sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Speed Grapher (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 31/12/2008

Ano: 2005
Diretor: Kunihisa Sugishima
Estúdio: Gonzo
País: Japão
Episódios: 24
Duração: 23 min
Gênero: Ação / Drama



Tatsumi Saiga é um ex-fotógrafo de campo de batalha, e tudo se inicia quando ele fica encarregado de investigar as ações de um clube secreto supostamente liderado por Shouji Suitengu e pelo grande grupo Tennozu. Em seu ato investigativo, ele percebe que várias pessoas importantes da sociedade fazem parte desse clube, onde se realizam orgias e rituais promíscuos. As pessoas se agregam a esse clube pelo fato de haver lá uma pessoa a quem intitulam de ”A Deusa“, chamada Kagura. A pessoa que receber o beijo dela libera seus instintos e desejos que estão no íntimo do inconsciente, causando o êxtase supremo, a Euphoria.

No momento em que ela aparece no clube, Saiga a fotografa, os guardas do clube vêem e o obrigam a receber o beijo da Deusa. É aí então que Saiga percebe que sua câmera é capaz de explodir coisas, como uma arma, e ocasiona a morte de algumas pessoas no clube, gerando um tumulto. Nesse ínterim, Saiga rapta Kagura e corre em busca de uma saída. Assim começa Speed Grapher, com Saiga tentando buscar respostas para a existência do tal clube secreto, da existência da ”Deusa“, o porquê de uma menina como Kagura estar sendo usada naquele lugar daquela forma, e sobre o que aconteceu com o seu próprio corpo.

Speed Grapher mostra profundamente o quão vil, ganancioso, perverso, egoísta e corrupto pode ser o ser humano. Ainda mais quando o que se está em questão é a política e o dinheiro. Todo o mal do mundo gira em torno disso e é justamente sobre coisas desse tipo que o anime trata. Além do sexo, outro fator que move o mundo é o dinheiro dos políticos corruptos.

Ambientado em um Japão não muito diferente do atual, Speed Grapher trata de um tema bastante realista e forte, não sendo nem um pouco aconselhável para crianças. O próprio enredo possui um estilo adulto, sério (não ocorrem ”gracinhas“) e carregado de contratempos e variações. O estilo é de certa forma policial, com temas sobre mutações no corpo devido ao comportamento mental daqueles beijados pela Deusa, e drama, o qual é totalmente compreensível e realista, sem baboseiras nem pieguices. A história não se fixa em apenas um lugar, o que deixa a série mais agradável de se assistir, já que há bastante movimentação. Há também uma boa quantidade de personagens devido a esse fato.


Sobre o próprio enredo, este se centra principalmente em Saiga e Kagura. Muitas coisas acontecem, e muitos certamente ficarão admirados com certas atitudes tomadas pelos personagens e verão que a história possui conteúdo justificável. A ação vem nos momentos certos e tem uma forma nova de ser contada (eu mesmo nunca vi uma câmera fotográfica explodir objetos focalizados pela mesma), mas bem além disso estão as razões e questões vividas por cada um. O porquê de determinada pessoa ser daquela maneira, agir de tal modo. Certamente todos os motivos são explicados e possuem suas razões próprias, e o público apreciador de bons animes ficará feliz.

Os personagens são vários, todos de características bem distintas e de caráter firme. A relação de Saiga com Kagura é legal de se ver e faz questionar o porquê deles fazerem o que estão fazendo. Há também a policial Hibari Ginza, de gênio forte e que ama (violentamente) o Saiga. Os três ”guarda-costas“ de Suitengu, que também preenchem o elenco, além do próprio Suitengu, que realmente tem um bom motivo pra ser da maneira que é (isso só será possível de entender caso o anime seja assistido totalmente, e muitos se surpreenderão), além de muitos outros, como os que possuem a Euphoria dentro de si, transformando-se em espécies de mutantes com algumas habilidades nada convencionais (nada de ”monstros do episódio“, felizmente). Todos os personagens sustentam a série e têm alguma importância, da maior até a menor.

A parte técnica do anime deixa a desejar em diversos momentos, principalmente na animação, dando a impressão de que faltaram verbas para o estúdio que o produziu. A qualidade do traço também oscila muito entre o bom e o mediano. Mas isto, de certo modo, não é capaz de comprometer o conjunto inteiro (é garantido), já que nem tudo é realmente perfeito. O som, por exemplo, é envolvente, simples e bem encaixado, dando todo um clima de mistério policial, ação e drama. A abertura é totalmente instrumental e boa, da antiga banda Duran Duran, difícil de enjoar.



De todo o modo, Speed Grapher é muito bom por fatores como inovação, história questionável, reflexiva e realista, personagens bem desenvolvidos e uma trilha sonora adequada. Questões como a animação (e um ou dois episódios descartáveis) muitas vezes passam até despercebidos quando a boa história está em jogo. E assim deve ser encarada a obra, que por sinal merece uma boa nota.


Marcos França