sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Blood+ (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 11/08/2009

Ano: 2006
Diretor: Junichi Fujisaku
Estúdio: Production I.G / Aniplex
País: Japão
Episódios: 50
Duração: 24 min
Gênero: Ação / Drama



Um grandioso anime. Três palavras perfeitas para um anime (quase) perfeito. Não é de se espantar o sucesso que este anime fez, e vale salientar aqui que esse tipo de sucesso não significa de forma alguma que um anime precise vender bonecos, bolsas, e outros trocentos apetrechos, além também de não significar ter vários filmes e episódios quase infinitos. O sucesso de Blood+ é algo parecido com o de Fullmetal Alchemist (apesar deste último ainda ter um jogo de marketing bem embutido), em que basta colocar cerca de 50 episódios, um bom número de personagens de caráter forte e realista e uma história com vários elementos como: drama, ação, mistério e pitadas de comédia. Além do mais, se a história tiver um ritmo legal e um enredo de caráter sério, as chances desse anime se tornar memorável beira os 100%. E de fato, Blood+ beira os 100%.

Inspirado no curta-metragem ”Blood: The Last Vampire“, Blood+ pega apenas a essência de seu ”predecessor“ e cria uma história muito rica e mais dramática do que o filme. Vários elementos cruciais estão lá, como a garota principal Saya, suas habilidades praticamente inalteradas (apenas mais preenchida agora), além de sua missão, de ser a única capaz de derrotar os Chiropterans, seres monstruosos sedentos por sangue e com a aparência de morcego. Porém após o término do filme, já que se trata de um curta-metragem, a história fica em aberto, o que seria decepcionante para muitos. É para preencher esse vazio que somos presenteados com Blood+.

Ficamos agora sabendo que Saya é uma colegial feliz e sorridente que está aos cuidados de um militar aposentado e seus dois filhos, Riku e Kai, em Okinawa. Porém ela não consegue se lembrar do aconteceu cerca de de um ano antes. Sua vida normal é interrompida quando ela é atacada por um Chiropteran e Hagi, um homem o qual ela viu na cidade tocando violoncelo, a salva e diz que ela deve lutar. Inconscientemente, após beber do sangue de Hagi, Saya pede a espada a Hagi e mata o Chiropteran, mas depois não sabe o que fez. E a partir desse momento, suas memórias vão começando a voltar lentamente, inclusive os problemas, pois Saya vai percebendo qual é sua verdadeira missão, já que seu sangue é o único que pode derrotar tais monstros. Além da chegada de uma pessoa chamada Diva, que faz com que as memórias de Saya aflorem ainda mais.

Não se pode dizer muito sobre o enredo, já que há o risco de haver spoilers. Entretanto sabe-se que há muitos detalhes no enredo e o número de episódios foi primordial para que a história se desenvolvesse de uma forma agradável, sem correrias e sem demoras. Como já foi dito, aos poucos Saya vai se lembrando do que fez e do que tem que fazer, e as pessoas que estão ao seu redor vão sendo afetadas de todas as maneiras possíveis. Há também a existência do Escudo Vermelho, uma poderosa organização secreta que tem o dever de auxiliar Saya e fazê-la entender o que tem que fazer. Além da Cinq Flèches, todos envolvidos com os Chiropterans.

Os personagens Kai (este que ajudou profundamente na formação do caráter de Saya) e Riku são também afetados a partir do momento em que Saya vai obtendo suas memórias. Hagi, que é um homem misterioso, é sempre fiel à Saya e a protege de tudo, além de seguir incondicionalmente suas ordens. Todos os personagens têm suas histórias contadas com detalhes suficientes para entendermos porque são assim hoje. Seus dramas do passado e seus momentos presentes são muito bem contados e convencem.


A partir do momento que entendemos quem é Hagi, compreendemos também quem são os homens que servem à Diva. Além do honroso Hagi, merece destaque especial o personagem Solomon por suas características e atitudes. Solomon é um Chevallier, que são servos fiéis às suas determinadas Rainhas que, no caso, são Diva e Saya. Em níveis de poder, estão abaixo apenas das Rainhas. Existe também um grupo de pessoas misteriosas (e poderosas) que andam só à noite, conhecidos como Schiff, que lutam para conseguir a cura para suas vidas limitadas, já que suas vidas começam a esvair quando aparece em suas peles o chamado ”Estigma“. Cada um destes grupos aparece adequadamente no decorrer dos episódios.

Certamente o enredo é o ponto mais firme do anime, e mesmo sendo basicamente centrado em Saya, todos são bem tratados e acabam influenciando a vida da mesma. Não há apelos para dramas incompreensíveis e todas as emoções dos personagens são tratadas com o cuidado de não errar como muitas obras erram. Não há clichês que estraguem a grande história, mesmo que o tema de uma só pessoa carregar o peso do mundo seja tão batido.

Além de tudo, as lutas são bem feitas para um anime de 50 episódios, tendo diálogos até interessantes, já que diálogos entre lutas sempre são tão repetitivos. O fato de uma mulher ser a protagonista de um anime tão violento é algo diferente, mesmo que alguns realmente não gostem (infelizmente há machismo em todo lugar). Os efeitos de velocidade também são bonitos e o som está dentro do padrão para um anime desse tipo. Talvez seria ainda melhor se algumas músicas de introdução e encerramento pudessem trazer uma sensação mais parecida com a essência da obra, já que a quarta abertura não combinou nem um pouco com o momento que o anime estava passando. Fora isso, há algo já questionado muitas vezes, mas muito pouco importante, que é o fato de se viajar por vários países diferentes e todos saberem falar japonês. Um erro, de certa forma, mas um erro irrelevante. A animação, assim como o ritmo do enredo, é firme para o número de episódios.

O anime também traz à tona pensamentos sobre muitas coisas que acontecem neste mundo real. Inclusive, talvez os americanos não devam gostar muito de Blood+, pois o exército e o governo americano são tratados, mesmo subliminarmente, como responsáveis por guerras tolas e de mentir mundialmente, mesmo que seja para usar pessoas como cobaias, para seus próprios interesses, além de serem egoístas.

Mas e o fim? É bom? Ruim? Afinal, de que adianta assistir um anime de cinqüenta episódios para, no final, jogar tudo por água abaixo? Perfeito. Essa é a definição para o último episódio de Blood+, com o qual aparentemente os produtores tiveram o cuidado de não esquecer ninguém e de cuidarem para que não ficasse nem extenso nem curto demais.



Blood+ é uma excelente obra, realmente digna dos aplausos da crítica. Seu modo de contar a história, simples e detalhado, foi a tacada certa para o sucesso. Colocar um tema sombrio foi mais um mérito, afinal quem não gosta? E personagens carismáticos, para todos os públicos? Mais um ponto para o anime que, não fosse os pequenos defeitos e se os produtores realmente quisessem, poderia facilmente alcançar a nota máxima.


Marcos França