sexta-feira, 25 de novembro de 2016

The Melody of Oblivion (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 04/09/2009

Alternativos: Boukyaku no Senritsu
Ano: 2004
Diretor: Hiroshi Nishikiori
Estúdio: J.C. Staff
País: Japão
Episódios: 24
Duração: 24 min
Gênero: Ação / Romance / Sci-Fi



Antigamente, as fabricas de brinquedos ficavam atentas aos lançamentos de animes para ver quais tinham chances de fazer grande sucesso, e precisavam esperar isto acontecer para, então, gastar rios de dinheiro licenciando produtos dos estúdios de animação. Agora é comum o inverso. Grandes empresas de produtos de consumo criam seus próprios animes e os licenciam para serem produzidos pelos estúdios com uma estratégia mercadológica toda pronta, a fim de obterem mais certeza de lucro com algo que ”já nasce um sucesso“.

Produzido em 2004 por J.C. Staff, Melody of Oblivion é mais um anime que se encaixa nessa premissa. Projetado pela Bandai e com uma (bem) pequena participação do estúdio Gainax, a série já nasceu com a promessa sucesso, deixando todo mundo feliz: A própria Bandai, que venderia milhões de produtos licenciados; A J.C. Staff e a TV Tokyo, pela audiência gerada pelo sucesso; a Gainax que, apesar de não ter corrido um único risco, fez questão de incluí-lo no catálogo comemorativo do aniversário da empresa e se beneficiaria desse sucesso; E... ah sim! Os fãs! Como pude me esquecer... os fãs.

Bem, pois parece que todos se lembraram de tudo, menos de quem vai assistir o anime...

Melody of Oblivion conta com uma produção pobre e ultrapassada. Tantos elogios servem para definir fatos como o traço pobre dos personagens, pouco inspirado e cheio de deformações conforme os ângulos de câmera seguem; Colorido fraco e pouco atraente; Movimentação simples e de baixa qualidade geral; Design de personagens que beira o medíocre, aparentemente feito às pressas ou reciclado de algum anime anterior da casa; Efeitos especiais ineficazes, isso quando realmente há algum; Cenários genéricos... A impressão que fica é que a J.C Staff decidiu fazer um mega corte de verba em cada capítulo pois, assim, ela poderia lucrar mais com uma produção bem mais barata. Em resumo, visualmente o anime é muito medíocre em todos os aspectos e premissas das quais se propõe. Nenhum dos apelos visuais, como personagens, máquinas e objetos, alcança destaque na obra devido a sua produção notavelmente corrida e ineficaz.

No departamento sonoro, os efeitos especiais estão apenas adequados. A trilha sonora teve um bom traço de criatividade e originalidade ao ser composta por elementos eletrônicos, guitarras e violinos, com forte destaque para a envolvente música de abertura. Entretanto, durante o anime as outras músicas nele inseridas pecam por serem repetitivas e pouco trabalhadas em suas composições, o que acaba por torna-las ”genéricas demais“ na maior parte do tempo. Mais um exemplo de uma boa idéia mal executada.


Há muitos e muitos anos, a humanidade travava uma dura batalha contra os monstros. Infelizmente a humanidade perde e os monstros tomam o controle, exigindo sacrifícios humanos para si. Passados milhares de anos, a humanidade se esqueceu de tudo isto e os monstros continuaram reinando, porém de uma forma mais velada e obscura, mantendo sua dominação e seus rituais de sacrifícios enquanto as gerações atuais nem sabem da existência deles. Porém, alguns humanos sabem dessa condição e lutam pela libertação da humanidade de forma igualmente velada, representados pela linhagem dos Guerreiros Melos, que resistem até hoje pela grande libertação final.

Um mau enredo mata qualquer boa história. E aqui não foi diferente, pois ela é arrastada e repleta de situações forçadas, cheia de momentos e problemas fúteis e/ou mal desenvolvidas. O aproveitamento psicológico dos personagens é ineficaz e pouco destacado, resumidos a romances infantis, emocionalismos piegas e momentos de ”tamanho terror“ que mais parecem vindos de uma paródia. O que dizer de um ônibus ”do mal“ que anda com patas de touro no lugar das rodas e muge? *_* A série até tenta assustar, mas os problemas de execução acabam sendo muito mais assustadores do que se imagina.

Como dito anterior, o anime contou com a (pífia) participação da Gainax, e por isso não poderia ter deixado de colocar alguns fan-services. O problema é que o pessoal da J.C. Staff parece não ter muita prática ”na arte de seduzir“ e acabou criando alguns dos momentos mais constrangedores do termo. É perceptível ao expectador que a grande maioria deles foi simplesmente ”enfiada“ no meio do enredo com total amadorismo.

A pedido da Bandai, a Gainax deu inicio ao projeto e, pouco depois, o entregou para o estúdio J.C Staff, já que nessa época a empresa estava com todas as suas forças direcionadas na produção do anime Top wo Nerae 2!/DieBuster, deixando a J.C. Staff livre para fazer o que bem quisesse com o dinheiro da Bandai... O resultado foi uma das piores audiências do canal de TV e um fiasco nas vendas em DVD e produtos licenciados. O anime foi tão mal recebido que, mesmo com toda a propaganda feita em sua estréia, foi quase completamente esquecido pelo público e poucos fansubbers se animaram a traduzí-lo. Acabou sendo excluído do catálogo comemorativo dos (na época) 20 anos da Gainax em todos os eventos e materiais de divulgação posteriores.



Melody of Oblivion é pouco recomendado. Mesmo tendo um bom planejamento inicial da Bandai (que já tem ampla experiência na ”fabricação“ de sucessos), é mais um anime que tinha tudo para ser hit, mas nasceu sem cérebro...


Emanuel Silva Sena