domingo, 23 de novembro de 2014

Juuni Kokki (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 11/12/2009

Alternativos: 12 Reinos - Twelve Kingdoms
Ano: 2002
Diretor: Tsune Kobayashi
Estúdio: Pierrot
País: Japão
Episódios: 45
Duração: 23 min
Gênero: Drama / Fantasia / Histórico


“Eu te ofereço a coroa através do desejo dos céus, eu juro nunca abandonar meu posto diante do seu trono. Aceite minha proteção e a promessa dos céus”.

Juuni Kokki é uma fantástica obra baseada no romance homônimo do escritor Fuyumi Ono, publicado entre 1991 e 2001, totalizando 12 volumes. Deles surgiu o anime produzido pelo Studio Pierrot, que chegou às telas em 2002, num total de 45 episódios que abrangem os 5 volumes iniciais do romance, contando a história de um mundo fabuloso, cheio de magia e mistério que corre paralelamente ao nosso mundo. Neste mundo, existem 12 reinos, para cada um deles um ""kirin"" e seu respectivo imperador.

O "kirin" é um ser mitológico, nasce de um fruto sagrado, protegido por bestas místicas no Monte Houran. Keiki é um "kirin" que tem o dever de encontrar um novo governante para o seu país, o reino de Kei, e por este motivo, ele viaja até nosso mundo para buscar seu novo imperador. Vamos dar uma pausa na parte mitológica do anime para introduzir a personagem principal, a jovem Nakajima Youko. No Japão, Youko (Hisakawa Aya), uma jovem comum: está cursando o colegial, interpreta o papel de boa moça, faz de tudo para agradar a todas as pessoas que a rodeiam para, dessa forma, sentir-se bem consigo mesma e com sua família.

Tudo corre bem na vida comum de Youko até ela ser abordada por um homem estranho, de longos cabelos dourados e expressão calma. Após uma luta sem precedentes, ele se ajoelha perante ela e lhe oferece um reino em outro mundo, para o qual ela e seus 2 amigos são levados por bestas místicas através de um vácuo no espaço. Loucura pouca é bobagem quando se pensa nesse anime, vamos nos concentrar em entender o enredo.

O "kirin" sagrado escolhe um imperador sábio e justo que não trará opressão ao seu povo e fará de tudo para que o país prospere. Imperadores imortais (sennins) por escolha dos céus, assim como seus seguidores palacianos. Pausa para uma pequena explicação, o termo sennin, no anime significa imortal, mas não é realmente o que acontece, visto que, segundo se explica durante o decorrer dos episódios: se o sennin tiver sua cabeça cortada por uma espada especial, acabará morrendo. E o único que pode tornar alguém imortal é o imperador, ou seja, apenas ele pode conceder a imortalidade às pessoas que o servem como, por exemplo: os generais, ministros e até mesmo serviçais.

Nem sempre o "kirin" faz a escolha certa e, a partir desse momento, o reino começa a sofrer com os pecados do imperador: a ira dos céus recai sobre a terra em forma de desgraças e desastres naturais, doenças, guerras e diversas adversidades. Inclusive o próprio "kirin" adoece, sendo uma das vítimas do desgosto dos céus pelo escolhido. O "kirin" e seu imperador estão ligados: se o "kirin" morrer, o imperador não durará sequer um ano, o mesmo acontece se o imperador renunciar ao trono e for contra a vontade dos céus. Mas nesse caso, o "kirin" sobreviverá e, assim, o reino deverá aguardar até o surgimento de um novo imperador.


Juuni Kokki desenvolve uma série de pequenas histórias, todas ligadas ao tema principal, dentro dos seus 45 episódios. Todas elas, sem exceção, prendem a atenção devido à sua grandiosidade. A principal é a de Youko, que no início parece ser apenas mais um dos imperadores que receberão o castigo dos céus, pois é fraca, sem atitude, a pobre coitadinha incompreendida. Mas isso muda drasticamente a partir do momento em que ela começa a entender o sentimento das pessoas oprimidas pelo poder, e passa a lutar realmente e para o bem do povo.

