segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Mirai Nikki (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animebook em 21/06/2013


Alternativos: The Future Diary
Ano: 2011
Estúdio: Asread
Diretor: Naoto Hosoda
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 24 minutos
Gênero: Ação / Drama / Suspense



O que mais me impressiona no mundo dos animes e mangás é o aparente talento dos japoneses em serem extremamente criativos para com suas histórias. Ideias que a princípio parecem ser bobas ou nada apelativas conseguem ser representadas de maneira instigante e se desenvolvem em uma história frequentemente inteligente e com temas centrais muito adultos. Imaginem se alguém aqui no Brasil comentasse que teve uma ideia sobre uma história que gira em torno de um caderno que mata, por exemplo. Talvez ninguém levasse tal ideia muito a sério, nem mesmo imaginaria que essa premissa possui o potencial para se tornar um thriller policial de sucesso.

O caso de Mirai Nikki (Diário do Futuro) é um tanto quanto similar. Possui uma premissa que, se você for explicar para um amigo não muito acostumado com o universo anime/mangá, pode acabar não sendo levado muito a sério. E é isso que realmente me fisga: como esse tipo de ideia pode se desenrolar em uma história tão interessante e inteligente?

Yukiteru Amano é um jovem muito solitário. Não possui praticamente nenhum amigo e vê a si mesmo como sendo apenas um “observador” daquilo que acontece ao seu redor, sempre evitando qualquer tipo de relacionamento com outras pessoas. Sua solidão é tanta que chega até a criar personagens imaginários com os quais conversa frequentemente: Deus Ex Machina, que diz ser o deus do tempo e espaço, e sua ajudante, Murumuru.

Yukiteru tem o hábito de escrever um diário com o seu celular, narrando tudo o que ocorre a sua volta, e um dia Deus lhe faz uma proposta: participar de um jogo criado por ele, utilizando seu celular. Acreditando que tudo não passa de uma ilusão criada por sua mente, Yukiteru concorda sem muita cerimônia, entregando seu celular a tal da divindade imaginária e o recebendo de volta “preparado”. No dia seguinte, Yukiteru começa a ter o inbox de seu celular bombardeado por mensagens que parecem estar descrevendo o que acontecerá no futuro. Ao testar tal artifício, percebe que as previsões são realmente precisas e que pode tomar vantagem disso.

É claro que a paz dura pouco, e após alguns acontecimentos, Yukiteru finalmente entende que Deus Ex Machina não é uma alucinação e que o jogo ao qual concordou participar é bem mais complicado do que imaginava: é um jogo onde ele e mais 11 portadores de diários do futuro com diferentes “funções” (leia-se, maneiras de se prever o futuro) devem matar uns aos outros para que o sobrevivente ganhe o posto de novo deus do tempo e espaço.

Por sorte, Yukiteru não está sozinho nesta enrascada. Sua colega de classe linda e inteligente, Yuno Gasai, também é uma portadora e se revela como sendo sua stalker, possuindo uma obsessão gigantesca por ele que estava escondida até então, e ela fará de tudo para proteger seu amado até o fim.


E assim se inicia o interessantíssimo jogo de sobrevivência de Mirai Nikki, onde todos os 12 portadores devem descobrir as identidades uns dos outros, formar alianças e arquitetar traições. Em meio a isso tudo, temos uma gama de personagens carismáticos (inclusive os mais secundários) cujas ações se entrelaçam entre si e formam uma verdadeira história de suspense regada de reviravoltas.

O elenco aqui é relativamente grande, e é muito agradável notar que a grande maioria dos personagens é bem explorada. Muitos deles são realmente marcantes, possuem motivações realistas e construção de personalidade muito bem feita, enquanto outros nem tanto ou quase nada. Yuno Gasai, por exemplo, rouba todos os holofotes do anime para ela, sendo uma das personagens mais insanas, ambíguas, problemáticas e cativantes que já vi nos últimos tempos. A portadora terrorista Uryu Minenne também não faz feio, se tornando cada vez mais humana e carismática com o decorrer dos episódios, sendo que a sua primeira aparição não parece ser nada promissora. Outro integrante do elenco que também merece uma “menção honrosa” é Akise Aru. Esse cara é importantíssimo para a história e se consolida com sendo um dos personagens mais incríveis do anime.

O enredo tem uma boa dose de complexidade, mudanças de pontos de vista, sub-tramas que se ligam a história principal e muitas, mas MUITAS reviravoltas. É impressionante a quantidade de revelações e cliff-hangers (quando um episódio acaba já criando expectativas para o próximo) que essa série possui. Personagens que são bons ficam maus, maus se tornam bons, alianças dão certo e errado, traições a afiliações inesperadas, etc. É criada uma verdadeira rede de intrigas que sempre se renova e mantém a série constantemente interessante.

No entanto, nem tudo são flores no enredo de Mirai Nikki. Em alguns segmentos, especialmente em sua segunda metade, surgem muitas coincidências e situações exageradas, o que acaba puxando um pouco a história para baixo. Não é nada que realmente estrague o anime de maneira nenhuma, mas o seu andamento mais ou menos “pé no chão” com toques de sobrenaturalidade tem alguns picos de “personagens overpower com habilidades absurdas” e coisas do tipo.

O visual de Mirai Nikki é agradável e por vezes muito fluido e bem animado, especialmente durante as cenas em que Yuno corta braços, pescoços e estômagos com seu arsenal de machados e facas (sim, o anime tem doses cavalares de violência aqui e ali), além das cenas de ação em geral, no entanto não é muito estável no decorrer da série, com esporádicas e visíveis decaídas. Ás vezes os personagens se tornam menos detalhados ou mesmo desproporcionais de uma cena para outra, o que mostra uma relativa falta de atenção por parte do time de animação.

A trilha sonora possui músicas de fundo muito chamativas e sempre presentes, criando climas de tensão e alívio cômico quando necessário, sem nunca deixar a peteca cair, tendo um caráter mais eletrônico no geral. As aberturas e encerramentos são viciantes, com destaque para “Dead END” (segunda abertura) e “Blood teller” (primeiro encerramento), ambos feitos por Faylan.



No fim das contas, Mirai Nikki é uma agradável surpresa. Mesclando vários elementos como romance, comédia e suspense, este anime é um thriller relativamente complexo e muito bem estruturado, satisfação garantida para quem gosta de histórias que envolvem vários personagens, mortes, ação e, principalmente, MUITAS surpresas ao longo do enredo. Apesar de sua finalização um tanto quanto decepcionante (o anime conseguiu deixar o final ainda mais sem graça do que no mangá), Mirai Nikki é um ótimo anime baseado em uma premissa no mínimo inusitada e que certamente merece uma conferida.


Lucas Funchal