OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 07/05/2010
Alternativos: GITS 2: Innocence
Ano: 2004
Diretor: Mamoru Oshii
Estúdio: Production I.G.
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 99 min
Gênero: Cyberpunk / Drama / Sci-Fi
Confesso que minhas expectativas ao assistir este filme não eram tão grandes. Eu havia acabado de assistir o primeiro e me decepcionado. Não que o filme seja ruim, mas o hype em torno de GITS era tão grande que minhas expectativas eram muito altas. Assistindo de novo recentemente, percebi que o filme é muito bom e eu realmente fora traído pelas minhas expectativas. Pois bem, assisti a este filme sem muitas expectativas e o que eu achei dele está na resenha abaixo.
O filme começa com a seção 9 de segurança pública, onde trabalham as personagens principais, investigando uma série de assassinatos cometidos por gynoides (robôs com aparência feminina) usadas como brinquedo sexual. O curioso no caso é que as gynoides possuíam ghost, que é como são chamadas no universo de GITS as coisas que fazem de alguém humano, já que existem humanos com o corpo totalmente robotizado e máquinas com inteligência artificial avançada. Os detetives da seção 9 partem em busca do culpado por estes incidentes e do motivo por trás dos mesmos. Vale lembrar que o enredo, além é claro de toda a ambientação, é baseado em uma das histórias do primeiro mangá de Ghost in the Shell.
Devido aos acontecimentos do filme anterior, a major Motoko Kusanagi, personagem principal do filme anterior (e da franquia GITS, que engloba além destes filmes mangás e séries de TV), está desaparecida, e todos na seção 9 estão lidando com a sua ausência, apesar de Batou mencionar um anjo da guarda...
Por causa disso, o filme se foca em Batou e Togusa, que estão à frente da investigação. Os outros membros da seção 9 mal aparecem, com exceção do chefe Aramaki, mas ele também não chega a ter grande participação. Particularmente, achei a dinâmica da dupla principal melhor do que a dinâmica entre Batou e Motoko no primeiro filme. Tanto Batou quanto Motoko são soldados profissionais altamente robotizados que vivem sozinhos, e o diretor os retrata como pessoas bastante introspectivas, quase robóticas. Já Togusa é um ex-policial quase 100% natural, possuindo apenas os implantes cerebrais necessários para poder trabalhar com a seção 9. Ele tem uma esposa e uma filha, e possui uma personalidade mais aberta. Isto gera um contraste que torna as interações e discussões entre os dois mais interessantes e inclusive ajuda a mostrar mais o lado humano de Batou.
E por falar em discussões, o filme está cheio delas e aborda vários temas existenciais e filosóficos, de forma que muitos acham que o filme acaba se tornando pretensioso e que estas discussões quebram o ritmo do mesmo. Realmente, é estranho ver dois policias tendo discussões filosóficas durante o serviço e também é estranho todos os investigados também entrarem nessa brincadeira, mas a minha impressão é de que o objetivo do diretor é justamente este. Mais do que fazer um filme policial em um ambiente cyberpunk, o diretor queria discutir estes temas e por isso acaba intercalando estas discussões entre as cenas de ação e investigação.
O mais interessante nestas discussões, entre as obrigatórias indagações sobre o que é a realidade e o que é virtual, é a inversão de ponto de vista que é feita na tradicional discussão sobre o que nos torna humanos e de até que ponto uma pessoa pode ser robotizada e se manter humana. O filme discute o ponto de vista de uma máquina inteligente, feita para ser análoga aos humanos, que pode não querer ser humana (no caso do filme por meio da aquisição de um ghost), e a crueldade que pode ser transformar as máquinas em algo que não é nem máquina pura nem humano, entre outras que não mencionarei para não contar demais o enredo.
Tecnicamente, o filme é extremamente competente. A trilha sonora, baseada na do filme anterior, dá o tom certo para as cenas. Os efeitos sonoros e a dublagem também são de primeira linha. Na parte visual, o filme também não faz feio, e mesmo hoje não parece datado. Além da animação ser ótima, a integração entre o 2D e o 3D no filme é quase perfeita e é necessária muita atenção para perceber algum probleminha. A composição visual do filme é excelente, mostrando bem o futuro altamente tecnológico, mas não muito distante (destaque para o Bugatti retrô do Togusa), com planos de fundo muito bem feitos e cheios de detalhes que mostram bem as diferenças dos lugares. A direção do filme é muito boa, e este possui duas cenas que eu considero espetaculares: a que mostra a realização de um festival pelas ruas de uma cidade, e a cena na qual Togusa e Batou vão investigar um hacker.
Ghost in the Shell Innocence é um filme que usa e abusa da estética e da temática cyberpunk. Apesar do tema policial colocar bastante ação e investigação no filme, ele pode entediar quem não tem muita paciência para discussões filosóficas, mas mesmo assim é difícil não apreciar o filme, nem que seja pela qualidade técnica exemplar. Para quem não se importa ou gosta destas discussões, o filme é um prato cheio.
M4rc0 AFRL