sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Inazuma Eleven (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 24/12/2010

Alternativos: Super Onze
Ano: 2008
Diretor: Katsuhito Akiyama
Estúdio: OLM
País: Japão
Episódios: 127
Duração: 25 min
Gênero: Esporte



Para quem gosta e admira, uma partida de futebol é certamente um evento muito emocionante. Se uma partida normal de campeonato já é bastante intensa, imagine adicionar jogadores com poderes especiais, técnicas paranormais, magia, tecnologias extraterrestres e um monte de alienígenas ameaçadores no campo. Agora ficou interessante não é?!

Produzido em 2008 por Oriental Light & Magic (OLM), Inazuma Eleven é uma série baseada na franquia de jogos eletrônicos criada pela Level-5 para o sistema Nintendo DS, com outros desdobramentos como mangá, anime, e planos para um “card-game” e conversões para outros sistemas de videogame; O jogo trata-se de um “RPG-Soccer”, em que elementos de RPG se misturam à partidas de futebol, e foi muito bem recebido pelo público.

Mas vamos falar do anime...

Inazuma Eleven é um anime que conta com uma produção técnica excelente: Cores vivas e bem dimensionadas; efeitos de sombreamento e iluminação destacados e bem resolvidos; boa quantidade de quadros de animação; utilização de vários ângulos de câmera; relativa baixa quantidade de sequências animadas recicladas; ótimo nível de detalhamento de cenários e elementos de segundo plano; traço geral limpo e bonito que não se distorce conforme a mudança dos ângulos de câmera; e constância na qualidade geral do anime do início ao fim.

Outra característica técnica são os efeitos especiais em 3D, com excelente renderização, ótimo detalhamento e utilização de iluminação e cores, de tal forma que conseguem se integrar a toda a parte bidimensional do anime perfeitamente, valorizando o apelo visual enormemente feito pela OLM.

A parte sonora também não deixa a desejar, com efeitos sonoros e dublagem adequados e bem integrados, assim como a maior parte das (poucas) músicas contidas no anime – dado que retomarei mais tarde.

Quanto ao design de personagens, há alguns altos e baixos, algo já esperado em um anime com tantos personagens. Enquanto alguns emanam originalidade ou certa beleza artística, outros parecem ter sido inventados na última hora, ou tirados da lata do lixo após serem corretamente atirados lá. Outros são imitações claras de personagens famosos, e alguns não se decidem entre o risível e o ridículo. Mas a grande frustração mesmo é com os personagens extraterrestres. Não espere por tentáculos ou meia dezena de olhos, mas sim pessoas normais (!) vestidas da forma mais insana e carnavalesca possível, com no máximo um par de lentes de contato. Alguns deles até conseguem ser bastante criativos e interessantes, mas para o que se espera de um alienígena, eles são, no máximo, seguidores do estilo “cyber-punk” ao extremo e nada mais. Mais tarde o anime explica o porquê dos alienígenas se parecerem mais com seres humanos do que com... alienígenas ^_^. Mas até lá, isso não deixa de ser frustrante.

Inazuma Eleven conta a história do time de futebol do colégio Raimon, tendo como protagonista principal o goleiro e capitão do time Mamoru Endo. Depois de vencerem um importante campeonato estadual, a Terra é invadida por terríveis alienígenas jogadores de futebol (!?) que pretendem dominar o mundo vencendo todas as partidas que disputarem, e cabe a Endo e sua equipe aprimorarem ao máximo seu time e suas técnicas para derrotá-los e mostrar a todos o verdadeiro sentido do futebol.

Apesar do tema fantasticamente bizarro e relativamente ousado, ele ajuda em muito no contexto do anime, visto que ele se oxigena com ideias novas e curiosas em relação ao que se pode esperar de um anime esportivo. Mas o grande brilho deste certamente está no seu enredo, que consegue aproveitar-se muito bem das situações e motivações criadas e mantém um ritmo vivaz e atrativo ao espectador, além de uma série de pequenas reviravoltas que acontecem no seu decorrer. O ritmo da série segue muito bem durante praticamente toda a a sua duração – dado que também retomarei mais tarde.


