segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Chaos;HEAd (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 31/03/2009


Ano: 2008
Diretor: Takaaki Ishiyama
Estúdio: Madhouse
País: Japão
Episódios: 12
Duração: 27 min
Gênero: Drama / Sci-Fi / Mistério



Nas mãos de alguém que realmente compreende a complexidade e capacidade da mente humana, uma história pode se tornar um verdadeiro suspense intrincado e surreal, onde a incerteza e a expectativa imperam. Já nas mãos de alguém não tão qualificado, se torna apenas uma tentativa de “complexificar” uma história que, em sua essência, é bem simples. Infelizmente, esse foi o caso de Chaos;Head.

Baseado na Visual Novel para PC de mesmo nome, produzida pelo grupo “Nitro Plus”, Chaos;Head conta a história de um estudante otaku e hikikomori (uma pessoa que praticamente vive dentro do quarto) chamado Takumi Nishijou. Esse cara realmente está no fundo do poço, sendo um dos personagens mais patéticos que já se viu em um anime, vivendo uma vida enclausurada dentro de sua moradia (que, no caso, é uma espécie de contêiner de apenas um cômodo no alto de um prédio), apenas jogando games online ou vendo animes no computador. Ele chega até mesmo a ter um cronograma para ter o mínimo de presença na escola e não repetir o ano por muitas faltas.

Devido a sua vida reclusa, Takumi começa a ter alucinações, chegando até a imaginar Seira (uma personagem de algum anime) como sua esposa, conversando com ela freqüentemente e perguntando seus conselhos sobre o quê deveria fazer em várias situações.

Um dia, logo após uma partida de MMORPG, Takumi se encontra conversando com “Grim”, um jogador que o estava acompanhando, em uma sala de chat. Conversa vai, conversa vem e Grim acaba informando Takumi sobre os recentes acontecimentos macabros que têm ocorrido em Shibuya (um famoso bairro de Tokyo), chamados pela mídia de “New Generation Cases”. Estes acontecimentos incluem o suicídio de um grupo de estudantes pulando do alto de uma torre e o cadáver de um homem com um feto inserido nas estranhas (este último é popularmente conhecido como “Homem Grávido”).

A princípio, Takumi não se importa com isso, até que alguém denominado “Shogun” entra no chat e passa um misterioso link para uma foto. Ao clicar nele, o garoto vê a imagem de um corpo completamente estancado a uma parede de um beco escuro.

Mais tarde, após passar o tempo em uma lan-house depois da escola, Takumi ouve sons de algo se “pregando” no caminho de volta para casa. Ao procurar a causa, se depara com o mesmo corpo estancado da mesma maneira que na foto, com uma garota ao seu lado, segurando estacas e coberta de sangue. Takumi apenas corre horrorizado e, mesmo fazendo de tudo para tentar se enclausurar novamente em sua vida solitária, vai aos poucos sendo envolvido em uma enorme conspiração.


O que é real ou ilusão? Seria a linha que separa os dois tão nítida quanto parece ser? É realmente possível comprovar que o que você vê, sente e acha é verdadeiramente real? Está iniciada a trama de Chaos;Head.

Com um início como esse, eu tinha quase certeza que estava prestes a ver um anime realmente inteligente e interessante (mesmo com as estranhas imagens de garotas usando espadas sobrenaturais na abertura), mas passou longe disso.

Acontece que Chaos;Head na verdade junta uma gama de idéias muito interessantes, mas que não foram bem utilizadas e organizadas durante seu desenvolvimento. Em certos episódios, somos bombardeados com longas explicações sobre a percepção de ilusão e realidade, a capacidade de se converter uma a outra, taxa gravitacional e tudo mais, mas a impressão que se tem é que tudo isso esta lá apenas para justificar garotas balançando espadas aqui e ali. É como você ter uma idéia simples e depois ir tentar arrumar um argumento convincente para não dizer que algo é mágico ou sobrenatural.

Outra coisa que vale comentar é que, mesmo começando de maneira interessante, Chaos;Head de repente se transforma de um suspense policial a uma espécie de “shounen sci-fi”, perdendo muita credibilidade no enredo.

Quanto aos personagens, só posso dizer que Takumi é o único que parece ter sido planejado e bem trabalhado, enquanto os outros (a maioria garotas, fazendo que esse anime também possa ser classificado como “harém”) são todos estereotipados. Temos a garota que adora o protagonista sem um motivo muito convincente para isso, a garota que é excessivamente animada e “kawaii”, a caladona, a durona, a frágil, o vilão sarcástico e sádico, o detetive desarrumado, e por aí vai. As garotas principais chegam até a ter um passado, este sempre envolvendo alguma seqüela emocional, mas não é bem apresentado, chegando a parecer que está lá apenas para dar a impressão que elas não são tão estereotipadas assim. Talvez com um pouco mais de episódios e melhor desenvolvimento de personagens, estes problemas psicológicos fossem mais convincentes.

Mesmo com um estúdio de peso como a Madhouse a cargo da animação, Chaos;Head faz feio nesse quesito. Em alguns momentos (raros, infelizmente) a animação está muito bem feita e movimentada, enquanto em outros ela está básica e com os traços dos personagens muito irregulares e feios.

A trilha sonora é um dos bons aspectos de Chaos;Head, com destaque para a abertura F.D.D (Kanako Ito) e as ótimas músicas de fundo, capazes de criar o clima desejado quando necessário (apesar de as imagens não terem o mesmo efeito).

A finalização é, como já era de se esperar, fraca e clichê, mesmo o clímax do anime sendo satisfatoriamente interessante.



Chaos;Head poderia ter sido um ótimo thriller policial de conteúdo científico e filosófico convincente se tivesse sido melhor organizado e desenvolvido. Quem sabe poderia até se tornar um shounen decente se tirássemos toda a explicação do porquê dos poderes e das espadas existirem, com maior foco em lutas e tudo o mais. Infelizmente, não conseguiu ser nenhum dos dois, o que é uma pena, pois realmente possuía o potencial para ser um anime a se lembrar.


Lucas Funchal