domingo, 23 de novembro de 2014

Final Fantasy VII: Advent Children (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 24/09/2005

Ano: 2005
Diretor: Tetsuya Nomura
Estúdio: Square Enix / Visual Works
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 101 min
Gênero: Aventura / Fantasia / Sci-Fi



Cuidado! Esta resenha contém "spoilers" do jogo Final Fantasy VII, portanto, se você não o jogou ainda, não a leia.

Em 1997 a Squaresoft (atual Square-Enix) lançava o que viria a ser o seu jogo de maior sucesso: Final Fantasy VII. Este jogo marcava duas grandes mudanças: a saída da série Final Fantasy dos consoles da Nintendo para os da Sony, além de ser o primeiro jogo da Squaresoft (e um dos primeiros RPGs) a usar gráficos tridimensionais. Mas o que fez mesmo a fama do jogo foi o ótimo enredo, protagonistas carismáticos, um vilão também carismático e muito bem construído, considerado pelos fãs um dos maiores de todos os tempos, e um triângulo amoroso que gera discussões inflamadas até hoje. Claro que também é digna de nota a trilha sonora do jogo, a qual palavras não podem descrever.



Pois é, o tempo passou, os fãs sempre pedindo por uma continuação, e a Squaresoft, nada. Até que um belo dia eles anunciam uma continuação do Final Fantasy VII, e os fãs vão ao delírio. Mas, ao contrário do que todos esperavam, a continuação não seria um jogo e, sim, um filme, que foi apenas o primeiro passo de um projeto chamado Compilação do Final Fantasy VII, o qual, além do filme, consiste em vários jogos (um para PS2, um para celulares e outro para PSP) e um OVA, que se passam antes ou depois do jogo. E isto sem falar em camisas, chaveiros, bonés, canecos, bonecos e até um celular baseado no modelo que o Cloud usa no filme. Sem contar a edição limitada do filme que, além de trazer uma versão extendida do Advent Children e o jogo, traz "making of", script, extras, "trailers" e tudo o que é mercadoria (menos o celular).

O filme começa exatamente onde termina o jogo, mostrando o Red XIII e seus filhotes olhando para uma Midgar destruída e cheia de árvores, quinhentos anos depois do fim do jogo. Depois, ele volta 498 anos no passado para mostrar uma atividade dos Turks na qual algo sai errado. Então, temos uma breve recapitulação dos acontecimentos do jogo narrados pela Marlene. Neste retrocesso, ela fala que depois do Meteoro ter sido destruído pela Lifestream (um tipo de energia vital do planeta), varias pessoas contraíram uma doença misteriosa chamada Geostigma (síndrome da cicatriz do planeta), para a qual não era conhecida cura. A película nos mostra, então, Marlene tomando conta de Denzel, um órfão com Geostigma que mora com ela e outros órfãos, sob os cuidados de Tifa e Cloud. Tifa refez o seu bar "7th Heaven" e Cloud agora trabalha como entregador, mas por alguma razão, ultimamente ele tem se afastado de casa e não tem dado notícias. De repente, Cloud é atacado por 3 motoqueiros de cabelo prateado, olhos verdes e roupa de couro preta (igual a um certo vilão...), que o chamam de "nii-san" (irmão mais velho) e perguntam onde está a mãe deles. Durante a luta, Cloud sente uma forte dor no braço esquerdo e, por causa disso, quase é morto pelos monstros invocados pelos motoqueiros, que cancelam o ataque e vão embora. Cloud, então, parte para atender a um chamado de Reno, onde encontra um homem encapuzado numa cadeira de rodas que pede ajuda a ele e tem algumas respostas sobre os três mosquetei... digo, motoqueiros, cujo líder, segundo ele, se chama Kadaj. O que será que Kadaj e os outros têm a ver com Cloud? Que mãe é essa que eles tanto procuram, e com qual objetivo a buscam? E o que o Geostigma tem a ver com tudo isso?


