segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Psycho-Pass (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animebook em 15/12/2013


Ano: 2012
Diretor: Katsuyuki Motohiro
Estúdio: Production I.G.
País: Japão
Episódios: 22
Duração: 24 min
Gênero: Drama / Sci-Fi



Gen Urobochi (roteirista de Mahou Shoujo Madoka Magica e escritor do livro original de Fate/Zero) parece ter tido uma boa temporada no que toca a suas produções criativas no universo dos animes. Depois do grande sucesso de Madoka, eles no entregou no final do ano passado a série “Psycho-Pass” e, logo na temporada inicial de 2013, “Suisei No Gargantia”. Enquanto Gargantia seguia uma linha mais leve e slice-of-life, Psycho-Pass claramente segue a linha de enredo mais tradicional de Urobochi: uma história sombria, psicológica e violenta.

A premissa é relativamente clichê: Em um futuro não tão distante, o Japão foi capaz de criar um sistema perfeito e imparcial para a organização social, o chamado Sistema Sibyl. Esse sistema é capaz de instantaneamente quantificar e classificar a psique de um indivíduo através de um padrão de medição chamado de “psycho-pass”. Através disso, tal sistema consegue definir qual deve ser a sua área de atuação na sociedade desde a infância, além de também conseguir julgar suas tendências a criminalidade, caso existam. Se uma pessoa tiver um psycho-pass muito “nublado”, por exemplo, é logo classificada como uma criminosa latente e imediatamente encaminhada para terapia ou, nos casos mais severos, clínicas (que mais parecem prisões) especializadas em reabilitar pessoas para que se tornam membros produtivos da sociedade.

Sendo assim, o mantimento da lei é levado muito a sério neste novo cenário social, e é aí que entra o Departamento de Segurança Pública, que utiliza dos chamados “Coatores” (pessoas classificadas como criminosas latentes sem chances de cura) para realizar missões perigosas afim de evitar que políciais “de bem” não tenham sua psique afetada pelo trabalho. Os Coatores são controlados pelos “Inspetores” para que não haja nenhum risco de traição.

É nesse cenário que a jovem policial Akane Tsunemori entra para o Departamento de Segurança Pública. Apesar de ser novata, já é designada para a função de inspetora devido a falta de pessoal, e assim adentra na realidade daqueles que lutam contra o crime neste Japão futurista, conhecendo assim o Coator de poucas palavras e instintos investigativos sem igual Shinya Kougami.

A princípio, os primeiros episódios de Psycho-Pass se focam em casos criminais isolados entre si, de forma similar a conhecidas séries de tv policiais como Criminal Minds ou CSI, mas aos poucos uma conexão entre cada caso é encontrada e a história desenvolve um arco principal que toma total conta do enredo mais ou menos em sua metade. Os casos iniciais em si variam um pouco em sua qualidade: alguns são realmente interessantes e horrendos, enquanto outros são simplesmente sem sal e passam mensagens e críticas óbvias a como essa sociedade nova, apesar de estável, é claramente opressora e valorizadora do distanciamento entre os indivíduos.

O enredo engrena de vez ao final de sua primeira metade, quando somos introduzidos a um dos vilões mais interessantes, carismáticos, pragmáticos e sem piedade que já vi faz um bom tempo: Shougo Makishima. Desde a primeira cena do primeiro episódio, esse cara já passa a impressão de ser cruel e distorcido, e a descontrução de sua personalidade por parte dos integrantes do Departamento de Segurança Pública (especialmente Shinya) é facilmente um dos pontos fortes da série. Suas constantes citações de George Orwell (1984) e Jonathan Swift (As Viagens De Gulliver) como forma de crítica a essa sociedade controladora e alienadora são sempre curiosas.


Falando nos integrantes do Depto., é que aqui que se encontra um dos maiores pecados do anime: fora Shinya, Akane e talvez Ginoza, nenhum dos outros personagens do que seria esse elenco principal é particularmente interessante ou marcante. A grande maioria age de acordo com seus arquétipos de personalidade pré-definidos e é só. Não é algo particularmente ruim, mas sem dúvida contribui para a monotonia de alguns episódios e é um potêncial disperdiçado em uma história que se vende através de seus temas de caráter socio e psicológicos.

Pelo menos os dois protagonistas, Akane e Shinya, tem uma boa dinâmica e a maneira como um se vê naturalmente interessado e influenciado pelo outro é natural e bem planejado. Apesar de ter nascido neste tipo de sociedade, o fato de Akane ser umas das poucas exceções em que o sistema lhe deu um leque de opções variadas, além de seu psycho-pass ser impossível de se nublar, fez com que ela se tornasse uma pessoa pacifista, gentil e crente na bondade e capacidade dos humanos de se redimirem e crescerem. Já Shinya possui uma visão bem mais pessimista e sarcástica da sociedade, acreditando na justiça com as próprias mãos e sentindo prazer com a adrenalina de seu ofício, mesmo com seu coração no lugar certo. Os embates de ideais entre eles são sempre bem trabalhados e não passam a impressão de serem forçados, geralmente com Akane aos poucos se desiludindo e amadurecendo ao longo do enredo.

A parte tecnica do anime peca em alguns quesitos, a começar pelo visual. Existe uma clara falta de estabilidade na qualidade de animação de episódio para episódio. No melhor dos casos, a animação está a par do mínimo que se espera de produções atuais, nos piores os personagens estão simplesmente horríveis, com penteados, pernas e braços desproporcionais, olhos esbugalhados ou vesgos e fluídez de movimento quase nula. É algo que realmente te distrai da experiência como um todo. Além disso, a direção geral de arte pode ser descrita como sem graça. Tudo é muito cinza e preto o tempo inteiro e não passa uma boa sensação de um Japão futurista e distópico. Talvez essa fosse a intenção tendo em vista os argumentos que o enredo propõe, mas não deixa de ser chato de olhar.

A trilha sonora possui temas de abertura e encerramento legais e memoráveis (o encerramento “Namae No Nai Kaibutsu” é excepcionalmente agradável aos ouvidos), mas as músicas de fundo são totalmente esquecíveis e apenas cumprem o seu trabalho de definir o tom das cenas sem tirar nem por.



Psycho-Pass é um anime que vale a pena ser assistido, mas não chega a se denvolver em algo que possa ser classificado acima da média. É uma boa história com um vilão altamente memorável, mas nada mais que isso. O final do anime é relativamente aberto, e já foi anunciada uma segunda temporada, então pode ser que essa série consiga se superar em um futuro próximo.


Lucas Funchal