segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Umineko no Naku Koro Ni (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 14/05/2010


Alternativos: When the Seagulls Cry, When They Cry 3, When They Cry - Umineko
Ano: 2009
Estudio: Studio DEEN
Diretor: Chiaki Kon
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 24 min
Gênero: Drama/Mistério/Terror



Umineko no Naku Koro Ni (Quando as Gaivotas Choram) se trata da nova série de "visual novels" do grupo 07th Expansion, conhecido por sua outra obra de sucesso, chamada Higurashi no Naku Koro Ni (Quando as Cigarras Choram). As "visual novels" já se encontram em seu sexto episódio (com oito no total, assim como em Higurashi), sendo que os quatro primeiros introduzem os mistérios e os últimos fornecem as respostas. Cronologicamente, Umineko se passa depois de Higurashi, porém não é uma continuação direta, tendo algumas referências aqui e ali apenas, ou seja, não é necessário ter assistido a Higurashi para entender o enredo.

O ano é 1986, no mês de outubro. Em uma ilha chamada Rokkenjima, existe a mansão da famosa e rica família Ushiromiya. O chefe da família, Kinzo Ushiromiya, se encontra muito velho e em seu leito de morte, segundo as previsões de seu médico particular. Esse fato, naturalmente, causa certo estardalhaço entre seus quatro filhos (Krauss, Eva, Rudolf e Rosa), que desejam negociar como a herança será dividida na próxima reunião anual familiar.

Assim, todos os parentes se reúnem na data marcada para a reunião com duração de dois dias na ilha de Rokkenjima, onde não apenas se encontra toda a família Ushiromiya, mas também cinco empregados de Kinzo e seu médico particular, totalizando 18 pessoas. Para fechar o encontro com chave de ouro, a previsão do tempo não está boa. Um forte furacão se aproxima dos mares japoneses, tornando a ilha completamente isolada do resto do mundo, sem nenhum meio de comunicação ou transporte.

Além disso, a ilha possui uma lenda peculiar, espalhada entre os parentes e empregados pelo próprio chefe da família, sobre a Bruxa Dourada chamada Beatrice. Essa bruxa vive no fundo da floresta e foi ela quem ofereceu uma enorme quantidade de ouro para Kinzo, na época em que a família Ushiromiya passava por uma crise financeira.

A reunião familiar logo se transforma em um verdadeiro pesadelo quando a família recebe uma misteriosa carta na mesa de jantar, assinada pela própria Beatrice, e assassinatos brutais e misteriosos começam a ocorrer. Assassinatos tão peculiares que chegam a dar a impressão que não teriam como serem realizados por um ser humano normal, mas por algo mais “sobrenatural”, como uma bruxa... Porém, Battler Ushiromiya (filho de Rudolf) não acredita em magia e muito menos em bruxas assassinas, e fará de tudo para provar que tudo pode ser explicado com truques humanos, mesmo que as coisas mais bizarras e a própria Beatrice apareçam bem na sua frente.



O enredo de Umineko segue a mesma linha de Higurashi, ou seja, dividido em arcos, porém desta vez a coisa é feita de uma maneira um pouco mais artística, com os arcos sendo encarados mais como “jogos” de xadrez entre Battler e Beatrice, onde Battler precisa provar que tudo tem uma explicação racional e a bruxa precisa se defender e mostrar que magia realmente existe. Se você não leu as visual novels, isso aqui pode parecer um pouco confuso, mas é só assistir que vai entender como funciona ;D.

A história desse anime é, no mínimo, muito bem trabalhada e até certo ponto muito criativa. Quem reclama que os animes hoje em dia estão muito repetitivos, vai se interessar muito nessa idéia de “guerra de argumentos” entre o racional e sobrenatural, com direito a muitas citações interessantes, como a “Prova do Demônio” e até o experimento do gato na caixa de Schrödinger. Até mesmo o jeito como Battler e Beatrice “discutem” merece destaque pela criatividade, um verdadeiro trunfo para a série.

Porém, nem tudo são flores em Umineko, tendo dois grandes problemas que o impedem de ganhar uma nota na casa dos 90%. O primeiro, e mais chato, é justamente detalhes da adaptação. Quem leu as "visual novels" percebe que o anime trata de certas coisas muito brevemente, o que acaba prejudicando um pouco o desenvolvimento de personagens e até o entendimento por parte de quem apenas viu o anime. Muitos detalhes são perdidos e ignorados no anime e isso é perdoável, levando em conta que o enredo das "novels" é bem grande. Porém, esses detalhes nem sempre são, de fato, descartáveis, o que chega a tirar muito a emoção de alguns “momentos-chave” da história, o que com certeza decepcionou alguns fãs (inclusive a mim).

O segundo problema, presente no próprio enredo original, é que os meios que Beatrice utiliza para convencer Battler de que mágica e bruxas existem vão aos poucos ficando muito exagerados, o que com certeza vai pegar muita gente de surpresa, já que a série começa de maneira mais realista com um toque de mistério e vai ficando cada vez mais absurda. Por sorte, a dosagem de magia mostrada no anime só tem alguns momentos de “exagero” desnecessário, com o resto sendo até interessante e muito bem utilizado.

Com relação ao visual, Umineko se destaca em relação a maioria das séries de 26 episódios atuais. O traço dos personagens é muito agradável de se olhar, além de ser estável e a série não sofrer nenhuma queda em nenhum episódio. A própria animação é muito fluida em vários momentos, e as cores são fortes e vibrantes. A expressão dos personagens ao sentirem dor ou serem mortos é estranhamente bem feita XD.

A trilha sonora também é muito boa. As músicas de abertura e encerramento (“One Winged Bird” e “la divina tragedia ~Makyoku~”, respectivamente) são ótimas. As músicas de fundo fazem seu trabalho na hora de criar o clima desejado, porém seu volume em comparação com os efeitos sonoros e falas é muito baixo. Quem leu as "visual novels" vai reconhecer muitas das ótimas músicas de fundo, porém para muitos estas vão simplesmente passar batidas devido a não conseguirem nem ouvi-las direito.



No geral, Umineko no Naku Koro Ni é um ótimo anime e merece ser visto por sua originalidade e temas interessantes, apesar de problemas de adaptação e, em certos momentos, exageros que poderiam ter sido descartados. Quem não leu as "visual novels" provavelmente não notará muitos problemas (exceto, talvez, pelo desenvolvimento de personagens prejudicado, afinal, temos mais de 18 personagens pra cuidar aqui), mas quem a viu talvez tenha aquela sensação de “falta alguma coisa aqui”. Vale lembrar que o anime só cobre os quatro primeiros jogos, logo, não espere por muitas conclusões para os mistérios, que só serão completamente respondidos em uma eventual segunda temporada.


Lucas Funchal