Ano: 2014
Diretor: Shinpei Nagai
Estúdio: Seven
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 3 min
Gênero: Comédia / Slice-of-Life
Aí você acompanha a história enorme, cheia de desencontros, onde só no final o casal fica junto, selando o compromisso com um beijo ou uma declaração de amor. Quem nunca viu algo assim? Seja um anime, uma novela, um seriado... É um esquema utilizado à exaustão, e que gerou muitos sucessos de público. Se no final não aparece um “e viveram felizes para sempre”, a mensagem fica pelo menos subentendida. Muitas vezes temos até um vislumbre do futuro. O casal já mais velho, com filhos, tendo um reencontro com os outros personagens. Mas a vida a dois em si dificilmente é abordada. Ninguém se importa. A cultura pop foca em conquistas, em vitórias. Nas grandes viradas, não nos pequenos momentos.
A vantagem é que procurando em nichos se acha de tudo ^^ Danna ga Nani wo Itteiru ka Wakaranai (conhecido também por ‘I Can’t Understand What My Husband is Saying’, ou ‘eu não entendo o que meu marido está falando’) é um "slice-of-life" que começa com o casamento dos protagonistas e continua a partir daí. É bem curtinho, com cada episódio tendo 3 minutos. E são só 13 episódios no total, com uma segunda temporada confirmada para a primavera japonesa de 2015.
Kaoru é uma jovem que trabalha (muito) em um escritório. Hajime é um otaku que trabalha postando em algum fórum estilo Reddit ou 4chan. Lembrem-se que embora aqui no Brasil a palavra otaku seja muitas vezes vista como um símbolo de status ou orgulho, no Japão ela é bem mais pejorativa. Boa parte dos episódios foca neste lado estranho da cultura otaku, meio incompreensível para quem está de fora.
O desafio não é eles ficarem juntos, eles já estão unidos pelo casamento. Também não seria justo dizer que o desafio é eles permanecerem juntos. Kaoru e Hajime são bem diferentes, tanto no modo como se comportam quanto no modo como eles veem o mundo, mas é nítido que eles se gostam e se dão bem. Há vários personagens secundários. Eles são até que bem definidos, se levarmos em conta a curta duração dos episódios. O problema é que às vezes tudo fica meio confuso. Não há espaço para explicações. Algumas piadas acontecem tão rápido que é fácil se perder. Eu tive que assistir mais de uma vez para entender que o irmã do Hajime, Mayotama, é transexual. Além disso, há um uso bem intenso de termos otakus. Eu tive que pesquisar "une", "onee-san", "nekama", entre outros.
Existe sexo neste anime. O modo como ele é retratado me deixou bem feliz. No primeiro episódio após a Kaoru colocar o biquíni, o narrador diz: ‘E eles fizeram muito sexo’. É uma piada simples, boba e efetiva. No final do episódio eles dão uma passada em um motel. O diretor fez alguns hentais antes, mas o sexo não é explícito e a presença dele é normal. O anime não se vende como uma fonte de sexo. Há partes que mostram os seios de Kaoru (naquela lógica de nunca mostrar os mamilos). E há partes com o Hajime sem camisa. Mas a sensualidade é mantida no mínimo, sempre a serviço da comédia. Ainda mais ao se pensar em quão comuns são, em animes, cenas desnecessárias de closes aleatórios em calcinhas e sutiãs, normalmente com os detalhes dos corpos muito bem desenhados por baixo... Existe sexo aqui porque existe sexo entre casais, simples assim.
A qualidade da animação é adequada. Já assisti a alguns destes animes curtos que parecem aquelas animações simples feitas em flash nos períodos pré-YouTube, à la Mundo Canibal. Danna ga Nani wo Itteiru ka Wakaranai tem uma animação que não ficaria má em uma série normal de anime, apesar do reaproveitamento de posturas, mas ainda está longe da qualidade que se esperaria de um OVA. As cores são bem leves, e há um desfoque em várias cenas que transmite tranquilidade.
Há várias cenas que fazem referência a outras animações famosas – algo a se esperar, devido aos interesses do Hajime. Mas tem também cenas que seriam difíceis de se ver em outro lugar. Kaoru secando o cabelo com uma toalha, enquanto Hajime come uma refeição e assiste TV. O tipo de cena cotidiana que tem um charme especial para quem gosta de "slices-of-life".
O anime foi adaptado de tirinhas de comédia de quatro quadros. Muitas piadas estão prontas, e foram adaptadas de maneira bem direta, incluindo expressões e cenários. E não há muita ligação entre elas. O roteiro dos episódios segue uma linha bem vaga – a visita de alguém, a busca por emprego – e joga piadas no meio. Os próprios episódios não têm grandes ligações entre si. A cola que mantém tudo junto é o carisma dos protagonistas mesmo.
Heider Carlos