segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Persona -Trinity Soul- (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 30/08/2008


Ano: 2008
Diretor: Jun Matsumoto
Estúdio: A-1 Pictures / Aniplex
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 24 min
Gênero: Drama / Mistério



”Persona -Trinity Soul-” se trata de uma ”continuação direta“ do aclamado RPG para Playstation 2 ”Shin Megami Tensei: Persona 3“, tendo sua cronologia 10 anos após os acontecimentos do jogo. Apesar de ser considerado uma continuação, as ligações entre Trinity Soul e Persona 3 são bem sutis e não tão importantes, não sendo necessário algum entendimento do jogo para compreender a história.

O palco é a cidade de Ayanagi, um município perto do litoral japonês que sofreu uma terrível calamidade dez anos atrás devido à chamada ”Síndrome da Apatia“ e um terrível terremoto. Os irmãos Shin e Jun Kanzato resolvem voltar para a cidade onde nasceram depois de exatos dez anos longe dela (se mudaram após os terríveis acontecimentos que chegaram até a matar seus pais).

Planejando voltar a morar na casa onde viveram sua infância e, atualmente, onde vive o mais velho irmão da família e chefe da polícia de Ayanagi, Ryou Kanzato, os garotos partem de avião para a cidade, porém nem encontram seu irmão esperando no aeroporto ao chegarem.

Quando os três irmãos Kanzato finalmente conseguem se reunir sobre o mesmo teto, Shin e Jun não recebem a recepção calorosa que esperavam de Ryou após dez longos anos separados. Ele parece ter se tornado uma pessoa fria e trata os irmãos como se nem se importasse com eles, chegando até a rejeitá-los e dizendo que não deveriam estar lá.

Apesar de Shin e Jun fazerem de tudo para tentar se aproximar do irmão, Ryou teima em sempre tentar afastá-los como se quisesse que desistissem de morar em Ayanagi.

Mas isso não é tudo. Ayanagi está cheia de problemas e mistérios a serem resolvidos, como os casos de assassinato em que o corpo da vítima é encontrado ao avesso (chamado de pela polícia de caso ”Reverse“) ou uma estranha brincadeira entre os alunos da escola de Ayanagi, chamada de ”Tirar a Sombra“, que chega até a fazer alunos desmaiarem ou morrerem no pior dos casos.

Devido a várias circunstâncias e impasses, Shin acaba se envolvendo com os estranhos acontecimentos e acordando um ser espectral dentro de si, capaz de lutar por ele. Mais tarde, o garoto descobre que o nome deste ser é ”Persona“.

Naquele momento, Shin nunca poderia ter imaginado que ele, seus irmãos e até colegas de escola iriam se envolver em um enorme turbilhão de acontecimentos ligados à tragédia de dez anos atrás, quando um grupo de pessoas resolveu iniciar experimentos que afetariam o destino de muitas outras.


Apesar do conceito de Personas (seres espectrais que lutam pelo seu ”dono“), Trinity Soul não é um anime recheado de ação e lutas mas, sim, um suspense intrincado que vai mostrando a que veio aos poucos durante os episódios. É lógico que temos os combates entre Personas para temperar a série com um pouco de ação, mas esse não é nem de longe o principal atrativo do anime (como é possível perceber à medida que o enredo avança, com vários episódios que não contêm nem ao menos uma luta), portanto se você estiver procurando algo mais focado na ação em si, pode passar longe.

É interessante notar como algo que poderia facilmente virar um anime comercial não desviou de sua proposta em momento algum, sabendo intercalar momentos de tensão com seqüências não agitadas e situações dramáticas.

Como é típico da série de jogos, podemos esperar por vários dramas psicológicos e um clima certas vezes tranqüilo, outras dramático e um tanto sombrio. Quase todos os personagens têm seu próprio passado e angústias, além de um desenvolvimento de caráter durante a série muito bem trabalhado, sendo possível perceber como cada um deles muda do começo da série para seu fim.

Visualmente, Trinity Soul é muito bem feito, com um uso de animação e efeitos computadorizados bem combinados e sem muitos exageros, além de um traço agradável e não tão estilizado como a maioria que vemos por aí. As lutas entre os Personas são de longe as seqüências mais bem feitas, com criaturas bem singulares (cada Persona, tanto no anime como nos jogos, é única e criativa) e levemente transparentes que se mexem com movimentos detalhados. Porém, é possível perceber alguns slowdowns ao longo da série, com um uso de cenas meio estáticas aqui e ali, além de certas ”falhas“ no traço (mas nada que estrague o pacote visual como um todo).

Quanto à trilha sonora, ela cumpre muito bem seu papel, apesar de não chamar tanto a atenção. Pode se dizer que ela está acima da média, mas não tão acima =). As músicas ”Word of Voice“ (Flow) e ”Found Me“ (Yumi Kawamura) expressam muito bem a mensagem que o anime tenta passar. A trilha sonora também traz uma espécie de bônus para quem já jogou Persona 3, com algumas músicas do game que aparecem discretamente durante a série, que podem variar desde músicas "ambiente de restaurantes e lojas" até algo que está tocando no rádio.

Porém, nem tudo são flores em Trinity Soul. Apesar de sua história ser muito interessante, existem certos momentos em que os episódios são tão maçantes que chegam a irritar o espectador, com algumas seqüências de diálogos bem grandes a fim de explicar certo detalhe da história que poderia ter sido abordado de maneira bem mais dinâmica.

Outro problema relativamente grave é que, quando a série vai chegando ao seu final, a história vai ficando cada vez mais interessante e bem planejada, mas tudo isso quase vai pelo ralo no último episódio. Não que este seja ruim (na verdade, é de longe um dos melhores de todo o anime), mas sim demasiado corrido, estragando um pouco aquele momento em que o espectador deveria pensar consigo mesmo ”Nossa, que f**a!“.

Apesar das falhas que o impedem de atingir uma nota na casa dos 90 % (por muito pouco), Trinity Soul ainda é um ótimo anime tanto para quem jogou Persona 3 quanto para os que nunca tiveram contanto com o game (já que as ligações entre os dois são bem sutis, portanto não espere nada muito focado nesse aspecto).



Com uma história que critica o modo como vivemos e lidamos com situações difíceis, fugindo da realidade e escondendo nossa própria individualidade, além de um ótimo trabalho técnico, Trinity Soul tem tudo para atrair quem está mais interessado em obras de maior conteúdo do que apenas um show de fogos de artifício. 


Lucas Funchal