quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Chienne d'histoire (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 14/01/2011

Alternativos: Barking Island
Ano: 2010
Diretor: Serge Avedikian
Estúdio: Sacrebleu Productions
País: França
Episódios: 1
Duração: 15 min
Gênero: Drama / Histórico



Serge Avedikian é ator, diretor e produtor. Conseguiu com seu terceiro curta de animação - primeiro dele apresentado em Cannes - ganhar o prêmio da categoria. O diretor armênio-francês mostrou talento e sensibilidade para contar uma história simples e memorável.
 
A animação em si é fraca. Muitas imagens paradas, ou com a câmera se deslocando lentamente. Não faz falta no final das contas, mas incomoda um pouco. A criatividade, como é padrão em obras assim, é grande. Tirando fotos da época, nada é muito definido. As cores de que as pessoas são feitas servem pra mostrar emoções, e os cenários são bastante vagos.
 
A parte sonora, em compensação, é muito boa. As músicas são sombrias, com um clima opressivo. Não há diálogos, mas as expressões dos personagens são boas, e dão a entender nuances de pensamentos que talvez falas não conseguissem mostrar. Os latidos, ganidos, gemidos e rosnares dos cachorros combinam com a animação e dão a impressão de que os animais estão vivos, o que ajuda a comover e passar a mensagem. De modo geral a obra é muito bem feita.
 
A história se passa em Constantinopla (atual Istanbul), no ano de 1910. Baseado no ocidente, o governo decide matar cachorros em favor de uma melhor aparência pra cidade. Especialistas da Europa são chamados para criar planos para o extermínio dos cães. O governo não concorda com os preços para fazer isso de modo mais rápido e higiênico, então decide fazer de maneira diferente dos europeus. Simplesmente capturam os animais e os levam para uma ilha deserta, onde são deixados para morrer de fome.
 
O curta tem poucas palavras escritas, e nenhuma falada. A última frase certamente fica na memória, e é um choque esperado. É impossível assistir e não sentir um desconforto. O filme toca na estupidez e hipocrisia humana, no mal que nossa sociedade pode causar a natureza, e vai direto ao ponto.

Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, começou o que seria chamado de genocídio armênio. No dia 24 de abril foram presos em Constantinopla mais de 600 líderes armênios, incluindo intelectuais, políticos, líderes religiosos e trabalhadores. Todos foram executados. O governo dos Jovens Turcos não suportava a idéia de uma Armênia independente, e o extermínio dos líderes facilitou a deportação e matança de  milhares de cidadãos armênios. Abandonados a própria sorte os armênios sofreram com fome, sede, estupros, tortura e assassinatos. Centenas de milhares de pessoas morreram no que é o segundo mais famoso Holocausto da história.

Por se passar em Constantinopla, na época do genocídio e pela similaridade dos meios de extermínio é fácil enxergar um paralelo com o genocídio armênio. Ainda mais levando em conta a descendência do criador. Os cães se transformam em uma metáfora assustadora, afinal eles não tem condições de se defender dos humanos que dominam a cidade. E o curta ganha ainda mais impacto.


 
Ao terminar de assistir, recomendo ir ao site de Cannes e ver o arquivo para a imprensa. Infelizmente ele só está disponível em inglês e francês, mas a curta nota de diretor adiciona alguns detalhes interessantes. É uma obra que fica na memória, e tomara que o diretor futuramente nos presenteie com mais curtas de animação com tamanha qualidade.

Heider Carlos