Diretor: Yutaka Yamamoto
Estúdio: A-1 Pictures
País: Japão
Episódios: 11
Duração: 23 min
Gênero: Aventura / Romance / Sci-Fi
O anime começa mostrando Clain, um jovem que mora sozinho em um lugar bucólico e que é aficionado em tecnologia retro. Clain vive sob a proteção do sistema Fractale, que provê todas as necessidades básicas a ele e às outras pessoas, e apesar de viver sozinho, não é órfão. Só que seus pais não moram com ele, e a família interage usando "doppels", um tipo de avatar holográfico que as pessoas do Fractale usam. Mas algo acontece para tirar Clain da sua vida tranquila. Ele encontra Phryne, uma jovem que está sendo perseguida por um grupo de pessoas. Clain a ajuda e a esconde dos perseguidores, que são um grupo bem inocente, e ela pernoita na casa de Clain. Ao acordar, Clain percebe que Phryne havia ido embora, mas deixara um pendente que Clain identifica como uma unidade de armazenamento de dados. O viciado em tecnologia Clain não resiste e acessa os dados que, para sua surpresa, fazem aparecer um "doppel" com a forma de uma garota que se auto intitula Nessa. A partir daí, Clain e Nessa partem em uma viagem para encontrar Phryne e acabam descobrindo o que há por trás do sistema Fractale e dos que se opõe a ele.
Tecnicamente, o anime não decepciona. A dublagem é ok, mas sem destaques. A animação é boa, o traço é agradável e as paisagens são lindas. A trilha sonora orquestrada do anime cumpre o seu papel. A música de encerramento é a versão de uma famosa música em inglês e me agradou. O tema de abertura é uma música eletrônica bem interessante e que combina bem com a abertura cheia de fractais.
Diferente de boa parte dos protagonistas que costumam aparecer nestas obras, Clain não é burro e nem inocente, não se deixando levar pela propaganda do Fractale e nem do Lost Millenium, grupo que luta contra o sistema. Mesmo se envolvendo com várias pessoas de ambos os grupos, ele consegue ver os méritos e abusos de ambos os lados. É através dos olhos dele que descobrimos as coisas. Phryne também é uma personagem interessante. Ela tem aquele jeito de menina altamente educada e formal, mas ao mesmo tempo não tem muita noção de como conviver em sociedade. Já Nessa é uma personagem que me desagradou bastante. Como ela mesma diz, ela ama o amor. Tem uma personalidade infantil e chata.
Depois dos aspectos técnicos, vamos ao anime em si. Fractale tem um tema interessante. O grande problema é que mesmo com este tema legal, e com um protagonista curioso e com senso crítico como Clain, o anime pouco discute a sua proposta. Mostra rapidamente como o Fractale, ao dar tudo para as pessoas, tira o seu senso de pertencimento a um lugar, a um povo ou a uma família, o que resulta em grupos de pessoas que moram em trailers e vão de um lado para o outro, gerando situações como a da família de Clain, e como as pessoas se tornam indolentes e totalmente incapazes de sobreviver sem serem dominadas pelo sistema. Depois disso, já mostra o lado dos que querem se ver livres do sistema. Só que não há comparações de mérito entre os modos de vida. Claro que o Fractale tira a liberdade das pessoas, mas não existem guerras, crime e não falta nada a ninguém. Mesmo que Clain não vire seguidor cego do Lost Millenium, o anime deliberadamente escolhe o lado dos revolucionários e a maior crítica é feita aos métodos deles, e não às intenções.
A forma como o Fractale é apresentado como uma religião para as pessoas é interessante, mas o anime comente o erro de não explicar como o sistema funciona. Onde é produzida a comida? Por quem? Como se sustenta? Fica tudo meio mágico e nebuloso e nunca descobrimos como certas personagens importantes se encaixam no esquema do Fractale. Aliás, outra bola fora do anime é não explicar o que o sistema tem a ver com fractais. O pessoal até fala uma besteirinha, mas não explica onde a teoria se encaixa. Além disso, o anime fica muito tempo nas paisagens bucólicas e mostra pouco da vida dentro das grandes cidades no Fractale, uma coisa que foi interessante quando apareceu, introduzindo discussões sobre o uso de avatares (os doppels) e realidade virtual. Mas isso foi pouco explorado.
Outro grande defeito do anime é que ele aparentemente não sabe o que quer ser. Começa bem ao estilo Ghibli, com um tom leve e com humor pastelão da parte dos perseguidores de Phryne, só para alguns episódios depois ficar bem sombrio e violento, com estes mesmos perseguidores de fuzis em punho e fazendo coisas questionáveis. E depois o anime volta para o tom leve, mostrando muitas cenas de cotidiano e fazendo inúmeras piadinhas com o Clain chegando quando as meninas se trocam ou tomam banho, para no fim da série ficar sombrio de novo. É meio estranho ver uma menina que trocava tiros em um episódio no seguinte estar sendo usada para piadinhas sobre a perversão do Clain. Mas isso não é o grande problema. O problema é que isso acaba quebrando o ritmo do anime, com a parte lenta do cotidiano durando mais do que deveria, o que deixa a parte do enredo corrida.
Por fim, as cenas de batalha do anime são fracas e o final é meia boca, com gente se sacrificando inutilmente só para gerar drama e com soluções mágicas para os problemas.
M4rc0 AFRL