OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 16/10/2009
Ano: 2000
Diretor: Yoshiaki Iwasaki
Estúdio: Production I.G. / XEBEC
País: Japão
Episódios: 25
Duração: 30 min
Gênero: Comédia / Romance
Love Hina é um clássico. Boa parte dos fãs de anime já viu, e quem não viu já ouviu falar. E por que isso? Para quem é mais novo e não sabe, antes da época da banda larga, torrents e etc. os fansubbers trabalhavam com fitas VHS. Os grupos conseguiam o original japonês (RAW), normalmente em laserdisc e usavam uma máquina para colocar a legenda em cima do vídeo e passar para a fita. Nesta época, a distribuição era feita pelos correios e os fansubs eram uma coisa bem underground. Naquela época, era comum os fãs se encontrarem e emprestarem as fitas uns para os outros ou fazerem maratonas em grupo. E o que Love Hina tem a ver com isso? Nada. O anime de Love Hina começou em 2000, época em que o acesso à internet com banda larga já estava bastante difundida nos EUA, no Japão e em outros países desenvolvidos. Nesta época, começavam a surgir os fansubbers digitais, que conseguiam a RAW em formato digital, seja por meio de DVDs japoneses ou por capturas de vídeo da TV que pessoas no Japão disponibilizavam na internet. Estes grupos começaram a traduzir os animes e disponibilizá-los via IRC, o que eliminava a necessidade de se mandar o material para o correio e possibilitava a pessoas do mundo todo assistirem o lançamento. Isso, como todos já sabem, possibilitou a disseminação dos animes, resultando na mania internacional que temos hoje.
Love Hina foi um dos primeiros animes distribuídos neste formato e, por isso, foi o primeiro anime que muita gente viu e, em se tratando de felizardos como os brasileiros que tinham muitos animes na TV, pelo menos antigamente, o primeiro com áudio original. O fato de o mangá ter sido lançado no começo do boom nos EUA e no início da publicação de mangás no Brasil ajudou a transformar Love Hina em um clássico. Para muitos também foi o primeiro contato com animes de comédia romântica e fanservice, pois aqui no Brasil, na TV aberta, apenas El Hazard e Tenchi Muyo pertenciam a este gênero. Mas o anime não é apenas um azarão que deu sorte de estar no lugar certo e na hora certa. O anime é bom e possui alguns temas bem universais, ao contrário de boa parte dos animes do seu gênero, sobre os quais eu falarei mais abaixo. Mas chega de conversa fiada e vamos à sinopse.
Keitaro Urashima, 20 anos, é considerado um fracassado. Além de ter sido reprovado no vestibular para a Universidade de Tóquio (Toudai) duas vezes, nunca teve uma namorada e sequer beijou uma garota. Vale salientar que a Toudai é uma das melhores universidades do Japão e tem um dos vestibulares mais concorridos. Porém, Keitaro não desiste, pois quando era criança, prometeu a uma garota da qual ele gostava que os dois iriam entrar na Toudai e se casarem, pois dizem que os casais formados na Toudai vivem felizes para sempre (o que é bem óbvio, já que os dois serão formados por uma boa universidade e arranjarão bons empregos). O problema é que ele não se lembra nem do nome e nem do rosto da garota.
Um belo dia, ele recebe um telefonema de sua avó Hina, chamando-o para visitá-la em sua pensão, a pensão Hinata, onde Keitaro fez a famigerada promessa. Keitaro decide ir em função de problemas com os pais por ser um ronin (nome pelo qual os japoneses chamam quem terminou o colégio e não passou no vestibular, em analogia aos samurais sem mestre) e porque a pensão é mais perto do cursinho e ele poderia ficar lá de graça. Mal sabia ele que sua avó partira em uma viagem de volta ao mundo e o chamara para ser o novo gerente da pensão. Não sendo isso suficiente, depois de um ”acidente“ no banho termal da pensão e de ser confundido com um tarado ladrão de calcinhas, Keitaro descobre que sua avó transformou a pensão num pensionato feminino!
É claro que as meninas não aceitam a princípio, deixando-o ficar só porque, em função de um mal entendido, acham que ele já estuda na Toudai. Todas menos Naru Narusegawa, que concorda que ele fique para a pensão não fechar, já que precisa de um gerente. Além do mais, Naru também está estudando para entrar na Toudai, por um motivo especial... Soa familiar, não? Então o anime segue mostrando o atrapalhado dia-a-dia de Keitaro, que atua como gerente da pensão Hinata, além de estudar para o vestibular.
