Ano: 2007
Diretor: Toshimasa Suzuki
Estúdio: XEBEC
País: Japão
Episódios: 26
Duração: 23 min
Gênero: Mecha, Aventura, Drama
Em um futuro muito distante havia uma raça avançada intitulada por si mesma como "Tribo do Ouro". Eles tinham poderes inimagináveis, como criar planetas e ver o futuro. Por alguma razão, essa tribo estaria deixando este universo, mas antes disso eles fizeram um chamado às tribos primitivas, dizendo-lhes para explorarem este universo. As tribos que responderam foram: a Tribo da Prata, a Tribo do Bronze e a Tribo Heróica. Porém, tardiamente, uma última tribo conseguiu responder ao chamado. Deram-lhe o nome de Tribo do Ferro.
Mas a Tribo Heróica, devido à sua natureza destruidora e seus poderes colossais, causou uma guerra entre seu próprio povo e, consequentemente, destruiu milhares de planetas. Isso causou a fúria da Tribo do Ouro, que resolveu punir os cinco remanescentes da Tribo Heróica, enclausurando-os em uma espécie de pedra e fazendo-os servir às tribos inferiores.
Aqueles que receberam tais pedras foram chamados de Nodos e pertenciam a tribos diferentes. Belcross, o quinto e mais forte, foi entregue a um jovem chamado Age, pertencente à Tribo do Ferro, também chamados de Humanos, que fora criado diretamente pela Tribo do Ouro e vive no planeta Oron.
Nesse mesmo tempo, a Tribo do Ouro declarou profecias às tribos que possuíam Nodos, que eram a do Ferro e da Prata. Eles poderiam fazer contratos com esses seres determinando “tarefas” escolhidas pela própria tribo, na qual cada Nodos possui um número específico dessas tarefas.
Assim que a Tribo do Ouro parte deste universo, a Tribo da Prata, que se auto-declara como os novos guardiões do universo, atacam a Terra através dos seus subordinados, os insetos da Tribo do Bronze, fazendo com que grande parte da população seja dizimada e o planeta conquistado pela Tribo da Prata. Os remanescentes são então forçados a usarem suas próprias forças para migrarem para partes mais seguras no universo.
Porém, a Tribo do Ferro continua ameaçada pelas forças conjuntas das duas tribos. Como a diferença de poderes entre a Tribo da Prata e a Tribo do Ferro é enorme, resta para a humanidade apenas uma esperança deixada pela Tribo do Ouro: Age. E é em busca dele que os humanos desbravam o universo através da Argonauta, uma nave espacial avançada que viaja através de “estradas” chamadas Starways. A jovem princesa Dhianeila, possuidora de poderes especiais, lidera a humanidade em busca da esperança.
Talvez esta introdução tenha sido uma das maiores do Animehaus, mas mesmo assim foi apenas um resumo. Não há nenhum tipo de spoiler, tudo é a introdução mesmo. O que acontece é que Heroic Age possui uma história completamente nova. Praticamente tiraram todo o conceito de Criação do Universo que temos e criaram um universo inédito, sendo necessária uma longa explicação pro mesmo. E dificilmente se verá tão cedo um enredo tão firme, bem-feito e inovador em animes “espaciais”. Além do que não há um enredo complexo, sem sentido e quase impossível de raciocinar, como já vimos em outras obras do mesmo estilo.
O real motivo do enredo certamente não é percebido no começo. O que vemos no início é mesmo a ação, que recebeu um valor alto nessa obra. As batalhas no espaço enchem a tela inteira e, embora as lutas dos mechas e dos inimigos de um modo geral não sejam caprichadas graficamente, é nas lutas entre os Nodos que o anime tem grande valor. Falando nisso, pra quem gosta de batalhas cataclísmicas e cheia de poderes incríveis, largar a série pode parecer impossível. E diga-se logo: o início é cansativo e chato mesmo, e provavelmente parecerá desanimador para alguns. Mas após “pegar no tranco”, digamos assim, vemos o grande potencial do anime: o próprio enredo.
A essência está nos questionamentos que rapidamente fazemos a nós mesmos após alguns episódios. Quem é a Tribo do Ouro? Porque determinaram um número de “tarefas” aos Nodos? E a Tribo da Prata, porque tem tanto ódio da Tribo do Ferro? Por que apenas um Nodos para a humanidade e quatro para a Tribo da Prata? Por que algumas tarefas entre os Nodos entram em contradição, já que quem determinou as tarefas foram os líderes de cada tribo? E mais ainda: qual é o objetivo real de tudo isso?
