segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Guilty Crown (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animebook em 05/07/2013


Ano: 2011
Diretor: Tetsuro Araki
Estúdio: Production I.G.
País: Japão
Episódios: 22
Duração: 23 min
Gênero: Drama / Guerra / Mecha



No ano de 2029, o Japão é assolado por um vírus misterioso e sem precedentes na véspera de natal, resultando no que chamaram de “Natal Perdido”. O tal vírus em questão transformava os infectados em cristais, sem a possibilidade de cura. O país entrou em estado de caos completo, até que a organização internacional “GHQ” resolveu intervir, restaurando ordem ao país ao custo de sua independência no quadro político mundial.

Dez anos mais tarde, o Japão vive como um país semi-independente e seus habitantes necessitam de doses diárias de uma vacina que consegue suprimir os efeitos do vírus genômico apelidado de “Apocalipse”.

É nesse cenário que somos introduzidos ao protagonista Shu Ouma, um jovem normal como qualquer outro, não se destaca muito na escola e é membro do grupo de audiovisual. Por ironias do destino, Shu acaba se encontrando com a misteriosa Inori, e diversas circunstâncias o levam a despertar o seu “genoma do Vácuo”, também conhecido como “Poder do Rei”. Este poder o possibilita materializar os corações/sentimentos/almas das pessoas, gerando assim objetos com as mais variáveis habilidades e funcionalidades, o que faz com que ele acabe se envolvendo com a organização revolucionária/terrorista “Coveiros”, que visam a libertação do Japão politicamente.

Guilty Crown é um anime um tanto quanto difícil de resenhar. Escrito pelo mesmo roteirista de “Code Geass” e com colaborações de outros grandes profissionais do ramo (além de ter sido produzido pela Production I.G.), GC foi banhado em hype até não poder mais, para no fim das contas nos entregar uma obra muito abaixo das expectativas, porém não completamente falha.

O grande problema de Guilty Crown está em sua história e a maneira como é organizada. Muito similar a Code Geass em seu início, esta história começa de maneira muito rápida e truncada, apresentando seu cenário e personagens de maneira corrida e confusa, algo certamente perdoável no começo de qualquer anime... O único problema é que o enredo parece nunca conseguir acertar o passo do começo ao fim de seus 22 episódios.


GC possui um elenco variado e que mostra muito potencial ao longo de seu início, para depois não aproveitar a praticamente nenhum deles de maneira mais profunda ou instigante, resultando em personagens que não são realmente ruins, porém não realmente envolventes. O próprio Shu passa por visíveis transformações ao longo do anime, porém não se torna mais ou menos carismático e interessante, algo que é difícil de analisar como sendo bom, ruim ou mesmo mediano, já que a sua psicologia e evolução não são nada medíocres ou exagerados.

As complicações para qualquer resenhista já começam em seus personagens e se tornam ainda mais complicadas e relativas quanto ao seu enredo geral. GC é repleto de momentos corridos e confusos (especialmente em seu primeiro “arco”), porém também possuí vários outros que são genuinamente interessantes e “bem sacados” (com destaque para o arco da “escola sitiada”), algo que cria um efeito “montanha-russa” na história, não deixando que ela chegue a ser ruim ou absolutamente mediana, mas também não chegando nem perto de ser épica ou muito acima da média, conseguindo assim a façanha de ficar num limbo entre “bom” e “ótimo”.

Isso está muito confuso? Bem, o que quero dizer é que, basicamente, a ideia geral do anime é boa, porém a maneira como tudo é apresentado e organizado possui muitos erros e uma quantidade considerável de acertos, fazendo com que GC possua muitos momentos realmente satisfatórios aliados a outros de pura frustração. É como se você fosse capaz de ver o potencial da história que nunca se concretiza (por vezes chegando perto). Por mais que nenhum dos personagens seja ruim, nenhum deles se destaca. Por mais que a série tenha muitas batalhas e picos emocionais em grande escala, nenhum destes chega a ser épico. É uma sensação estranha de semi-competência, dando a impressão de que a “visão” de seus idealizadores era algo realmente incrível que simplesmente não conseguiu se traduzir na tela de maneira completa.

Se tem algo em que GC acerta em cheio é em seu visual e trilha sonora. A animação é extremamente bem trabalhada, com cores bonitas e fortes, cenários detalhados e movimentações/efeitos com uma fluidez impressionante. Mesmo quando sua qualidade decai um pouco durante a série, o visual continua muito agradável e mais bem trabalhado do que muitos outros animes por aí. A trilha sonora chega a ser quase impecável, não apenas as aberturas e encerramentos, mas também as músicas de fundo, com várias passagens musicais que até arrepiam os pelos do corpo. Como únicos comentários negativos nesse quesito, temos o fanservice exagerado e o design geral dos “Endlaves”, que são mechas bem básicos e não muito apelativos visualmente.



No fim das contas, GC é um anime que se mostra uma decepção depois de toda a propaganda. Não chega a ser ruim, não chega a ser medíocre, não é apenas “bom” e não se encaixa na classificação como “ótimo”, resultando em uma experiência turbulenta. É um anime que vale a pena ser assistido, porém seus esporádicos e ótimos acertos não conseguem redimir suas graves falhas.


Lucas Funchal