Ano: 2010
Diretor: Yuu Kou
Estúdio: Studio DEEN
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 24 min
Gênero: Esporte / Seinen
O East Tokyo United (ETU) é um clube da primeira divisão da liga japonesa que há alguns anos vem sofrendo inúmeras derrotas e na última liga escapou por pouco do rebaixamento. O time já foi uma das sensações da liga há alguns anos atrás, mas hoje está perto da falência. Tatsumi Takeshi foi um dos astros do passado desse time. Agora ele é treinador de um time inglês das categorias de base. Seus métodos diferentes e eficazes fazem o time crescer e se tornar vitorioso. Um olheiro do ETU e antigo amigo de Tatsumi observa pessoalmente os seus feitos e decide que a última esperança do ETU é depositar confiança nesse novo treinador, já que todos os outros fracassaram.
Animações japonesas de futebol não são fáceis de agradar de maneira convincente. Tanto é que, pelo menos aqui, o único representante das animações de futebol mais conhecido é Captain Tsubasa. Pelo menos na época da extinta Manchete se via considerável sucesso entre a massa mais jovem, já que qualquer anime, ainda por cima de futebol, era pura novidade. Existem muitos outros do gênero futebolístico como Soccer Fever, Whistle!, Hungry Heart, mas não havia muita coisa que agradasse um fã de futebol mais adulto, nem muita substancia ou sequer uma animação mais próxima da realidade.
Giant Killing é o que mais se aproxima do contrário dos animes citados acima. Consegue agradar em tamanho maior os fãs de futebol, existe conteúdo e tem uma animação muito bem feita, além de traços mais adultos. Os lances enquanto os jogadores estão com a bola fluem de uma maneira inédita, e que por sinal é a maneira como sempre deveria ser. Cada passe, drible, chute ou defesa são mostrados com muito dinamismo, e não de maneira robótica. A velocidade, a força e agilidade são bem enfatizadas em cada movimento devido ao bom tratamento e ao bom uso dos quadros de animação, assim como o uso da grama soltando do piso enquanto o jogador se movimenta. Há outros efeitos interessantes que contribuem para dramatizar certas cenas, como usar desfoque de movimento enquanto o jogador corre, ou colocar um fundo branco em cenas de câmera lenta ou de tensão. Mudanças na coloração da imagem e câmera “tremida” dão um charme a mais.
Masaya Tsunamoto foi muito feliz ao escrever o enredo de Giant Killing. Percebe-se um excelente tratamento na personalidade dos jogadores e na atenção que foi dada a cada um. Existem alguns personagens icônicos no time como Murakoshi o experiente capitão; Tsubaki, o menino prodígio super veloz; o jovem atacante Sera; o criador de jogadas Gino; dentre outros. Todos eles tem alguma particularidade e momentos próprios no anime. Nenhum personagem fica para trás, nenhum foi abandonado do enredo. O melhor é que nada é tão fantasioso ou mirabolante. Os jogadores não são seres de outro planeta com habilidades monstruosas (e a bola continua mantendo sua forma redondinha após os chutes). Apesar de haver bastante falatório durante o jogo entre os próprios jogadores ou em seus próprios pensamentos e muitos acharem isso inadmissível, é bom saber que sem esse bate-papo não estaríamos assistindo a uma história contada, e sim vendo um jogo como qualquer outro da realidade. É importante saber separar um anime de futebol de um jogo de futebol. E só para garantir, Giant Killing é a animação de futebol mais aceitável já produzida.
O anime trata de forma profunda o psicológico dos jogadores, todos com baixa auto-estima , que nem conseguem jogar bem em grupo nem mostrar suas próprias habilidade individuais. O time é uma verdadeira mistura de bons jogadores com características distintas e que se completam. A chegada do jovem técnico de 35 anos não tem o efeito que vemos em outras obras, como um treinador modelo em que todos respeitam, admiram e que já tem fórmulas prontas. Tatsumi tem atitudes nem um pouco dignas de um técnico e poucos entendem os seus objetivos, justamente por ser diferente. É nessa diferença que ele consegue usar o lado psicológico tanto do seu próprio time quanto do time adversário. O legal é que cada jogador tem uma personalidade bem definida e cada um reage de uma maneira bem realista às situações impostas por Tatsumi, como a timidez e falta de auto-confiança de Tsubaki e a agressividade e desrespeito de Kuroda. É um verdadeiro jogo psicológico que, aliado à grande movimentação dentro de campo e à bem aplicada sonoridade (inclusive da torcida gritando “ETU, ETU”), faz com que cada episódio seja empolgante, vibrante. As músicas realmente combinam com os acontecimentos.
E mais uma vez os japoneses resolvem prestar homenagem ao futebol tupiniquim. Um dos times da liga tem três jogadores brasileiros: Pepe, Carlos e Zelberto (uma adaptação para Zé Roberto?). As habilidades condizem e o futebol brasileiro é sempre visto como mágico, assim como sem compromisso (apesar de que sair do estádio poucos minutos antes do jogo começar pra fazer umas “comprinhas” é demais). Mas o problema não reside nesse detalhe, mas sim na dublagem. Com um sotaque arrastado do interior do sudeste e pouca expressão e sensibilidade quanto às emoções dos jogadores (dois são dublados por ele, o outro parecer ser mudo...) esse pode ser considerado o maior defeito do anime, pelo menos para o público brasileiro. Chega a ser muito irritante, ainda mais porque algumas vezes a dublagem brasileira é executada simultaneamente com a japonesa! Isso não é só para os brasileiros. A dublagem alemã, a holandesa, a francesa e a inglesa também sofrem com isso, além do sotaque estranho. Melhor seria se falassem só o japonês mesmo, seria até mais fácil. Provavelmente resolveram colocar vozes estrangeiras para deixar a obra ainda mais realista, mas faltou um pouco mais de capricho (ou de dinheiro pra contratar dubladores mais profissionais).
Talvez esse seja o único empecilho realmente grande. O anime também não conta o fim da história, já que nos quadrinhos a história ainda segue. Mas se o espectador for alguém fã de anime, que consegue ver de uma forma crítica, e que gosta conscientemente de futebol, certamente apreciará a animação de bom grado e verá que o final tem um sentido conclusivo, afinal a função de Tatsumi é “Derrubar Gigantes” e esse termo é confirmado na própria conclusão da série animada. Portanto, a partir de agora sempre que um time pequeno vencer um time grande de maneira honrosa, mesmo que seja por um breve momento, vamos lembrar de um time promissor e resiliente chamado East Tokyo United e de um anime de futebol que vai ficar na história.
NOTA: Giant Killing conseguiu o 1º lugar no Kodansha Manga Award (um prêmio anual de mangás promovido pela editora Kodansha) na categoria geral de mangás. Algo meio raro para animes esportivos.
Marcos França