Sabe-se que a Tribo da Prata acredita que a humanidade é uma tribo inferior e estão a se perguntar porque a Tribo do Ouro concedeu Belcross a eles, e sendo assim, tentam fazer com que ele largue a humanidade e sigam com os outros Nodos. Purome Ou, uma líder da Tribo da Prata, está sempre conversando com Lekti (uma Nodos) sobre a Tribo de Ouro e os Nodos e suas cláusulas. Há muita profundidade e elementos únicos no enredo que, de certo modo, nos leva a pensar em quem realmente está certo, a Tribo do Ferro ou a Tribo da Prata, e trazendo argumentos suficientes para pensar dessa maneira. Além desta batalha entre as tribos, há um pensamento em comum: nunca devem lutar mais de dois Nodos ao mesmo tempo, pois segundo eles, isso causaria o chamado “Caos” entre eles, repetindo a antiga destruição que arrasou milhares de estrelas (planetas).
O enredo é misterioso e envolvente, além de ter um ritmo regular em todos os episódios. Há muitas alusões à mitologia grega em vários aspectos do anime, como por exemplo Age, que é comparado a Hércules, que também recebe 12 tarefas diferentes (no anime, as tarefas de Age são descritas no final do episódio 2). Além dos nomes dos personagens, como Dhianeila, que seria Deianira ; o próprio Iolaus, que é um amigo de Hércules, no anime é um dos pilotos de mecha; o Nodos Karkinos, em sua forma da Tribo Heróica (Lernaea), possui um ataque em forma de Hydra, outro personagem grego e Yuti, em sua forma Heróica se chama Cerbius, em relação a Cerberus, e muitas outras referências.
Definitivamente não há melodramas irritantes entre os personagens, já que o anime se concentra na salvação da humanidade e na luta entre as tribos do Ferro e da Prata. Há um bom número deles, o que deixa a obra ainda mais preenchida visualmente falando. Cada um com suas características marcantes, os próprios Nodos são o centro do enredo (apesar de boa parte dos personagens parecerem meio sem-graça). Os diálogos são bem feitos e não se utilizam de muitos termos técnicos, o que melhora a compreensão da história.
A musicalidade do anime é praticamente perfeita, a começar pela abertura, com uma música que trata muito bem sobre a história e se encaixa perfeitamente no clima caótico do anime. Nas cenas de ação as músicas também são perfeitas e dão a sensação de esperança e conquista próprias do enredo. Realmente não há nada de ruim na música.
Porém chegamos a uma parte razoavelmente negativa: o traço. Certamente não é um desastre, mas a animação cai bastante nas horas em que as naves de batalha lutam no espaço, além das vestimentas dos personagens que pareceram um pouco sem criatividade (ao contrário do enredo). Os Nodos Mehitaka, Lekti e Karkinos, embora sejam de outros planetas, são um pouco feios em relação ao resto dos personagens, dando a impressão de que também faltou criatividade por parte do desenhista (ou até bom senso mesmo). Precisavam de mais “estilo”. Embora há esse deslize, nos episódios finais e em praticamente todas as lutas que envolvem os Nodos, a animação é caprichada e merece até aplausos.
De fato, Heroic Age tem muito mais a ser dito, principalmente sobre os personagens, carregados de particularidades e histórias próprias, fundamentais para o desenrolar da obra. Clichês? Praticamente zero (e como está difícil fazer animes originais nos tempos de hoje...). Não há pontos negativos gritantes que desmereçam a essência do anime. O que talvez possa incomodar um pouco seja a voz da Dhianeila, que irrita às vezes.
Particularmente seu final pode ser um dos melhores já feitos, além de (salientando novamente) não haver melodramas irritantes, não deixa aquela sensação de vazio que tantos animes deixam e que muitas pessoas comentam. Com certeza, muitas vezes é o final que faz cair o bom conceito que se tinha de um anime. Porém, aqui, seu final fez jus à série e ergueu ainda mais seu conceito. Mesmo não sendo uma obra considerada memorável, Heroic Age é um bom exemplo de originalidade nesse ramo de animes com temas espaciais.
Marcos França