sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Storm Rider – Clash of Evils (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 31/12/2009

Alternativos: Feng Yun Jue
Ano: 2008
Diretor: Dante Lam
Estúdio: Puzzle Animation Studio / Shangai Media Group
País: China
Episódios: 1
Duração: 100 min
Gênero: Luta / Drama / Artes Marciais



Storm Rider é um filme de animação chinês, dirigido por Dante Lam, como sequencia do filme live-action chamado "The Storm Riders", dirigido por Andrew Lau. De acordo com este último, Lord Conquer, líder do clã Conqueror, o maior dos clãs de artes marciais, recebe uma profecia vinda de Mud Buddha, que diz que se Conquer encontrar duas crianças chamadas Wind e Cloud, elas lhe trariam um bom futuro. O desejo de Conquer é unir todos os estilos de artes marciais, e para que seu desejo se cumpra, após ter encontrado as duas crianças, ele ordena que matem os pais dessas crianças. Wind e Cloud, buscando vingança, se tornam discípulos de Conquer e aprendem todas as habilidades e técnicas, para que mais tarde pudessem assassiná-lo.

Agora, na animação, vemos Wind e Cloud adultos, já preparados para a vingança. Wind decide que precisa liberar o sangue de Flame Kylin que possui em seu corpo, o qual fora adquirido após destruírem uma fera de mesmo nome anteriormente. Mas apenas um pode realizar esse ritual porque, nesse caso, se Wind fosse possuído, Cloud seria o único capaz de fazê-lo voltar. Após a realização do ritual, os dois conseguem enfim derrotar Conquer e, assim, estão livres de sua vingança. Porém, Wind é possuído pelo mal e, em seguida, começa uma batalha furiosa entre os dois amigos, que termina com Cloud caindo de um precipício e Wind tendo a marca da sua testa cortada pela espada de Cloud, desfazendo assim a insanidade de Wind. Cloud, sem memória, agora é encontrado por um grupo de crianças órfãs, e Wind, acreditando que seu amigo esteja morto, acorda e chega até a cidade mais próxima. Enquanto isso, Ao Jue, do extinto vilarejo Sword Worship, em busca de mais poder, decide retirar o sangue de Flame Kylin do corpo de Wind e Cloud a partir da Kylin Sword. Em contrapartida, Wind e Cloud são essenciais para o equilíbrio ou o caos no mundo das artes marciais, dependendo apenas do sucesso ou da falha (ou seja, da vida) dos dois.

Quem viu o live-action certamente sabe que esse anime é uma sequencia boa e perfeita para o acompanhamento ou complemento do enredo. Por outro lado, aqueles que nunca ouviram falar de Storm Rider certamente notarão alguns detalhes que, para quem não é muito fã do ”modo-chinês-de-contar-histórias“, soarão meio estranhos. Como exemplo desse modo, temos alguns filmes de Jet Li, como "Herói" e "O Mestre das Armas", que usam e abusam de vôos e piruetas mirabolantes e exagerados, assim como o fato dos personagens às vezes parecerem super-heróis com poderes sobrenaturais. A primeira coisa que se deve ter em mente ao assistir uma obra desse tipo é que tudo é lenda. A arte marcial chinesa nos filmes utiliza-se muito de artifícios que expressam o poder que, especificamente, o kung-fu pode ou imagina-se ter. Portanto, tendo kung-fu, deixemos os exageros à parte.


Partindo para a obra em si, nos deparamos logo no início com algo diferente ao que estamos acostumados a ver nas animações japonesas: o traço. Como dito antes, Storm Rider é um longa-metragem de animação chinesa: logo, todos os envolvidos no projeto são chineses e, logicamente, a China também tem uma maneira diferente no tocante aos aspectos técnicos. Notoriamente, o traço lembra os animes japoneses, ao mesmo tempo em que lembra certos desenhos norte-americanos.

Quanto à animação, pegando um gancho com as animações americanas, em determinados momentos há quedas de quadro, deixando a animação pouco fluida. Contudo, para o deleite daqueles que adoram lutas corpo a corpo e ”poderes especiais“ em vários momentos, vemos uma animação de cair o queixo durante as batalhas, com movimentos rápidos, ângulos de câmera inusitados e atípicos, e poucas palavras e mais ação. Há uma cena bastante curiosa também quando vemos uma ”batalha“ entre o Mestre Sem-nome e Ao Jue enquanto pescam (coisa de chinês ^^). Mesmo não sendo nas batalhas, em muitos outros momentos a animação flui bem, usando e abusando de efeitos especiais 3D nos poderes desferidos pelos personagens, assim como nos cenários e paisagens, o que foi usado de maneira muito sábia e bem-feita. Para finalizar esta parte técnica, ainda sobre o traço, temos como pontos positivos os detalhes e sombras nos personagens, assim como o próprio "character design" dos mesmos, que foram bem trabalhados, ao contrário das cores, que apesar de bem vibrantes, não condizem muito com o ambiente em que os personagens se encontram. Por exemplo, cores muito claras e fortes em lugares escuros, ou seja, mais uma vez se assemelhando com outra característica norte-americana.

Sobre os personagens, também logo de cara percebemos que vão jogando mais e mais personagens de uma vez só, e pouco se sabe sobre cada um deles, até mesmo dos próprios Wind e Cloud. Não deram tempo para que as características dos personagens fossem desenvolvidas com eficiência, o que causa uma certa confusão no início em saber quem é quem, até mesmo porque alguns nomes chineses têm uma grafia parecida. Alguns personagens poderiam dar um quê a mais ao enredo se soubéssemos mais sobre eles e se tivessem uma participação mais efetiva, como, por exemplo, o Mestre Sem Nome, Kay, Mong, que estão no enredo quase o tempo todo mas pouco fluem. Talvez, dos personagens secundários a que mais teve atenção foi a órfã Ying, que ajuda bastante Cloud na sua área emocional.

Com mais algumas palavras podemos falar da agradável sonoridade, bem colocada em todos os momentos. Sobre a dublagem, nota-se também que os chineses não são especialistas em passar emoções, fazendo as ações dos personagens parecem forçadas. Sua história não é algo novo, pois vingança, perda de memória, artefatos possuidores de alma e conquistadores do mundo são temas muito batidos há bastante tempo. O que faz esta obra ser bem diferente é o fato de ser chinesa e ter batalhas incríveis, diferentes do usual.



Storm Rider parece ser um filme hollywoodiano bastante oriental, com defeitos em proporções razoáveis, clichês constantes e qualidade gráfica magnífica em 3D e abaixo da média em 2D (para um filme). Um deleite para fãs de lutas e fãs do filme live-action de 1998, assim como algo diferente, interessante, bonito e contrastantemente fraco em enredo para os mais exigentes. Uma obra regular ao unir todas as características.


Marcos França