quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Blade - A Lâmina do Imortal (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 11/03/2011

Alternativos: Blade of the Immortal; Mugen no Juunin
Ano: 2008
Diretor: Koichi Mashimo
Estúdio: Bee Train
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 25 min
Gênero: Ação


Em 2004, a Conrad lançou um mangá chamado "Mugen no Juunin" no Brasil. O título, que numa tradução seria "Habitantes do Infinito", virou "Blade of the Immortal" nos Estados Unidos e "Blade - A Lâmina do Imortal" por aqui. Era um momento complicado pros mangás. A Conrad havia tido um bom sucesso com Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco, mas já começava a mostrar problemas, como o então recente cancelamento de "Dr. Slump".

O primeiro problema foi de concorrência em bancas. Talvez na espectativa de roubar o público do recém-encerrado "Samurai X", chegaram "Vagabond", "Blade" e "Chonchu“. Todos visavam o mesmo público, eram caros pros padrões de mangás da época e serviram pra dividir o público alvo. Os volumes de Blade eram lançados e poucos meses depois estavam em promoções em bancas por R$1,00, fazendo muita gente deixar de acompanhar o lançamento e comprar só nas promoções.

Ainda assim, Blade conquistou muitos fãs. O traço é maravilhoso. Em uma mistura impecável de nanquim e lápis, o autor Hiroaki Samura fez inveja em muitos mangakás famosos. Os desenhos são menos caricatos e mais anatomicamente precisos. As cenas de lutas são bastante cinematográficas, e os personagens são profundos e sombrios, e possuem relações muito complexas entre si. Foi um dos melhores "gekigás" publicados por estas bandas, e é realmente uma pena estar em um hiato tão longo.

Como Blade sempre fez mais sucesso fora do Japão que no país de origem, o anúncio do anime foi uma boa surpresa. O estúdio Bee Train foi o responsável pela adaptação. Não foi possível manter o traço como no mangá, mas os personagens ficaram fiéis e a colorização muito bem feita. Além disso, o anime conseguiu diferenciar mais as mulheres, muito parecidas no mangá, e falha reconhecida pelo autor.

O maior receio era em relação a censura. Blade tem muita violência, e o estilo mais realista deixa tudo ainda mais chocante. Felizmente a adaptação foi fiel, com todo o sangue, desmembramentos e tudo mais que quem leu o mangá está acostumado.


O personagem principal se chama Manji. Ele é conhecido como o "matador de cem homens". É um personagem sarcástico e irônico, faceta que ficou mais escondida no anime. É facilmente reconhecido pelas cicatrizes no rosto e pelo grande número de armas que carrega. Manji teve vermes implantados no corpo que garantem a imortalidade. Embora não consigam regenerar membros perdidos e o portador possa ser morto de certas maneiras, os vermes conseguem regenerar a grande maioria de cortes e ferimentos, inclusive danos no cérebro e coração.

Manji usa um símbolo parecido com a suástica nazista nas costas, mas com as pontas viradas no sentido anti-horário. Este símbolo é bem mais antigo que o Nazismo, e no Japão significa prosperidade ou eternidade.

Rin Asano é descendente de uma família de samurais. Teve a família morta por Anotsu, antigo discípulo de seu avô. Suas habilidades com armas são fracas, mas ela possui muita força de vontade. Contrata Manji para servir de guarda-costas e ajudar na sua vingança.

Kagehisa Anotsu é o antagonista da série. Foi treinado pelo avô, um homem amargurado. Quando cresceu, criou a Itto Ryu, um grupo paramilitar formado pelos mais exímios espadachins do Japão. A Itto Ryu foi formada como uma resposta à decadência do poderio dos samurais que, em função do período de paz e prosperidade, foram ficando cada vez mais pacíficos e deixando os treinamentos de lado. Anotsu é um lider carismático e um lutador poderoso.

Dos personagens importantes da Itto Ryu, é bom destacar o ninja Taito Magatsu. Taito tem um profundo desgosto por qualquer membro do governo, e usa o terreno e armadilhas pra obter vantagens em combate. Ele tem uma relação complexa com Manji, que vai do ódio à camaradagem.

O Japão de "Mugen no Juunin" possui muitos anacronismos. São comuns vestimentas punks, comportamentos modernos e muitos outros detalhes como, por exemplo, uma presença grande do catolicismo. A animação vai de mediana a fraca. Muitas cenas paradas ou mais simples. Mas a beleza do traço consegue deixar o visual final atraente. O mangá tem cenas de ação mais cinematográficas que foram passadas pro anime com eficiência, mas ainda assim sem muita movimentação nem fluidez. A trilha sonora é razoável. Tem seus momentos, mas não chega a se destacar. Os efeitos sonoros também não se destacam, embora não decepcionem.

A principal qualidade de "Mugen no Ruunin" é a subversão. O anime brinca com as noções de honra dos samurais em um mundo violento dominado pela força. As motivações dos personagens são fortes, mas o maniqueísmo passou longe, o que faz com que os personagens secundários tenham grande carisma.



Infelizmente o anime termina muito rápido. Os treze episódios servem pra apresentar os personagens, mas não foram o bastante para colocar a história no eixo. Fica uma forte impressão de que a animação é um "demo" de algo que poderia ter sido feito.

Pelo menos não fizeram um final alternativo como em Claymore. A história em aberto não só deixa margem como exige uma continuação. "Mugen no Juunin" tem potencial, mas tambem tem os grandes defeitos de ser curto demais e não mostrar a que veio.

Heider Carlos