Esta é a segunda investida da Square em longas-metragens. A primeira foi o filme Final Fantasy: The Spirits Within que, apesar dos belíssimos e inovadores gráficos, não fez tanto sucesso, pois não tinha nada a ver com nenhum dos jogos, que era o que os fãs queriam. Desta vez eles usaram a cabeça e decidiram usar um dos jogos como pano de fundo e para isso reuniram quase toda a equipe original (que 8 anos depois do jogo já havia se dispersado). Como se trata da Square já podíamos esperar uma qualidade gráfica espantosa, e é o que temos neste filme, apesar de em umas duas ou três cenas eles deixarem a peteca cair por alguns segundos (o filme tem 100 minutos). O "design" de personagens é muito bom e bastante realista, apesar de não completamente, como quis o diretor (que, aliás, também é o designer de personagens). Os dubladores fazem um trabalho excelente, e a atuação e as vozes combinam com os personagens. Quanto à música... bem, nem preciso falar. Nobuo Uematsu é um dos maiores compositores de músicas para jogos de todos os tempos. Neste filme você encontra músicas antigas do jogo sob novas roupagens (versão piano ou com a adição de guitarras, por exemplo) e algumas músicas novas que mantêm o alto nível esperado do Uematsu. A música "Calling", de Kyosuke Himuro (a única que não é do Nobuo), é um rockzinho bem agradável, e dá o tom certo para a seqüência de encerramento.

Apesar de todos os personagens jogáveis e alguns vilões do jogo aparecerem, a maioria tem apenas um papel pequeno no filme, portanto vou me restringir aos que têm uma participação maior. Temos o introspectivo protagonista Cloud Strife, herói que salvou o mundo dois anos antes e que atualmente se afastou de seus amigos, apesar de ainda carregar seu celular e ouvir as mensagens deixadas por eles. Tifa Lockhart, amiga de infância de Cloud que, depois da destruição de Midgar, cuidava de alguns órfãos junto a Cloud, antes de ele ir embora. Vincent Valentine (que provavelmente ganhou um papel maior que os outros porque vai ser o protagonista de um dos jogos da compilação), o pistoleiro mutante que sabe alguma coisa sobre o objetivo de Kadaj e dos outros. E Reno e Rude, que eram vilões no jogo e agora estão ao lado dos mocinhos, cumprindo seu papel de alívio cômico com louvor, apesar de serem grandes lutadores. O vilão principal, Kadaj, além de ser extremamente parecido com Sephiroth, é um jovem extremamente carente de amor materno, bastante violento e tem um grande carisma. Sua arma é uma espada de duas lâminas, uma do lado da outra. Sobre os outros dois vilões, não há muito a falar. Yazoo, o do cabelo mais comprido, é o mais calmo dos três e usa uma arma que é o misto de arma de fogo e espada ("cof"... Gunblade... "cof"). Loz, apesar de ser fortão, é o mais imaturo dos três e muito chorão. Ele usa uma arma que é um misto de arma e escudo. Também não posso esquecer de Marlene, filha adotiva chatinha de Barret que mora com Tifa e Cloud enquanto seu pai busca novas fontes de energia e de Denzel, o órfão infectado com Geostigma que também mora com Tifa e Cloud e que ao contrário da Marlene não é chato.

O enredo do filme fala sobre a busca de Cloud por perdão por ter deixado Aeris e Zack morrerem, e também sobre o sofrimento dos órfãos que, segundo um personagem do filme, sempre choram por suas mães. Também mostra como uma criança que não tem nada pode tomar os piores caminhos na vida. Durante o filme você verá algumas das batalhas mais eletrizantes já colocadas num filme, tanto que é até difícil descrever com o que se parecem. Pense numa mistura das lutas de sabre de luz de Star Wars com as lutas de Matrix e a escala de destruição de um Dragonball. Dentre estas lutas, destacam-se as de "um contra um", até porque, nestas lutas, dá para colocar mais drama do que nas de 2 ou 3 contra um, onde é soco, espadada e tiro para todo lado. A luta final em particular é de tirar o fôlego. Rola até uma cena meio CDZ, onde todos se unem para dar forças para o protagonista derrotar o inimigo. Os únicos defeitos são o enredo, que poderia ter sido um pouco mais desenvolvido, e o final, que é meio clichê.




Este filme é também inovador, pois é a primeira vez que lançam um filme que é a seqüência de um jogo, já que, apesar do pessoal do Matrix ter lançado um jogo que tinha a ver com a estória do filme, era só um "spin-off". Com certeza os fãs de Final Fantasy VII não se decepcionarão e, talvez, o filme até supere as expectativas, pois muitos diziam que o filme era só uma jogada de marketing e seria muito ruim. Bom, jogada de marketing foi, é claro, mas ruim: nem pensar! E como no começo do filme tem uma recapitulada do jogo, quem não conhece a estória não tem desculpa para não assistir a este excelente filme.


M4rc0 AFRL