A exploração psicológica dos personagens também merece destaque, visto que o roteiro consegue trabalhar de forma eficaz com uma enxurrada de personagens coadjuvantes do time principal. A tática dos produtores normalmente é trabalhar com grupos de personagens, isto é, os roteiros normalmente trabalham com 2 ou 3 personagens em média por cena ou evento, ao invés de trabalhá-los individualmente, o que garante uma melhor exposição geral e evita que algum deles fique visivelmente condenado ao escanteio.

Mas nem tudo é “golaço” em Inazuma Eleven. Mesmo com um sistema de aproveitamento de personagens plausível, alguns personagens realmente se destacam demais, como aqueles que sempre aparecem com alguma técnica nova ou aprimorada enquanto (todos) os demais ficam do início ao fim com a mesma coisa. Quanto aos personagens dos times rivais, não há nenhum trabalho psicológico, apenas os respectivos capitães dos times parecem ter importância no enredo, algo perdoável, visto que não quebra a harmonia da série. Algumas questões e segredos ficam sem explicação no final da série, tal como se nunca tivessem existido.

Algumas curiosidades se reservam às versões internacionalizadas do anime, como na França e na Espanha, em que praticamente todos os personagens e elementos mudaram completamente de nome. No Brasil, as mudanças foram menos agressivas, mudando apenas o nome de alguns personagens e elementos.

Entretanto, a mudança mais discutível (ou irritante) na versão brasileira talvez seja a sua música de abertura. Inazuma Eleven conta com 5 temas de abertura e encerramento, mas a empresa que adaptou o formato para o Brasil decidiu utilizar apenas 1 música como abertura e ignorar as de encerramento para exibição na TV. Até aí tudo bem, o problema é que a música escolhida foi dublada de forma extremamente irritante, com uma tentativa bastante frustrada de imitar um estilo parecido com “rap” com frases (quase) rimadas ditas em alta velocidade com uma voz em tonalidade aguda. O que deveria ser um cartão de visitas se transforma numa total abominação capaz de afugentar possíveis interessados.

Mas o grande problema mesmo está no final da partida.

A primeira temporada de Inazuma Eleven tem 78 episódios divididos em 4 períodos temáticos - os chamados “arcos”, em que o tema da história muda completamente de direção – que seguem muito bem e prendem a atenção do espectador, com a exceção do último período. Muitos bons personagens são sumariamente cortados e substituídos por outros sem nenhum carisma, quebrando completamente a harmonia entre os personagens, sensação que se reflete no enredo, que agora parece se arrastar com acontecimentos que demoram muito a acontecer ou situações enfadonhas que duram capítulos inteiros; Os 3 primeiros períodos temáticos são tão bem atrelados uns aos outros que conseguem se suceder cirurgicamente, culminando num belo final que praticamente encerra toda a série. Este último “arco” parece totalmente deslocado, pois além dos erros já citados, peca por não conseguir dar continuidade à história com a mesma qualidade. Fica visível que ele existe apenas para atrair a atenção do público para a temporada seguinte, não só pelo contexto mas também pela sua curtíssima duração.

Outro problema é com relação ao final, que nada mais é do que uma introdução à segunda temporada do anime – por isso mencionei que a série termina no final do 3° “arco”. Seria bem mais plausível se a OLM tivesse deixado esse último período temático para fazer parte da temporada posterior, pois esta falha em se adequar ao contexto da primeira temporada, mas se encaixa perfeitamente no contexto da segunda – como já mencionado.



Apesar desse erro de planejamento um tanto amador, Inazuma Eleven consegue se sobressair positivamente como um excelente anime. Mesmo seu último período colocado erroneamente na primeira temporada não é capaz de estragar a experiência prazerosa da assistir a toda a série. Inazuma Eleven é definitivamente um anime muito recomendado a se assistir.

Até o fechamento desta resenha, a segunda temporada ainda estava em exibição no Japão.


Emanuel Silva Sena