Alternativos: Cosmo Warrior Zero
Ano: 2001
Diretor: Kazuyoshi Yokota
Estúdio: Enoki Films
País: Japão
Episódios: 13
Duração: 30 min
Gênero: Ação / Aventura / Sci-Fi
A série de TV StarTrek fez muito sucesso quando lançada no ocidente, assim como o universo espacial de Leiji Matsumoto fez no Oriente... Espera, espera!! Que tal juntar as duas coisas, no que deve dar?!
Produzido por Enoki Films, CosmoWarrior Zero é uma série que apresenta novas aventuras aos espectadores no universo de Capitão Harlock, Queen Emeraldas e Maetel através de um novo personagem na trama, o Capitão Zero e sua tripulação na nave Kariu.
CosmoWarrior Zero nos remete a uma época em que as máquinas venceram a eterna guerra contra os humanos, entretanto, devido a acordos de paz entre as duas partes, os humanos podem sobreviver de alguma forma frente ao império mecânico. Nesse contexto, o Capitão Zero, cuja família recentemente foi totalmente perdida em um covarde ataque das máquinas à Terra, é convocado para uma perigosa missão de capturar e prender o temido Capitão Harlock, que estaria por trás dos ataques, planejando colocar em risco o acordo de paz com as máquinas. Mesmo sem conseguir acreditar nisso, Zero parte com sua tripulação rumo ao desconhecido em busca de respostas e, claro, cumprir sua missão.
Apesar das excelentes músicas de abertura e encerramento (recomendo ouvi-las mesmo que você nunca veja o anime) docemente orquestradas e com vocais leves e preciosos no encerramento, de modo geral, a trilha sonora do anime é muito genérica, com arranjos pouco inspirados e que são fáceis de esquecer. Não há nenhum momento musical realmente marcante em toda a série.
Já na parte visual a coisa se torna mais complexa; A qualidade de animação é realmente ruim, com poucos quadros de animação e que constantemente caem de qualidade, com momentos beirando uma “apresentação de slides”. Os personagens, mesmo levando em consideração o estilo particular de Leiji Matsumoto, contam com uma arte muito genérica. O próprio Capitão Zero parece uma cópia descarada de Harlock com um casaco amarelo, e só. Tudo também é bastante colorido, especialmente os personagens, mas não houve um cuidado com sombreamento e iluminação, estragando todo o apelo visual do anime; Há alguns efeitos visuais de computador, mas são fracos e muitas vezes não servem para melhorar o aspecto do anime, apenas para fazer algo que “seria mais difícil com um lápis”, isso quando não são utilizados com total amadorismo e preguiça, revelando erros grosseiros típicos de “meu primeiro vídeo de escola”.
Mas espere, o que tudo isso tem a ver com StarTrek? Vamos lá.
Grande parte do roteiro e do script dos capítulos se resume a interatividade dos tripulante principais da nave de Zero dentro da sala de comando, e depois de pouco tempo, fica impossível o espectador não se lembrar ou perceber as fortes influências da série americana impregnadas nele. Não espere ver os mesmos estereótipos aqui, pois nesse detalhe tomaram o cuidado de criar seus próprios personagens.
Por falar em personagens, alguns deles são mal aproveitados e têm exploração psicológica muito rasa, passando o anime inteiro sem que nenhuma evolução seja sentida nos mesmos; A impressão que se tem é que o roteirista não sabia lidar com tantos personagens e simplesmente atirou eles ali para completar os lugares da nave em volta de Zero, que apesar do merecido destaque, parece não combinar com a atmosfera de sua equipe.
O mote da série é o relacionamento entre humanos e máquinas. A nave Kariu, do comandante Zero, é um exemplo para as outras confederações de que pode haver, sim, paz entre povos tão diferentes, já que sua tripulação é composta de ambos. Alguns problemas relacionados a essa convivência nem sempre agradável e harmoniosa são constantemente abordados na série, porém, de forma muito superfícial. A sensação é de que eles poderiam ter ido muito mais fundo num problema tão comum na história humana (convivência de povos com culturas totalmente distintas no mesmo espaço): entretanto, o tema não avança fundo, se juntando apenas a “mais um dos desafios” enfrentados pelos tripulantes.
Outro ponto complicado é uma certa infantilização da linguagem, pois há momentos em que os personagens adoram comentar e repetir tudo o que estão fazendo ou não e porquê, cansando o espectador com textos que poderiam ser substituídos por algo mais construtívo. A menos que o espectador não se encante de vontade de saber o que vai acontecer com os personagens, fica difícil acompanhar a série, que às vezes parece ficar enrolando com situações isoladas ou “monstro do dia” até finalmente engrenar, o que demora relativamente a acontecer.
Além disso, logo no primeiro capítulo, já somos apresentados ao vilão e seus planos contra o Capitão Zero, o que gera um anti-climax que contamina o roteiro já nada criativo... Preciso dizer que o final, por mais emocionante que seja, é totalmente óbvio? As poucas reviravoltas e surpresas que acontecem na série não têm força o bastante para impedir que o espectador acabe por perceber como a história vai acabar, independente do que aconteça.
Harlock, Emeraldas, Tochiro e Maetel aparecem como “estrelas convidadas” em determinados capítulos. Algo interessante de se notar é que, se esses personagens fossem removidos de CosmoWarrior Zero com seus respectívos vestígios, não ia sobrar nada do anime, pois o carisma deles é que dá alguma credibilidade ao anime que, por sí só, não tem capacidade alguma de alcançar o mesmo status. Uma pena, ainda mais levando em consideração todo o legado que esses personagens carregam na memória dos fãs e admiradores.
Eu poderia resumir CosmoWarrior Zero em apenas uma palavra: infantil. Considerá-lo um anime infantil é o melhor que se pode dizer dele, pois se a proposta do anime não for essa, então a situação dele piora ainda mais. Não é um anime capaz de entrar no hall da fama dos piores de todos os tempos, longe disso, mas o excesso de problemas e mediocridade com que a equipe de produção tratou o anime é revoltante. Afinal de contas, o que se espera de um anime que reúne personagens com nomes tão poderosos e cultuados da animação oriental numa mesma trama? Quem já assistiu outras grandes obras do legado de Leiji Matsumoto com certeza vai entender do que eu estou falando...
Emanuel Silva Sena