Alternativos: Samurai Spirits
Ano: 1994
Diretor: Hiroshi Ishiodori
Estúdio: Fuji TV / NAS
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 79 min
Gênero: Ação / Aventura
Vou contar uma história. No início da década de 90, uma empresa chamada Capcom dominava o mercado de arcades (conhecidos no Brasil como "fliperama") com um game de luta chamado Street Fighter 2. Obviamente, outras corporações japonesas lançaram games similares tentando se aproveitar do sucesso da rival. Entre elas estava a novata SNK, que cria um game de luta baseado em artes marciais do período feudal do Japão. Nasce assim o game "Samurai Shodown", que fez um enorme sucesso. Com isso, a SNK decide preparar uma continuação do game, no caso o "Samurai Shodown 2", e usa uma extensa gama de ferramentas de promoção, desde panfletos e posters até gabinetes exclusivos e propagandas televisivas. E é nesse contexto que o movie que veremos agora se encaixa, ou seja, um anime promocional de um game homônimo.
Produzido em 1994 pela TV Fuji e NAS, Samurai Shodown foi o primeiro anime produzido baseado nesta franquia. Enquanto o game do qual se deriva esbanjava tecnologia e qualidades por todos os lados para a época, o mesmo parece não ter sido incorporado ao anime. Por ter sido feito completamente a mão, o movie acaba sendo demasiadamente simples em vários aspectos, o que não seria ruim se este não sofresse de visíveis cortes de verbas em sua produção. O traço é bastante simples, pouco detalhado e com cores fracas. Personagens coadjuvantes, figurantes e cenários são despidos de qualquer detalhe, seja no traço ou no colorido, fazendo com que os mesmos beirem a insignificância. Mas é a animação propriamente dita o seu maior problema, pois além de ser bastante fraca, em alguns momentos o anime usa e abusa descaradamente de cenas estáticas para caracterizar movimento. É como se os produtores tivessem criado uma série de slides e os animassem em softwares como "Power Point". Alguns dos momentos das lutas, ponto principal deste anime, chegam a ser quase completamente retratados desta forma. Algumas imagens são reproduzidas 3 vezes segudas, em velocidades diferentes, para dar mais "impacto" ao telespectador. Outro problema, até perdoável, é que quando se muda o angulo de câmera do personagem, algumas deformações no tamanho de cabelo, roupas e larguras dos rostos não passam tão despercebidos a olhares mais atentos.
Quanto à parte sonora, mais problemas: as músicas não empolgam em momento algum e você provavelmente nem as notará na maior parte do tempo, pois se você notar, verá que ela é normalmente sempre a mesma (!). Os efeitos sonoros são extremamente simples e não adicionam nada à obra.
Outro fator bastante peculiar está no sangue dos personagens. Por se tratar de lutas entre ninjas e samurais, é óbvio que haverá sangue por todo o lado. Neste movie, entretanto, quando algum personagem é atingido, o sangue que jorra por todos os lados é BRANCO, como se eles fossem alguma espécie mutante ou alienígena dos quais corre leite pelas suas veias. Afirmar que isso foi uma forma de censura não convence, pois quando aparecem as feridas ou vaza-se sangue pela boca dos vencidos, o sangue aparece BEM vermelho. Apenas quando ele jorra em algum golpe de espada ele aparece branco, um milagre!
Vale mencionar que a produção deste movie contou com a participação de nada menos que 10 estúdios no total... Não seria nenhum exagero esperar por um resultado BEM melhor...
Havia 7 guerreiros sagrados cuja ordem era manter o selo do céu que prende o maligno deus Ankokushin Ambrosa preso em seu cativeiro. Entretanto, depois de ser traída durante uma batalha, Amakusa decide quebrar seu pacto sagrado e rompe o selo que jurou proteger. Em troca, Amakusa recebe poderes sobrenaturais e imortalidade para ajudar Ambrosa a dominar o mundo. Os outros 6 guerreiros sagrados acabam sendo mortos tentando deter Amakusa, mas eles re-encarnam depois de 100 anos com o mesmo objetivo de derrotar os terríveis planos de Ambrosa.
Em primeiro lugar, desde quando Amakusa é uma mulher?! Não se sabe por quais motivos decidiram dublar Amakusa como se ele fosse... ela (?!). Mas tudo bem, vamos ao que interessa.
A história não é nada original e tão pouco chega a empolgar em algum momento, graças a uma narrativa cheia de detalhes fúteis e até desnecessários. Pra que 6 guerreiros "sagrados" se 5 são praticamente inúteis? Haomaru, a grande estrela do anime, é o tradicional personagem grandalhão, fortão, burro, teimoso e "cabeça oca" que infesta tantas produções por este mundo afora. Um enredo fraquinho e cheio de buracos e situações forçadas, misturados a uma boa dose de humor infantil, faz o espectador sentir o conhecido gosto de "Shonen barato/caça-níqueis" logo nos primeiros momentos que iniciam o movie.
O anime perde muito tempo com pieguices e situações "chove e não molha" que o tornam mais longo e cansativo do que realmente é. Os personagens não têm nenhum carisma e são super maniqueístas. Não há nenhum aproveitamento das características psicológicas dos mesmos. Se fosse um exército de robôs do mal contra os robôs do bem, sendo o robô Haomaru o único forte e burro, daria o mesmo resultado. Apenas o sarcasmo e humor negro de Amakusa consegue algum destaque de vez em quando... (de vez em quando!!)
A título de curiosidade, o game Samurai Shodown 2 foi um grande sucesso quando lançado, mas duvido que este movie tenha cooperado para este sucesso. Um detalhe interessante é que na tela de creditos finais, os produtores decidiram usar cenas inteiras cortadas do anime como pano de fundo. Talvez avisando que o anime poderia ser muito melhor (ou pior) do que ficou.
Se você não tem nada pior para fazer do que assistir a Samurai Shodown, invente! Tenho certeza que será bem melhor.
Emanuel Silva Sena