Além de Keitaro e Naru, moram na pensão: Kitsune, Motoko, Kaolla e Shinobu. Konno Mitsune, apelidada de Kitsune, é uma escritora de 19 anos (apesar de ela não aparecer escrevendo...) que é a garota mais velha e sedutora da casa. Ela bebe bastante, é interesseira e não hesita em usar seus dotes femininos para conseguir o quer, especialmente do Keitaro; Motoko Aoyama, 15 anos, é uma estudante do colegial e também herdeira de um estilo de kendô, sendo bastante forte. Ela não gosta nem um pouco do fato de um homem ser o gerente, ainda mais o desastrado do Keitaro, que sempre está na hora errada e no lugar errado e acaba fazendo algo pervertido, o que lhe rende várias surras. Por sempre treinar e ser durona, ela é insegura sobre a sua feminilidade e tem dificuldade em se relacionar, especialmente com os homens, mas isso vai mudando durante o anime; Kaolla Su, 14 anos, é uma estrangeira muito maluquinha e hiperativa. Ela vive agindo como criança, mas é muito inteligente, construindo altas máquinas e robôs, e bem lá no fundo tem um lado maduro; Shinobu Maehara, 13 anos, é uma garota que, depois de uns mal-entendidos com o Keitaro e com a ajuda dele, vai morar na pensão Hinata depois que seus pais se separam e se mudam da cidade. Ela é tímida, gentil e uma ótima cozinheira, e desde o início desenvolve uma paixonite pelo Keitaro. Temos ainda a Naru, 17 anos, que é uma estudante modelo e muito inteligente, frequentemente ajudando a besta do Keitaro a estudar. Ela é bastante estourada e violenta, constantemente espancando o Keitaro quando o atoleimado faz uma besteira e acaba fazendo algo pervertido. Ela é o principal interesse romântico do Keitaro, ainda mais depois que ele lê o diário dela e descobre que ela deseja entrar na Toudai por causa de uma promessa... Por fim temos Haruka, tia do Keitaro (mas se ele a chama de tia apanha) que cuida da casa de chá Hinata, próxima a pensão, que é calma e madura, ajudando o Keitaro de vez em quando, e Shirai e Haitani, dois amigos do Keitaro tão tontos quanto ele, só que sem a mesma sorte de morar numa pensão cheia de mulheres bonitas. Ah, sim, e temos a mascote, Tama-chan, uma tartaruga amarela voadora!!!!
Mais para frente aparecem outras personagens, como Kentaro Sakata, cara rico e estiloso que é apaixonado por Naru, sendo rival de Keitaro; Seta-san, antigo tutor de Naru; e Mutsumi Otohime, que também quer entrar na Toudai e é tão lesada quanto o Keitaro. Não falarei mais sobre eles e nem das outras personagens para evitar spoilers.
No quesito animação o anime é bom, mas não é nada que se diga: "nossa, como é boa a animação de Love Hina!" Já os cenários são muito bem feitos e se destacam. A trilha sonora é boa, dominada por músicas românticas ou que dão o tom da comédia, com muitas delas cantadas pelas dubladoras das meninas. A abertura "Sakura Saku" é um clássico dos animes. O traço é um pouco diferente do mangá, sendo a maior diferença os rostos, que são mais redondos no anime. É claro que traço é gosto pessoal, e ninguém deveria deixar de assistir a um anime por não gostar do traço, mas vale dizer que eu acho o de Love Hina bem agradável.
A dublagem do anime é excepcional. Sempre digo que nos animes de comédia é que os dubladores têm a chance de brilhar, e em Love Hina o trabalho ficou muito bom. Desde as reações das meninas quando o Keitaro acaba vendo-as nuas ou de calcinha até os gritos histéricos do Keitaro.
A dublagem brasileira também ficou muito legal, com as vozes das dubladoras combinando com a das personagens. Só quem ficou devendo foi o dublador do Keitaro, que não consegue transmitir a histeria e tontice do personagem.
Pois é, deu para ver que tirando o drama que todos passam nesta fase do vestibular e de não se passar no colegial, como a maioria dos animes do gênero, o enredo não tem nada de muito original. As personagens, mesmo tendo grande carisma, são todas um pouco clichê, com o Keitaro sendo o cara com quem os espectadores vão se identificar e as garotas representando cada uma um arquétipo dos romances shounen, para agradar a gregos e troianos. Existe desenvolvimento das personagens, mas o romance é aquele "vai-não-vai" dos romances shounen.
Então, o que faz Love Hina ter esta fama toda? A resposta é a comédia. Love Hina é bem engraçado. E não são só as piadas com os mal entendidos nos quais o Keitaro acaba flagrando uma ou mais das meninas nuas, sempre levando porrada ou da Naru ou da Motoko. Love Hina tem comédia pastelão para dar e vender e possui muita comédia non-sense. Episódios com paródias, como aquele em que estão dentro de um RPG de Super Nintendo, também marcam presença. Para quem gosta de uma boa comédia e não se incomoda com situações sensuais, Love Hina é um prato cheio.
É inegável que Love Hina é um clássico e que até hoje faz sucesso. Possui personagens carismáticas e é uma comédia de qualidade. Infelizmente os produtores não se livraram dos clichês do romance shounen. Se você procura um bom romance, este não é o anime mais indicado, mas se você quer simplesmente rir, Love Hina é recomendadíssimo.
P.S: O anime diverge do mangá, pois este ainda estava sendo publicado enquanto o anime estava sendo produzido. O mangá avança bem mais na história, mesmo se forem levados em conta os dois especiais de TV e o OVA de Love Hina. No mangá algumas personagens são muito bem desenvolvidas e o romance tem mais tempo para ser desenvolvido. Se tiverem a oportunidade, leiam.
A série possui um episódio extra (o episódio 25) que mostra uma história centrada na Motoko.
M4rc0 AFRL