segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Fullmetal Alchemist: Brotherhood (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 17/02/2012

Alternativos: Hagane no Renkinjutsushi: Fullmetal Alchemist
Ano: 2009
Diretor: Yasuhiro Irie
Estúdio: BONES
País: Japão
Episódios: 64
Duração: 24 min
Gênero: Aventura / Comédia / Drama



Alguns desavisados podem pensar que “Fullmetal Alchemist Brotherhood” é uma continuação da cultuada série de 2003, chamada somente de“Fullmetal Alchemist”, mas não é bem assim. Na verdade os dois animes são baseados no mesmo mangá. Porém, quando a primeira série foi realizada, o mangá ainda estava em publicação e o roteiro do anime, da metade para frente, foi algo totalmente diferente, já que o mangá estava longe de acabar. Os fãs, vendo o rumo diferente e interessante da obra quadrinística, fizeram “barulho” e pediram tanto um novo anime baseado no mangá que quando a autora disse que ele estava na reta final, o estúdio Bones não perdeu tempo, pediu o roteiro dos capítulos finais do mangá e fizeram esta série de 64 episódios.

A história do anime envolve alquimia de um jeito totalmente novo. Enquanto outras obras anteriores simplesmente retratavam alquimistas como pessoas que criam ouro e conseguem a vida eterna, está obra foi além. A alquimia é retratada como uma ciência de destruição, entendimento e reconstrução da matéria, que pode ser usada em lutas, como por exemplo, modelar o chão para virar um punho gigante de pedra de acertar o inimigo, criar reações químicas como fogo e explosões ou, simplesmente, destruir a estrutura molecular do corpo, criando um grande buraco no oponente. Neste mundo vivem os irmãos Elric que, quando pequenos, já demonstravam um tremendo talento para alquimia. Quando a mãe deles morreu, resolveram quebrar o maior tabu desta ciência, que é criar ou reviver vidas humanas, e como a alquimia é baseada em uma lei da troca equivalente (para criar algo, você deve dar algo em troca de mesmo valor, lei que não é usada somente na alquimia mas, também, na vida dos personagens) e eles não deram o suficiente para realizar a troca, o irmão mais novo, Alphonse, perdeu o corpo inteiro, e o mais velho perdeu uma perna. Dando o braço, o irmão mais velho, Edward, consegue passar a alma do irmão para uma armadura. Assim, Edward ganha duas próteses mecânicas, e Alphonse, um corpo imortal em forma de armadura vazia. Tendo em vista os seus erros, eles vão atrás de um modo de recuperar seus corpos, de um jeito que não quebre as leis da alquimia e que não os leve a cometer outro erro. Por isso Edward entra para o exército e ganha o nome de guerra “FullMetal”, ou “de aço” na versão brasileira.


Diferente da antiga versão do anime, este é muito mais alegre e menos sombrio, partindo mais para o lado da ação e até mesmo comédia, o que dá um certo equilíbrio. Porém, é notável que algumas cenas dramáticas perderam todo o impacto visto na obra anterior ou no mangá, tudo em prol do equilíbrio.

Um grande problema de Brotherhood é o começo. Como o antigo anime já tinha contado várias coisas do começo, eles resolveram correr com a história, deixando para desenvolver melhor os personagens depois que a animação entrasse na parte inédita, pulando sagas inteiras e acontecimentos importantes que são contados de forma breve. Mas quem agüentar essa parte, vai entrar em um dos melhores animes de pancadaria dos últimos tempos. Como o original era um mangá mensal, percebe-se que o roteiro é mais bem pensado que outras animações japonesas grandes e semanais. Mas não espere que esse anime seja algo muito adulto, já que em se tratando de um shounen (obra direcionada para garotos adolescente), romances são superficiais e sempre tem que ter uma porrada, embora as lutas fujam do clichê de serem intermináveis ou sem motivo.

As atitudes de quase todos os mocinhos chegam a ser irritantes de tão imaturas, como o fato de eles não quererem matar mesmo em situações de extremo risco de vida e estresse. A obra quis dar um bom exemplo para os jovens, mostrando que a guerra é ruim e que matar é errado, mas não colou em diversas situações. Os protagonistas às vezes parecem santos que não percebem que têm que fazer o que têm que fazer e pronto, embora a crítica a guerra seja bem interessante, tirando esse fato.

Guerra, política e preconceito são assuntos bem debatidos no anime, algo ousado para uma animação que tem como público-alvo pessoas jovens e que faz um bom contra balanço com as porradarias, tendo suas partes mais cerebrais e não sendo mais um anime em que o inimigo é simplesmente aquele cara forte. Pois ele pode ser o quão forte ele quiser: se estiver sozinho, ele não consegue nada. Por isso a política entra na trama, juntamente com a guerra, que leva ao preconceito, pois quem perde a guerra, além de sofrer as conseqüências materiais, é sempre perseguido.

A trilha sonora dá o tom na ação e sabe se encaixar em momentos tristes também. Um destaque para as aberturas e encerramentos, com músicas muito bem escolhidas.



O final cumpre o papel, mas não será algo que ficará marcado na memória. É um anime muito bom, mas poderia ter sido melhor se não quisesse passar lição de moral. Vai agradar e muito a quem gosta desses animes de luta que tenha algo mais do que só pessoas saindo na porrada, mas quem procura algo mais complexo e dramático, não vai gostar tanto dessa animação, e para esses, eu recomendo a obra de 2003, que é mais profunda. Como esse final é o mesmo do mangá, nota-se que os mistérios são muito melhor explicados e fazem mais sentido. No final das contas, serão poucas as pessoas que odiarão esse anime, que tenta agradar vários gostos e consegue, mas haverá aqueles que acharão o anime legal, mas nem tanto, principalmente se comparado à obra de 2003.

PS.: Eu não fiz uma comparação entre essa obra e o mangá ou o anime de 2003, porque ela foi feita também para pessoas que, antes de assistir a esse anime, nunca se interessaram em ler ou assistir as obras anteriores. Muita gente acha esse anime perfeito porque complementa as outras obras, mas como obra separada, principalmente no começo, ele deixa a desejar.


Artur Antunes (Ghosturbo)