Alternativos: Captain Tsubasa J, Flash Kicker
Ano: 1994
Diretor: Hiroshi Fukutomi
Estúdio: Nippon Animation, Studio Gallop
País: Japão
Episódios: 47
Duração: 22 min
Gênero: Esporte
Oliver Tsubasa é um garoto bom-de-bola que tem o sonho de se tornar um jogador profissional pela seleção japonesa, que nunca tinha ido a uma copa do mundo. Suas habilidades chamam a atenção de alguns jogadores da escola para o qual foi recentemente transferido, como Ishizaki e o goleirão Benji, além de atrair a atenção do ex- jogador brasileiro Roberto Maravilha, que passa a treiná-lo, assim como o próprio time da escola, o Nankatsu. Com a presença de Oliver, o time começa a se destacar nos campeonatos locais e dessa forma tem início a saga de um excelente jogador. Conseguirá Oliver realizar seus sonhos?
Super Campeões trouxe algo inédito para os emergentes fãs de animação japonesa no Brasil. Tratava-se de uma animação de futebol em meio a um emaranhado de socos e poderes especiais (Saint Seiya, Shurato e afins) que fez considerável sucesso na saudosa TV Manchete. Por falar em poderes especiais, existe algo bem peculiar em Super Campeões que divide opiniões sobre o anime: a maneira exagerada dos jogadores mostrarem suas habilidades. Talvez por isso colocaram SUPER em algumas versões fora do Japão.
Seja para intensificar a sensação de batalha no campo ou para trazer algo ainda mais dinâmico que um próprio jogo de futebol, a verdade é que Super Campeões sofre de um triste mal: falta de plausibilidade. A lista a seguir pode ser grande, mas algumas coisas precisam ser ditas. Logo nos primeiros episódios vemos Oliver aprendendo a chutar de bicicleta, e ele sempre conseguia chutar no travessão e fazer a bola voltar para si e tentava executar o chute. Benji é uma parede humana que não leva nenhum gol, mesmo sendo ainda uma criança debaixo de uma barra de 7 metros. Kojiro tem uma força monstruosa capaz de arrastar qualquer coisa no caminho (e furar a rede). Os jogadores parecem ter propulsores nas pernas para dar saltos tão altos, sem falar que o campo parece não ter fim, nem os times parecem ter uma formação específica, já que um atacante além de fazer gols também é defensor, e pior ainda, ele consegue voltar ao ataque antes dos seus companheiros passarem do meio de campo. Além de muitos outros detalhes inadmissíveis. Qualquer pessoa que entende o mínimo de futebol faz cara feia.
Tudo parece ser muito “mágico” em Super Campeões e a sensação que dá no espectador é a de que está sendo feito de idiota. Se o anime tivesse um universo que fosse permitido usar essas características seria mais aceitável, mas o mundo de Super Campeões sugere ser semelhante ao mundo real. Existe a Copa do Mundo, o Japão não tinha ido à copa ainda, jogadores do mundo real aparecem no universo do anime, e por isso mesmo é tão difícil aceitar os fatos contraditórios que acontecem em Super Campeões. Vamos pegar um anime recente como Inazuma Eleven (Super Onze). Este sim tem um universo próprio que permite movimentos não realistas.
Mas quem conseguir superar psicologicamente os absurdos de Super Campeões, poderá perceber que o anime possui qualidades típicas dos enredos da época como o protagonista bonzinho que é bom no que faz, o emocionalismo gratuito e um enredo linear e simples. Os traços são bem simples, quase totalmente infantis, com movimentos na mesma proporção, ora caindo de qualidade aqui, ora ali. A sonoridade é agradável e empolgante ajudando a emocionar ainda mais, principalmente quando há uma disputa difícil. Típico mesmo da época.
Super Campeões possui duas fases: uma focada fortemente em Oliver e outra focada em Shingo Aoi, um personagem bem interessante e habilidoso, com Oliver agora em plano de fundo. O ponto fraco da segunda fase é que ela não acaba no anime, deixando a estória aberta, além do ritmo cair bruscamente. Sem falar no final, que sinceramente, foi um dos mais mal feitos já produzidos, sem dar um pingo de vontade de continuar a ver o que acontece. Tudo bem que em 2001 a história continua em “Road to 2002”, mas em 1995 não ficou muito bem um final daqueles.
Só que apesar disso tudo Captain Tsubasa sempre foi um sucesso mundial, que acabou erguendo a seleção japonesa para a copa do mundo ─ seja lá coincidência ou não. Outro ponto interessante é que jogadores como Zidane, Del Piero e Nakata foram inspirados pelo anime a jogar futebol e se tornarem profissionais (segundo suas próprias declarações). E o efeito foi o melhor possível. Certamente a expressividade e a determinação dos personagens dão uma vontade de fazer o mesmo. Quem nunca quis ser um jogador de futebol ao ver esse anime? Ou pelo menos lutar por algo que desejou muito?
A verdade é que Super Campeões marcou uma época em que não se via animações de esportes comumente, e futebol foi a tacada certa pra série rumar e seguir viva por mais de 20 anos, mesmo com tantos acontecimentos improváveis. Pelo menos nos anos em que a série fora exibida mundialmente, a recepção foi excelente. Quem era criança, por sinal, lembra até hoje como uma das suas animações preferidas. Pareceu que a série entrou em cena perfeitamente, já que a moda eram personagens com habilidades extravagantes. Então por que não aceitar? Era disso que todos gostavam na década de 90 mesmo.
Como os tempos mudam, hoje Super Campeões talvez só cause uma perda de tempo para alguns ou um mero sentimento de nostalgia, uma lembrança boa. Mas se algum curioso quiser dar uma olhada, aqui vão dois conselhos: 1º - curta a série na boa, relaxe, esqueça a falta de sentido. 2º - Nunca, em nenhuma circunstância, sob nenhuma hipótese assista com a dublagem brasileira. Isso sim é mais ridículo do que qualquer movimento inaceitável de qualquer jogador no anime.
NOTA: Os nomes dos jogadores utilizados aqui foram os mesmos adaptados para a versão brasileira para facilitar o entendimento. Em vários países houve adaptações em relação aos nomes.
Marcos França