente aos que curtem um bom enredo recheados com lutas, pois a parte de história do Japão contida no anime é uma boa diversão, ainda mais se for contada com um pouquinho de sangue.


Cátia Nunes