segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Tsukuyomi -Moon Phase- (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 22/01/2006

Ano: 2004
Diretor: Akiyuki Shinbo
Estúdio: SHAFT
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 24 min
Gênero: Comédia / Romance



É muito provável que você, caro leitor, já tenha percebido que cozinhar é uma fina arte. Existe uma diferença abissal entre a comida de um "chef" francês, que cobra o seu salário de um ano por menos da metade do que você considera uma refeição decente, a comida da sua mãe e a comida da cantineira da escola que prende o cabelo com uma rede e serve a comida com uma concha de feijão lavada pela ultima vez em... bem, você entendeu.

Então, onde eu quero chegar com essa conversa? Simples: cozinhar é uma arte, assim como é a animação japonesa, uma arte. E, como toda arte, é um trabalho refinado e criativo. E assim como esquentar comida no microondas não é o mesmo que cozinhar de verdade, empilhar elementos que isoladamente são muito legais (vampiros, meninas fofinhas com orelhinhas de gato, ação e ocultismo) não garante necessriamente que teremos um bom anime. Grandes animes não se fazem no microondas, como Tsukuyomi Moon Phase deixa claríssimo.

Nekomimi mode.
Castelo de Schwartz Quelle, coração da Floresta Negra - Alemanha.

Uma equipe de uma revista japonesa de ocultismo (respectivamente a repórter, o fotógrafo e o sensitivo "in chief" da expedição) se dirige ao castelo abandonado há séculos. Tirando fotografias do Castelo, Morioka Kouhei acaba vendo uma lindíssima menina sentada sobre o telhado do castelo, o que simplesmente não faz o menor sentido devido ao simples fato de que castelos abandonados são... bem... abandonados.

No dia seguinte, Kouhei adentra o castelo, onde ele conhece a tal graciosa e mística menina, que se apresenta graciosamente como Hazuki... e, ao mesmo tempo, como Luna. A garota pede que ele ajude a libertá-la do castelo e, em troca, oferece um beijo. O beijo, na verdade, é uma mordida no pescoço. Hazuki é uma vampira.

O ato deveria transformar Kouhei em seu eterno servo mas, estranhamente, isso não acontece.

Após muita confusão, correria, explosões e magia, mesmo sem ser servo da garota, Kouhei a liberta do castelo e, quando volta para o Japão, acaba levando a reboque a pequena vampirinha. Eventualmente outros vampiros, a mando do senhor dos vampiros (pai de Hazuki), virão para buscar Hazuki e levá-la de volta ao castelo, enquanto a menina-vampira espera que a sua mãe venha buscá-la para viverem felizes para sempre, e essa é a trama básica do anime.

Uma vez explicado o que acontece, vamos então falar sobre o mais importante: como as coisas acontecem. Como é, afinal, esse tal de Tsukuyomi: Moon Phase?

Bem, a animação em si é tecnicamente perfeita e lembra em muito a excelência técnica obtida em Soultaker. Nada a reclamar sobre esse ponto. Apesar das músicas de encerramento serem deveras chatinhas (todos os 4 encerramentos) e as aberturas serem a definição perfeita de "non-sense" (todas as duas aberturas), a trilha sonora durante os episódios é realmente magnífica. Tsukuyomi: Moon Phase é um deleite para seus olhos e ouvidos, e, cá entre nós, isso é alguma coisa.


Personagens... hmm, personagens...

Hazuki é uma garotinha de 12 anos, e "kawaii" é a palavra de ordem aqui. Ou, melhor dizendo, talvez a palavra fosse Nekomimi... mas, afinal, o que diabos é Nekomimi? Nekomimi pode ser descrito como uma inexplicável atração por orelhas de gato. Sem explicação alguma, essa é uma constante na série, e raro é o momento em que você não vê alguém usando uma tiara com orelhinhas de gato. Orelhas à parte, a menina vampira é chatinha, mimada, egoísta e sua voz dói no ouvido. Contra-balanceando por outro lado, a mascotinha da série, a avatar Haiji, é tão fofinha e tem uma voz tão meiga que quase vale a pena assistir só por causa dela (magnífico trabalho de dublagem de Vanilla Yamazaki).

