domingo, 28 de fevereiro de 2016

World of Tomorrow (Movie)

Ano: 2015
Diretor: Don Hertzfeldt
Estúdio: Bitter Films
País: EUA
Episódios: 1
Duração: 17 min
Gênero: Drama / Sci-Fi



Don Hertzfeldt é um animador famoso nos meios mais undergrounds. Bem contraditório quando a gente para pra pensar, né? Já foi indicado ao Oscar e até fez uma abertura pros Simpsons. Seu maior sucesso até agora é "It’s Such a Beautiful Day", um filme animado que ganha mais destaque a cada dia que passa. O animador é famoso também por defender que curtas (arte em geral, na verdade) deveriam ser vendidos pelo que são, não como meio de propaganda. O fato é que o cara é muito bom no que faz, e tem sido bom há muito tempo. E seu último curta, "World of Tomorrow", é uma prova do tanto que ele é bom.

É difícil comentar um curta tão diferente e complexo sem estragar um pouco a experiência. Praticamente tudo o que eu conto acontece nos primeiros quatro minutos, o que deixa 12 minutos e meio de estranheza e deslumbramento para quem for assistir.

No futuro, é possível as pessoas gestarem um clone delas mesmas e, quando ele nascer, transmitir sua consciência para o novo corpo. É um modo de tentar ser imortal. Emily 3G, a terceira descendente da primeira Emily (que ela chama de Emily Prime) traz ela mesma, três gerações atrás e ainda criança, para seu tempo, a fim de que conversem.

O curta é basicamente a Emily 3G contando para a Emily Prime (com 4 anos de idade) sobre o futuro. E é incrível.

Filmes e animações mais alternativos levam a fama de serem chatos. Muitos são lentos, contemplativos e experimentais demais. "World of Tomorrow" é contemplativo e experimental. E consiste praticamente só de diálogos. A arte é simples ao extremo. Mas consegue ser interessante a cada segundo.


Emily 3G explica coisas para uma Emily Prime pequena demais para compreendê-las. Para sequer entender o que está acontecendo.

O curta aborda isolamento, solidão, escapismo, problemas de classe, amor, amizade, significado das memórias, arte, entre outros. Em suma, aborda uma vida. O futuro é interessante demais, ao ponto de muitas coisas chegarem a parecer críveis. Talvez por ser igualmente ridículo e sério. E o modo como nós o experimentamos é através de memórias e relatos, não de explicações detalhadas. É como ver apenas a sombra de uma árvore e tentar imaginar suas folhas, a textura da sua casca, o sabor de seus frutos.

É uma história de ficção científica. Há muita coisa “séria” lá. Se não pela viabilidade, pelo menos nos pensamentos gastos para inseri-las na história. Um exemplo é a viagem no tempo. Se nós voltássemos no tempo para a mesma posição que nos encontrávamos anos atrás, morreríamos asfixiados, pois nosso planeta viaja pelo espaço. Este tipo de detalhe dá mais credibilidade a história. O futuro parece mágico porque nós não entendemos como chegamos lá. Mas ele não é feito para nos ajudar ou nos servir. Ele é indiferente.

Tem uma exibição de arte moderna que eu não sei se eu ia adorar ou desprezar se fosse feita na vida real. É legal demais para que eu estrague contando. Adorei um termo que eles usam (outernet).

E se a dublagem da Emily Prime parece com a de uma criança de verdade, não é coincidência. O diretor simplesmente gravou sua sobrinha de 4 anos brincando, e adaptou o curta ao redor das frases. Já a voz de Emily 3G é da ilustradora Julia Pott. A naturalidade de uma contrasta com a impessoalidade da outra, assim como tantas coisas no filme contrastam entre si.





"World of Tomorrow" foi feito para ser visto mais de uma vez. E de tempos em tempos.

Merece cada um dos 20 prêmios que ganhou até agora. E virão mais, certamente.


Heider Carlos