A segunda história que merece destaque é a do "kirin" negro. Um "kirin" extremamente raro, cuja vinda é um prenúncio de acontecimentos grandiosos, tanto para o bem como para o mal, mas isso é algo que nem mesmo os céus podem definir. Ele também veio ao mundo num fruto sagrado que fora arrancado da árvore no monte Houran, sendo levado até o mundo dos humanos, Hourai, nascendo como uma criança comum, maltratada e desiludida. Após 10 anos, é resgatado e levado novamente ao monte sagrado: a convivência com as Nyonsei (serviçais do palácio no monte sagrado) o torna um jovem alegre e feliz, ao mesmo tempo em que sofre e teme escolher erradamente o novo imperador. Apesar da pouquíssima idade, ele encara um grande desafio para proteger seus amigos e faz de um "toutetsu" seu "shinrei". "Toutetsu" é um "youma", ou seja, uma besta, jamais na história dos reinos um "kirin" conseguiu fazer de um "toutetsu" seu "shinrei" (protetor), a não ser Taiho, o "kirin" de Tai, um poder tão imenso que esmaga até mesmo seu Lorde, Gyousou.

E para finalizar, a história do imperador Shouryuu e Enki. Tanto Enki, o "kirin" de En, como o imperador nasceram no Japão há mais de 500 anos. Shouryuu era líder de uma aldeia que fora dizimada pela guerra, e Enki o escolheu como imperador de reino de En, devastado pela miséria, guerra e fome. Na sua forma humana, Enki foi abandonado à própria sorte para morrer de fome devido à miséria de seus pais, até ser encontrado e devolvido ao monte sagrado. Após 500 anos de reinado, Shouryuu ainda não conseguiu cumprir sua promessa a um jovem que passou em seu caminho: construir um mundo onde youmas e humanos pudessem viver em paz.

Contei algo de relevante? De forma alguma. Não cheguei a citar o básico do enredo de nenhum dos 3 contos. Durante o desenvolvimento de todos os seus episódios, podemos até achar que tanta história e nomes estranhos podem desabonar ou desestimular a quem assiste o anime, mas isso não ocorre, pois acabamos nos acostumando com eles. A grande confusão fica mesmo por conta dos termos criados unicamente para a série. Inclusive, em vários casos, os nomes são colocados de formas diferentes, como o monte sagrado, muitas vezes chamado de monte Hou, Houra e, às vezes, Houran, tornando o entendimento um tanto complicado, mas notamos que existe uma base na mitologia chinesa.

Também devo deixar bem claro que foram citados apenas 5 dos 12 reinos (Hou, Tai, En, Kei e Kou) tornando-se praticamente impossível haver um entendimento completo do enredo de Juuni Kokki, visto que a mitologia citada não tem precedentes. Não conheço nenhum anime que seja tão rico em personagens e história. Mesmo assistindo o anime várias vezes, é quase impossível lembrar-se de todos os personagens, países, "kirins", imperadores, "nyokais", isso sem falar de todos os personagens que acercam os imperadores.




Dirigido por Tsune Kobayashi, trilha sonora a cargo de Kunihiko Ryo e animado com excelência pelo Studio Pierrot, mesmo sem uma trilha sonora e design avassalador, Juuni Kokki tornou-se um anime imperdível, considerado por muitos o melhor enredo de todos os tempos, batendo inclusive Akira e Ghost in the Shell. E após seus 45 episódios, o anime acabou sem dar um final adequado a nenhuma das histórias. Assistam sem pressa e com atenção, pois o enredo confunde antes de explicar, mas com o passar dos episódios você vai esperar ansioso pelo próximo e, quando chegar ao final, vai gritar por mais. Esse é um dos poucos animes que alcançaram a unanimidade quando se trata de enredo, simplesmente imperdível.

Cátia Nunes