sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Tatakau Shisho: The Book of Bantorra (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 11/03/2011

Ano: 2009
Diretor: Toshiya Shinohara
Estúdio: David Production
País: Japão
Episódios: 27
Duração: 24 min
Gênero: Drama / Aventura / Fantasia



Tatakau Shisho: The Book of Bantorra é uma série de light novels escrita por Ishio Yamagata que se passa em um mundo diferente em que as pessoas, ao morrerem, têm suas vidas “escritas” em livros (de pedra) e que, ao serem tocados, suas vidas passam a ser conhecidas e vistas por quem os tocou. Os responsáveis pela manutenção, posse e proteção desses livros são os Bibliotecários Armados, que mantém todos os registros das vidas que estão guardados na Biblioteca de Bantorra, que é uma das três divindades existentes nesse mundo, o Deus do Passado. Os outros deuses são Towitorra, o Deus do Presente, e Orntorra, o Deus do Futuro.

Os Bibliotecários Armados são pessoas com poderes psíquicos e que são liderados por uma mulher chamada Hamyuts Meseta, que possui um desejo imenso de lutar, matar e ser morta por alguém mais forte do que ela. Seu poder consiste em ataques de pedras desferidos por sua funda. Possui ainda um poder que emite linhas sensoriais que captam o movimento do inimigo. O inimigo dos Bibliotecários é uma seita religiosa e assassina chamada Igreja Shindek que, logo no primeiro episódio, aparece numa conspiração para matar Hamyuts criando homens-bomba desprovidos de emoções, que possuem apenas o intuito de matá-la e que são chamados de “Carnes”.

The Book of Bantorra tem uma maneira interessante de contar a história. Os episódios são divididos em arcos, com três ou cinco episódios focados na história de alguns personagens específicos ou de algum acontecimento. Por exemplo, o primeiro arco foca-se em Colio Tonies, uma “Carne” que acaba vendo a trágica história de Shiron Byarconise através de fragmentos do seu livro. Depois, muda-se para outro foco, como a história de Volken Macmani, um dos Bibliotecários Armados, e assim por diante. Mas vale mencionar que isso não é um aglomerado de histórias soltas (apesar de parecer) mas, sim, enredos que desenvolvem a trama, assim como caracterizam personagens e relatam acontecimentos que, de uma forma ou de outra, estão contribuindo para o entendimento da história. Por que a Igreja Shindeki se opõe aos Bibliotecários? Quem é Hamyuts Meseta? Qual é a real história dos personagens? O que é o Paraíso?


Apesar dos personagens terem super poderes, e mesmo com um título que signifique Bibliotecários Lutadores, não é nas lutas que Tatakau Shisho funciona mas, sim, nas histórias, ou seja, muitas palavras e pouca ação. Sim, muita conversa por sinal. Mesmo tendo situações dramáticas, mistérios e fatos surpreendentes, existe um bate-boca sonolento. Vê-se que, apesar dos arcos terem um fundo dramático e serem bem contados, faltou algo que mexa mais com a emoção, faltou demonstrar por que as pessoas lutavam entre si, por que outras morriam e por que as pessoas buscavam vingança (às vezes esse sentimento de vingança nem existia). Em alguns casos os personagens, ao mesmo tempo em que mostram apego pelo outro, se mostram meio apáticos e passivos em relação aos seus companheiros que traem, somem, morrem, sofrem. Faltou o sentimento de vingança ou revolta, e esses fatores são causados pelo “espaço vago” deixado entre um arco e outro.

Tudo bem que o anime é meio devagar, não tem um rumo muito definido no início e falta mais humanidade nos personagens em alguns quesitos, mas existem pontos bons. Os arcos separadamente se desenrolam muito bem e os acontecimentos paralelos, que são o mundo presente e o mundo quando se lê os livros, são muito legais de se ver. Bisbilhotar a vida dos outros é algo realmente importante na realidade do anime. Há gente que se vicia nisso e tudo mais, tendo até alguns momentos cômicos. Os personagens são mesmo bem desenvolvidos e característicos, e suas participações, que variam em cada arco de episódios, trazem um ar dramático junto a outros personagens secundários. Histórias como a do Enlike e Noloty Malche valem muito à pena. Personagens misteriosos e estranhos enriquecem a obra, aliados à boa sonoridade e traços agradáveis. Mas os defeitos tornam a voltar...

Até o episódio 23 vê-se o último episódio do penúltimo arco. Acontecimentos paralelos, enredo principal ao fundo se desenrolando e ficando mais empolgante até esse momento. Personagens que aparecem e marcam com suas presenças e depois desaparecem. Mistérios não resolvidos e que levavam o espectador a querer saber o que realmente está por trás dos panos... Até agora.



O último arco é o derradeiro final, os últimos episódios, a revelação de tudo. Mas era isso? Uma sequência de episódios que revelam uma causa tão banal até? Acontecimentos tão forçados a ponto de criar situações meio impossíveis e “viajadas”? A razão pelo qual todos sofreram, alguns morreram e que tanto esperamos pra saber era tão bobinha assim? A resposta pra tudo é sim. O pior é que o anime quer mostrar que a razão era boa, que tudo foi muito sério e apocalíptico. Acontecem tantos vaivéns malucos no fim que surpreende até, te faz imaginar como tanta coisa assim pode acontecer de uma ora pra outra e com uma razão tão boba (como a Nieniu foi se transformar naquela coisa)? Como a Chacoly fez aquilo na Mirepoc? Entre outros fatos que é melhor não revelar. É incrível como se pode estragar um anime inteiro só com uns quatro episódios. Geralmente animes com um inicio ruim mas com um final redentor conseguem se salvar e ganhar respeito, mas um anime que se desenvolve bem, tem tudo pra cair nas graças do povo e que, no fim, põe tudo a estragar, faz com que tudo o que passou e que foi bom seja enterrado cova abaixo. O final é a coisa mais importante em um anime, mas neste, nem o epílogo foi convincente.


Marcos França