Alternativos: Shenmue: The Movie
Ano: 2001
Diretor: Yu Suzuki
Estúdio: SEGA
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 90 min
Gênero: Ação / Aventura / Artes Marciais
Que tal criar um filme do seu jogo preferido usando seu videogame? Gostou?! Então, é bem simples: basta ligá-lo a um gravador de vídeo e jogar até o final sem errar. Ao terminar, corte as partes chatas e distribua para os seus amigos. Ou melhor, VENDA!
Produzido em 2001 (ou seria 1999?!...) pela Sega, Shenmue the Movie praticamente segue exatamente a formula simplista e descarada descrita acima. Para promover o jogo Shenmue 2, a empresa pegou a versão anterior do jogo e seguiu a minha receita para produzir um filme sobre o jogo, com a diferença de que o ”filme“ foi lançado nos cinemas japoneses e, no ocidente, como DVD brinde do jogo Shenmue 2 para o videogame Xbox.
Para quem não conhece, Shenmue foi um jogo lançado na primeira safra de jogos para o videogame Dreamcast em 1999 com a promessa de reinventar o gênero RPG. Vale notar que Shenmue foi um dos jogos mais caros da história, custando cerca de US$70 milhões e levou vários anos para ser concluído. Inicialmente, o jogo seria uma versão RPG da franquia Virtua Fighter e seria lançado para o videogame Saturn, mas o projeto todo acabou sendo sucessivamente revisto e, mesmo com parte do jogo já devidamente pronta, acabou sendo totalmente refeito e lançado com várias melhorias para o sistema sucessor ao Saturn, no caso, o Dreamcast.
Como se pode ver, a história de desenvolvimento e fabricação do jogo é bem interessante, talvez até mais interessante que o próprio filme...
Shenmue the Movie se passa em 1986 e conta a história do jovem Ryo Hazuki, que acaba assistindo o pai ser assassinado por um estranho homem em busca de um artefato místico conhecido como ”espelho do dragão“. Acho que já deu para notar que Ryo vai passar o resto do filme tentando vingar a morte do pai enquanto tenta descobrir o que há por trás do tal homem e o artefato, certo?! ^.~
Mesmo ”cortando as partes chatas“, Shenmue the Movie não é um primor de enredo. Os fatos demoram a se desenrolar, Ryo fica a maior parte do tempo indo de um lugar a outro conversando com todo mundo com informações do tipo ”procure pelo Fulano-de-Tal em Não-Sei-Aonde para saber mais“, e lutando invencivelmente contra capangas nas horas vagas. Para um jogo, a fórmula funciona muito bem, mas no filme a adaptação do jogo não convence, chegando as vezes a ficar até monótona pela certa previsibilidade do enredo. As performances dos personagens também não atingem boa margem, sendo na maioria das vezes superficiais e com pouca exploração psicológica dos mesmos. Explico: em um jogo, ninguém liga se a entonação e a gesticulação do personagem não foram convincentes o suficiente para o peso do seu papel na história, mas em um filme, sim.
Mas são nos fatores técnicos os maiores problemas...
É normal um jogo ficar visualmente obsoleto depois de alguns anos, e no caso de Shenmue, é absolutamente perdoável que os personagens se movimentem como robôs adaptados a manequins de plástico oco de loja de shopping popular; roupas ”grudadas“ nos corpos cujos amassados são eternos; perceptíveis problemas de conexão de membros corpóreos; problemas de detecção e colisão de objetos; ângulos de câmera previsíveis... enfim, tudo isso é até normal em um jogo, mas em um filme, não, e a Sega nem se deu ao trabalho de refazer ou pelo menos retocar esses detalhes, pois mesmo em 2001 essas falhas já eram consideradas bastante ultrapassadas para um filme de animação computacional.
As poucas músicas são muito boas e os efeitos sonoros também, mas também contam com problemas de edição característicos de videogame, como frases ditas enquanto a boca do personagem não está se mexendo.
Como jogo, Shenmue é realmente uma experiência muito interessante devido aos seus incontestáveis avanços técnicos e imersão do jogador ao ambiente do jogo, mas essas características não são passadas pelo filme em nenhum momento. Só faltou aparecer as telas de ”menu“, ”loading“ e a logomarca ”Dreamcast“ no começo do vídeo para ficar ainda mais descarada a preguiça dos produtores com seu produto, queimando-se totalmente com o público que. certamente. esperava algo muito mais profissional do esse trabalho corrido e mal acabado, tanto para quem deve ter pago um ingresso no Japão como para quem o ”ganhou“ junto com um jogo. Faltou polimento, respeito e comprometimento dos produtores para adaptá-lo a um bom filme de animação.
Filmes e animes promocionais normalmente são ruins por serem tradicionalmente bastante inferiores às obras das quais derivam, salvo algumas raras exceções. Shenmue the Movie abre um estranho e perturbador precedente, em que a experiência preguiçosa de ser absolutamente igual à obra da qual deriva é seu principal problema. Se você alguma vez pensou em conhecer e se interessou pelo mundo de Shenmue, esqueça este filme. Jogar no videogame certamente lhe trará muito mais momentos de prazer nas suas longas horas de jogo do que nos poucos minutos gastos por esse pseudo-filme.
Emanuel Silva Sena