segunda-feira, 7 de novembro de 2016

King of Thorn (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 17/02/2012


Alternativos: Ibara no Ou
Ano: 2009
Estúdio: Sunrise
Diretor: Kazuyoshi Katayama
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 100 minutos
Gênero: Drama / Sci-Fi / Terror



“King of Thorn” é um longa metragem produzido pelo famoso estúdio Sunrise (Gundam, Code Geass) e baseado no mangá seinen de mesmo nome. Apesar de o mangá ser um sucesso de crítica no Japão, o filme tomou certas liberdades com a história, além de compactá-la (já que o mangá tem um total de seis volumes), resultando em um pacote muito diferente do original. Em 2015, o mundo se encontra em crise.

Uma doença popularmente conhecida como “Medusa” está causando um número de mortes incalculável ao transformar os infectados em pedra. A taxa de fatalidades é de 100%, sem nenhuma cura prevista. Em meio a esse enorme problema, a compania farmacêutica “Venus Gate” cria um novo programa de tratamento chamado de “Cold Sleep”, que consiste em escolher 160 pessoas infectadas aleatoriamente ao redor do mundo para induzi-las a um sono criogênico em seu centro de pesquisa, até que uma eventual cura seja descoberta. É aí que somos apresentados a uma das escolhidas para o experimento, a japonesa Kasumi Ishiki, uma garota traumatizada devido a problemas familiares que se separa de sua querida irmã gêmea, Shizuku, devido ao experimento. As coisas se complicam quando Kasumi acorda do estado criogênico, junto aos outros 160 pacientes, e percebe que todo o laboratório está coberto de raízes espinhosas e monstros medonhos e hostis.

Básicamente, King of Thorn é um “survival horror” clássico, onde somos apresentados a um grupo pequeno de pessoas tentando sobreviver a perigos violentos dentro de um ambiente claustrofóbico, ao mesmo tempo em que vão descobrindo a resposta para os mistérios propostos pelo enredo. Acrescente uma boa dose de pseudo-intelectualismo, personagens não muito memoráveis e alguns clichês do gênero, e temos um filme que tenta ao máximo propor temas filosóficos e inteligentes, mas que no fim vira apenas uma mistura de gêneros forçada e não tão original.


Uma história desse tipo, mesmo sendo muito comum nos dias de hoje, pode sempre se safar com um enredo interessante ou, principalmente, personagens carismáticos. Porém, em King of Thorn, nenhum dos personagens realmente apela para as emoções do espectador, resultando em um bando de gente com as quais você não se importa realmente. Elas correm, atiram e morrem, e nenhum desses momentos causa algum impacto relevante. Os únicos personagens que conseguem se destacar um pouco, apesar de ainda caírem em certos arquétipos desse estilo (garota indefesa; garotinho que, por alguma razão, não fica abalado ao ver pessoas morrerem violentamente na sua frente; militar durão de coração mole, etc.) são a protagonista Kasumi e Marco Owen. O resto não chega a ser horrível, porém não são memoráveis nem originais, apenas bons o suficiente para que a história continue a andar.

Quanto ao enredo em si, ele atira vários temas supostamente inteligentes ao espectador de uma maneira tão rápida e forçada que chega a ser difícil tentar levar aquilo a sério. A possibilidade de tornar sonhos em realidade, alienígenas, menções religiosas e muitas referências ao clássico conto de fadas “A Bela Adormecida” constituem uma parte importante do enredo, porém nada é realmente bem apresentado, ou seja, a impressão que se tem é que tentaram incluir uma mensagem profunda em uma história que não causa o impacto emocional necessário pra que os temas em questão sejam considerados por quem assiste.

Mas, para ser justo, King of Thorn tem seus momentos. Lá para o final do filme, temos algumas reviravoltas interessantes, o impacto emocional começa a aparecer (mesmo que não seja lá essas coisas) e as pontas soltas do enredo começam a se amarrar de uma maneira em que tudo faz sentido, apesar de forçado. Praticamente nenhuma parte do longa-metragem é descartável, e este faz questão de mostrar que aquelas cenas rápidas no começo e meio do filme eram dicas do seu desfecho.

Quanto à parte técnica, King of Thorn tem uma ótima animação por parte da Sunrise, porém peca na utilização de efeitos computadorizados. Todos os monstros que aparecem no filme são retratados em CG, sem o mínimo de esforço para integrá-lo à animação e, como se isso não bastasse, os personagens também. Toda a vez que um monstro aparece para persegui-los, estes também são retratados em modelos “cell-shading” em 3D, fazendo com que a experiência seja inconsistente. Afinal, é uma decisão no mínimo idiota ficar transitando entre animação em 2D de qualidade e bonecos com movimentações meio duras em 3D.

A trilha sonora é muito bem feita e sempre presente durante o filme inteiro. Músicas de fundo orquestradas e até certo ponto grudentas combinam com o clima de cada cena, além de um bom encerramento durante os créditos. Pelo menos nessa parte, o filme acertou em cheio.



Devido à boa reputação do mangá de Yuji Iwahara, é fácil perceber que o longa-metragem de King of Thorn compactou e alterou muito a história original. Você vê o potencial do enredo que nunca se desenvolve devidamente e, ao invés de ser uma história interessante e diferente, se torna apenas um monte de pseudo-intelectualismo não convincente aliado a cenas de violência e personagens desinteressantes. É um entretenimento decente durante 1 hora e 40 minutos, mas não vai deixar nada na memória nem atiçar a mente de quem assiste para seus temas filosóficos e complexos.


Lucas Funchal