segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Valvrave the Liberator Season One (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animebook em 19/08/2013

Alternativos: Kakumeiki Valvrave
Ano: 2013
Diretor: Kō Matsuo
Estúdio: Sunrise
País: Japão
Episódios: 12
Duração: 24 min
Gênero: Drama / Mecha / Sci-Fi



A Sunrise, famosa pelos animes de Gundam, alguns anos atrás, resolveu deixar de lado o seu carro-chefe para criar uma propriedade intelectual baseada no que ela mais sabe fazer, que são os animes de mechas, os famosos robôs gigantes. Assim surgiu Code Geass, que teve um tratamento diferente de Gundam, fazendo cada episódio valer a pena, no lugar de ser apenas um anime para cumprir a “cota” desse tipo de animação na TV japonesa. Code Geass foi um sucesso, mas chegou ao final e muita gente pediu por mais. Acredito que a Sunrise percebeu que o estilo mecha não era coisa de nicho, apenas precisava ser melhor trabalhado, apelando para diversos públicos de uma vez (coisa que nem sempre Gundam fazia) e foi nessa carência de “mais alguma coisa no estilo Code Geass” que nasceu Valvrave The Liberator. Achei inesperado a coragem de uma produtora famosa por explorar a mesma franquia desde a década de 70 não querer repetir a dose com Code Geass, e espero que ela continue com esse pensamento.

Mesmo sendo criado para preencher uma demanda, Valvrave The liberator consegue seu diferencial usando apenas os elementos que faziam sucesso em Code Geass, como a trama política misturada com mechas, vida escolar e um pouco de fanservice.

O enredo se passa no futuro quando 70% da humanidade está vivendo no espaço, se separando em 3 facções, sendo que duas delas estão sempre em conflito, e a terceira, onde se passa a história, é neutra. As melhores partes dessa explicação do universo do anime só são dadas no terceiro episódio, usando os dois primeiros capítulos para fazer com que os espectadores se identifiquem com os personagens principais, que são clichês, mas funcionais, e inicialmente aparentam ser muito menos do que são. No meio disso vive Hahuto Tokishima, que resolve subir em um robô gigante que estava embaixo de sua escola, decidindo pilotá-lo depois que vê seu grande amor sendo morta pelo ataque de uma das facções que não respeitavam a neutralidade de seu país. A tela na cabine do robô exibe uma mensagem estranha, perguntando se o usuário concorda em abdicar de sua humanidade, e o protagonista acaba concordando sem saber do que aquilo se tratou. Logo depois ele descobre que se tornou uma espécie de vampiro, cuja mordida transfere sua consciência para o corpo da vítima, e o ato de morder fica cada vez mais difícil de controlar. O robô instala uma rotina no cérebro de Tokishima, o ensinando a pilotar e, consequentemente, possibilitando que ele defenda seu país do ataque inimigo e se torne herói nacional. Entretanto, a situação não está resolvida: o inimigo vai voltar com reforços, sendo que ainda existem 4 robôs para ativar. No meio de todo esse turbilhão, a escola decide declarar independência, e resolve ficar ali tentando segurar o ataque. Tudo isso é só nos dois primeiros episódios, sendo que tem coisas que não citei para não estragar as surpresas.


É comum em obras desse estilo existirem um monte de personagens secundários, e Valvrave não foge à regra. O que eu mais gostei nesse quesito foi tentar adivinhar quem é que vai pegar os robôs restantes, e errei quase todos os meus palpites, sendo que esse segredo é tão bem guardado que eles só aparecem ao lado de seus respectivos robôs na abertura quando o piloto já foi revelado. Essa “infinidade” de personagens contribuem para várias tramas paralelas e interessantes, aliviando ou contribuindo para o ritmo frenético das lutas.

A trama política aqui é forte, sendo que no inicio parece ser um pouco maniqueísta, mas acaba mostrando que em todas as nacionalidades existem pessoas tentando fazer coisas boas ou ruins. As estratégias de guerra, vistas em outros animes mechas da Sunrise (principalmente em Code Geass) também marcam presença, com reviravoltas totalmente inesperadas. Mesmo tendo uma seriedade nessa parte diplomática, ele quebra um pouco disso com um fanservice sensual de leve e a vida escolar daqueles garotos, que não diminui muito a obra.

Na parte visual, os mechas estão com um design muito bom, com cenas de ação bem feitas e somado a um excelente traço dos personagens. Já a parte sonora cumpre o seu papel de emocionar e empolgar quando se é necessário.

Um pouco de suspensão de descrença é necessário para acreditar que adolescentes armados apenas com pistolas podem matar um exercito inteiro, e até mesmo que batalhas entre robôs seriam necessárias em um universo no qual existem bombas atômicas, algo que pode desagradar quem está apreciando algo do estilo pela primeira vez (o que não foi o meu caso). Outras coisas que a primeira vista podem parecer forçadas, como o fato de existirem robôs gigantes embaixo de uma escola, são bem explicadas e reservam surpresas.



Uma pena que essa obra passe despercebida para muita gente, taxada como “cópia de Code Geass”, o que não é verdade, sendo diferente em vários aspectos e até melhor em outros. A produtora se esforçou em fazer algo que realmente valesse a pena assistir, impecável em vários quesitos, agradando diversos públicos e sem enrolação, uma coisa que conta muito quando se assiste episódios semanais. Afinal, muita enrolação causa aquela sensação de novela em que você pode perder um episódio e não fará nenhuma diferença, algo que ocorreu em Gundam Seed, por exemplo. Essa é apenas a primeira temporada, que terminou com um enorme gancho para uma continuação que virá em outubro de 2013. Enfim, mesmo que você não goste do gênero, esse Valvrave pode ser uma daquelas exceções.


Artur Antunes (Ghosturbo)