No entanto, existe outra personalidade dentro de Hazuki: a triste, calada e fria Luna. É realmente uma pena que Luna apareça tão pouco, principalmente porque, ao contrário de Hazuki, ela fala baixinho, quase murmurando (sua audição vai agradecer, acredite). A tristeza dela a torna realmente adorável e passa todo o peso do que é ser uma criatura amaldiçoada. Pena mesmo que ela "apareça" tão pouco.

Além de Luna, temos como protagonista Kouhei, fotografo de 20 anos. Pouco há para ser dito dele pois, caso você já tenha assistido anime alguma vez na vida, já conhece o tipo: cabeça dura, determinado, bom moço, burro e tudo mais que você sabe sobre os Keitarous, Keis e demais protagonistas criados estereotipadamente para buscar identificação com o publico japonês.

Temos também como personagens de destaque o avô de Kouhei, que é basicamente um "avô de anime". Sabe o avô do Tenchi? Ou então o avô da Rei (Sailor Mars)? Ou qualquer outro estereótipo de avô que você já tenha visto até hoje? Pois é, exatamente isso. Ou então a chefe de Kouhei, a perserverante cabeça-oca... enfim, clichês, clichês por todos os lados...

Todos os personagens são bem desenvolvidos (dentro da base estereotipada na maior parte das vezes) e, mais adiante, o "cast" fica mais rico com personagens como a "jovenzíssima" noiva do garoto e as vampiras Elfried e Arts. Em qualquer outro anime um tanto mais consistente, estas seriam personagens a serem lembradas por gerações.

Mas então, Tsukuyomi... possui uma arte de encher os olhos, personagens bem desenvolvidos e alguns bastante interessantes, vampiros e meninas "kawaii"... como poderia dar errado?

Agora chegamos ao ponto em que começou esse texto: não basta simplesmente "socar" elementos consagrados dentro de 26 episódios e esperar o sucesso bater à sua porta. Trabalhar com arte é um tanto mais complicado...

Se formos contar apenas a parte relevante do anime, tudo poderia ser contado em 6 OVAs tranqüilamente sem que se perdesse absolutamente nada. Entretanto, são longos e cansativos 26 episódios... Miojo esquentado no microondas será sempre miojo esquentado no microondas...

O anime não só tem como protagonista uma fútil menina de 12 anos, assim como parece que o roteiro entre o "plot" básico foi preenchido por uma. A futilidade impera e certamente 70% dos episódios poderiam ser cortados sem fazer falta alguma. Não é má vontade minha, embora pareça: para se ter uma idéia, meio episódio é dedicado à "luta" de Hazuki contra dois corvos que roubaram o lanche dela. Sim, exatamente isso que você leu, sendo que vários minutos dessa "luta" consiste de Hazuki ficar parada para ocultar a sua presença...

Eu poderia citar vários outros momentos em que você pensa seriamente (e muito mais devem ter pensado os japoneses que assistiam ao anime às 2:00 da manhã): "por que eu estou perdendo meu tempo assistindo isso". Se você gravou os episódios de Sakura Card Captors, agora é a hora de tirar do armario e assistí-los ao invés de Tsukuyomi... : estará fazendo um grande negócio...



No fundo, isso tudo é uma pena, porque nos outros 30% em que o anime se presta a falar sobre alguma coisa (principalmente nos ultimos episódios e nas cenas de combate), o diretor Akiyuki Shinbo consegue tirar leite de pedra e transformar uma animação fraca e chatinha em um anime bom (não ótimo nem excelente, apenas bom). Verdade seja dita, o trabalho do diretor é muito bom, tendo em vista o material fraco que lhe foi entregue. As tomadas são muito bem feitas, elementos non-sense se encontram por toda parte (como as bacias que a toda hora caem do teto, mesmo nos momentos mais sérios, e o microfone e holofotes do "estúdio" que aparecem em algumas cenas, como se o anime fosse uma série filmada), tornando a experiência um pouco menos maçante.

Vampiros, usualmente, são legais.
Garotas com orelhinhas de gato também.
Mas nem juntando esses dois Tsukuyomi... consegue ser uma experiência marcante.
Chatinho, "kawaii" e, em (bem) poucos momentos, interessante.


Cilon Mello