Alternativos: Ginga Tetsudo 999
Ano: 1979
Diretor: Rintaro
Estúdio: Toei Animation / Oh! Production
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 128 min
Gênero: Aventura / Drama / Sci-Fi
Antes da humanidade nascer neste mundo, as estrelas brilhavam no céu. Quando a humanidade desaparecer, as estrelas continuarão a brilhar no céu. Enquanto vive, a humanidade observa o mar de estrelas e pondera sobre seu próprio destino...
Produzido por Toei Animation, Galaxy Express 999 é um filme de peso, muito peso para a história da animação oriental. Junto com outras joias como "Capitão Herlock" e "Queen Emeralds", demarca o início de uma era de reconhecimento do talento dos estúdios japoneses, e da busca pela identidade a qual a animação oriental iria tomar em comparação à animação ocidental, buscando temas mais adultos e emoções mais sérias. Dizer que Galaxy Express 999 não é qualquer filme é o mínimo de reconhecimento a um clássico tão importante da história filmográfica humana como este.
Num futuro distante, a tecnologia avançou tanto que a humanidade passou a fabricar peças mecânicas para substituir as obsoletas partes humanas de carne e osso e, assim, vencer a morte, vivendo para sempre através delas. Obviamente, uma pequena parcela de ricos tem acesso a essa tecnologia, enquanto uma grande parcela de pobres vive à margem das grandes cidades, subjugada pelas máquinas. Neste contexto surge Tetsuro, um menino de rua que busca desesperadamente uma passagem para embarcar no Galaxy Express 999, uma famosa linha de trem que passa por vários planetas da galáxia. Seu objetivo é embarcar no 999 e ir até Andrômeda, onde há um planeta que distribui peças mecânicas gratuitamente a todos os seus visitantes.
Tecnicamente, trata-se de um filme muito impressionante, especialmente por ter sido produzido no final da década de 70. Muitos quadros de animação e com uma quantidade relativamente baixa de quadros e animações reciclados fazem dele uma jóia rara, capaz de matar de inveja muitos outros "movies" bem mais modernos e atuais, cheio de cenas complexas que devem ter exigido um imenso investimento e empenho da equipe de produção. Os cenários são muito ricos em detalhes e cores: mesmo em cenários desérticos, sempre há muito o que se ver; A trilha sonora é majestosa, sempre orquestrada e com muitos instrumentos, demarcando ainda mais o poder de fogo da Toei naqueles tempos. Apenas a música de encerramento foge deste contexto. Os efeitos sonoros são muito bons, e as dublagens ficaram excelentes, a única parte desagradável é aturar os gritos desesperados de Tetsuro, mas nada que fuja do contexto do que está sendo retratado.
A história é sem dúvida o grande brilho de Galaxy Express 999, rica em detalhes e com um enredo infestado de reviravoltas, culminando num final muito marcante. A questão “Homem x Máquina” é muito forte, e muitas questões filosóficas e emocionais são abordadas de maneira direta e sensível. Não há espaço para conversas paralelas ou momentos deslocados, tudo converge em um objetivo bastante claro, catalisado pela excelente exploração psicológica de cada personagem que aparece no filme. Sentimentos como solidão, juventude, morte, vingança, amor e redenção fazem com que o espectador reflita sobre vários aspectos da vida através do que é trabalhado na tela.
Os únicos defeitos que podem ser apontados são a constante deformação de personagens e elementos em movimento (algo bastante perdoável levando em conta a qualidade de toda a produção do filme) e repetição da arte de personagens femininas, que parecem ser sempre a mesma pessoa. Este último, entretanto, é bem mais uma característica do autor da obra do que um defeito em si.
Galaxy Express 999 é um filme difícil de se esquecer, capaz de marcar para sempre o espectador e viajar pelo mar de suas memórias por muito tempo. Uma obra de arte que merece todo o respeito e admiração não só dos fãs de animação, mas daqueles que admiram obras incrivelmente belas a ponto de serem pontos de inspiração para várias gerações.
Emanuel Silva Sena