quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Meu Amigo Totoro (Movie)

Alternativos: Tonari no Totoro; My Neighbor Totoro; Meu Vizinho Totoro
Ano: 1988
Diretor: Hayao Miyazaki
Estúdio: Studio Ghibli
País: Japão
Duração: 86 min
Gênero: Aventura / Comédia / Sobrenatural



Uma amiga minha pediu recomendação de animações japonesas, um tempo atrás. Na lista que eu fiz eu incluía Meu Vizinho Totoro. Algumas semanas depois ela me mandou isto pelo chat do Facebook:

“-Meu Vizinho Totoro. Assisti. AGORA PQ DEUS AS PESSOAS AMA ISSO? São duas crianças que não param de correr e gritar nunca.”

Eu começo esta resenha falando do maior problema do filme. Um problema enorme, gigantesco, e que aumenta com o passar do tempo. A expectativa. É um filme tão grande, tão bem falado, tão famoso que as pessoas podem assistir e se perguntar porque todo este barulho. Porque "Meu Vizinho Totoro" é um filme simples. Recomendo até que quem já pensa em assistir o filme que o faça antes de ler esta resenha. Porque, mesmo que a resenha não tenha spoilers, eu o considero o melhor filme de animação oriental, e eu sou empolgado, e vou me rasgar de elogios a partir de agora :)

A primeira vez que assisti Tonari no Totoro, eu chorei no final do filme. Eu não choro muito com filmes ou séries, normalmente só choro com livros. Mas isto não foi o mais inusitado. Era a primeira e única vez que, após ver algo, eu chorava de felicidade.

Totoro se tornou um marco. É o símbolo do Estúdio Ghibli, o mais famoso estúdio de animação japonês. Está em todo lugar pela internet: camisas, canecas, em mashups ou sozinho. Ele foi homenageado em Toy Story 3, em Sandman, e diversos outros lugares. E é um filme de 1988, quase completando três décadas.

Antes de Totoro, Miyazaki havia dirigido três filmes. O primeiro, Lupin Cagliostro no Shiro, foi um fracasso de bilheteria, mesmo sendo parte de uma franquia famosa. Então veio Nausicaa, um filme que só não é considerado do Ghibli pelo não tão pequeno detalhe que o estúdio ainda não havia sido fundado. Muito do pessoal que trabalhou nele – inclusive a tríade Joe Hisaishi, Hayao Miyazaki e Isao Takahata – veio formar o estúdio. Que finalmente estreou com Laputa, outro sucesso enorme de bilheteria.

Estes filmes tinham muita ação. Belas e bem montadas cenas de voo. Antagonistas com pontos de vista e motivações complexas. E, com exceção de Lupin III, todos têm protagonistas femininas fortes e um mundo ostensivamente diferente e fantástico.

O Estúdio Ghibli produzia apenas filmes para cinema. Com isto, um fracasso de bilheteria poderia significar sua falência. Mas o estúdio já tinha uma fórmula de sucesso que funcionou duas vezes. O caminho fácil e sábio seria continuar trilhando o mesmo caminho.

Ao invés disso, eles fizeram dois filmes muito mais pessoais e sutis: Meu Vizinho Totoro e Túmulo dos Vagalumes. Inclusive ambos os filmes foram lançados juntos, em 1988. Você pagava o preço de um ingresso para ver ambos.


Meu Vizinho Totoro é um filme que faz crianças verem que o mundo é mágico, e faz adultos se sentirem criança. Túmulo dos Vagalumes é o filme mais triste e mais deprimente que eu consigo pensar, e eu já vi muitos filmes tristes e deprimentes. A primeira cena do filme é uma criança morrendo. É a guerra mostrada em sua faceta mais desesperadora e cruel. Até hoje eu não conheço nenhuma pessoa que assistiu Túmulo dos Vagalumes e não chorou diversas vezes durante o filme. Conheço algumas que não conseguiram continuar depois de alguns minutos.

Ambos os filmes foram um sucesso. Fico imaginando o turbilhão de emoções ao assistir um depois do outro...

Meu Vizinho Totoro conta a história de duas irmãs: Satsuki e Mei. Satsuki é a irmã mais velha e responsável, já Mei é mais nova e impulsiva. Elas se mudam com o pai para uma casa velha, de estilo misto europeu e japonês, que fica em uma região rural, perto do hospital onde a mãe delas está internada.

Em meio à rotina da família, as crianças começam a descobrir seres fantásticos. Primeiro são as fuligens, criaturas que são uma bola preta com olhinhos e perninhas (e que apareceriam novamente em A Viagem de Chihiro). Depois, duas criaturas pequenas, peludas, gordinhas e orelhudas que levam Mei até onde mora o espírito da floresta: Totoro (o nome vem da tentativa da Mei de falar a palavra “troll”).

O Totoro é uma criatura enorme, peluda, benigna e que tem alguns poderes mágicos. As meninas não conseguem acha-lo por conta própria, ele só aparece quando quer. E ele parece gostar muito delas. Eu fico com medo de falar e dar spoilers de um filme que é tão simples. Mesmo que estes spoilers sejam algo que todo fã de animação japonesa já tenha visto por aí pela internet. Mas vou dizer, de maneira vaga, que a cena do ponto de ônibus é tão delicada que dá impressão que se você olhar demais ela vai se despedaçar na sua frente.

O filme é feito com um cuidado tão grande que ele tem aquela aura boa de algo que foi feito com carinho e artesanalmente, ao invés de ser feito de maneira impessoal por um maquinário. Foi feito uma planta-baixa da casa em que as meninas vivem para que a iluminação ficasse correta. As aquarelas dos backgrounds, feitas pelo Oga Kazuo, são tão incríveis que ganharam um bluray contando a respeito de como foram feitas.

A dublagem e o comportamento das crianças são perfeitos. Quem tem contato com crianças vai reconhecer as birras, medos, alegrias, explosões. A trilha sonora, feita pelo Joe Hisaishi, é uma prova viva de porque ele tem todo este renome nos dias de hoje.

O melhor jeito de descrever a naturalidade de Meu Vizinho Totoro que consigo pensar é imaginar que é uma noite fria, e você deita debaixo de um cobertor bem quentinho e macio. No começo você percebe o cobertor, depois o conforto vai tomando conta e a sensação do cobertor desaparece, a não ser que você preste atenção nele. Meu Vizinho Totoro é assim: você começa impressionado com a arte, com o clima, mas de repente tudo isto some. Você é sugado para dentro daquele mundo, para a magia da infância, e tudo simplesmente faz sentido.

Até uma das últimas cenas do filme, que eu não posso comentar, me faz ter vontade de gritar e pular toda vez que assisto. Comportamento também exibido pela minha afilhada de 6 anos, que não fica só na vontade.



Há mais um curta que se passa no universo do filme. Mas ele só pode ser assistido no Japão, no Museu do Ghibli, e em determinados períodos do ano. Não há previsão de lançamento em DVD, Bluray ou digital.


Heider Carlos