terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Arpeggio of Blue Steel - Ars Nova (TV)

Alternativos: Aoki Hagane no Arpeggio, Aoki Hagane no Arpeggio - Ars Nova, Arpeggio of Blue Steel
Ano: 2013
Diretor: Seiji Kishi
Estudio: SANZIGEN Animation Studio
País: Japão
Episódios: 12
Duração: 24 min
Gênero: Sci-Fi / Drama / Aventura / Romance



Existe um momento em que cada um de nós acabamos encontrando “a cabra” de nossas vidas. Mas o que seria “a cabra”?

Bem, sabe aqueles filmes em que o sujeito acorda muito bêbado de uma festa, abraçado em uma cabra, e começa a refletir o que diabos está fazendo com a sua vida? O momento de tapa em que se realiza que, ao acordar abraçado em uma cabra tendo feito sabem-se lá os deuses o quê na noite anterior, se chegou ao fundo do poço, e que deve ser feito alguma coisa a respeito disso?

Claro, “a cabra” é só uma metáfora, pode ser qualquer coisa. No meu caso foi este anime. Mas o que tem de tão especial com esse anime para ser um alterador de vidas?

Oras, é um anime.
Tá, e daí?

De harém.
Tem um monte desses.

Onde o protagonista tem um harém de navios apaixonados por ele.
Mas oi?

Ok, talvez você tenha formado uma imagem mental mas descartou, porque, na boa, né? Só que não. O que você imaginou é exatamente sobre o que esse anime é. Exatamente isso. Faz você pensar sobre o que está fazendo com a sua vida, não?

Mas caso você tenha dificuldade de entender (ou mais provável, de acreditar) o que seria um “harém de navios”, eu vou explicar.

No ano de 2039, um poderoso inimigo de navios de batalha inteligentes surgiu no oceano, e rapidamente trucidou a humanidade com sua tecnologia superior. Assim, a humanidade foi cortada completamente de contato pelos mares, tanto por ar quanto pela água, e também em comunicações, e cada continente ficou isolado dos outros – apenas saber se os outros ainda estavam vivos já era praticamente impossível. Este inimigo é conhecido apenas como “a Névoa.”

Como não é difícil de imaginar em um cenário assim, os japoneses – que moram em uma ilha – tomaram bonitaço e com piche no toba.

O cenário só começou a mudar quando surgiu a tripulação adolescente-prodígio do submarino i401 – um submarino da Névoa capturado pela marinha japonesa – e começa a vencer batalhas. Em uma situação assim, o destino da guerra pode mudar quando a ciência japonesa desenvolve um novo tipo de bomba, capaz de ser efetiva contra a tecnologia superior da Névoa. Entretanto, como o Japão praticamente não possui mais indústria (continua sendo uma ilha), o protótipo e as especificações têm que ser levadas pelo Pacífico até os Estados Unidos que – caso ainda existam – poderão construir a bomba em escala industrial, e assim mudar o rumo da guerra.

Essa é a premissa básica. Não parece tão ruim assim, certo?

Oh boy... mas é agora que é a HORA DA DELÍCIA! Oh boy…

O que pega é que o jovem capitão Gunzo Chihaya é auxiliado pela Inteligência Artificial do Submarino i401: a novinha Iona (ignore o resto da tripulação, eles têm um visual idiota, e não têm a mínima importância em absolutamente nada, ou qualquer desenvolvimento de personagem). Acontece que a Névoa percebeu que, enquanto eles venciam facilmente por ter tecnologia superior, começaram a tomar sufoco devido à capacidade de criatividade e inovação dos seres humanos.

É tipo você jogar um jogo contra o computador e terminar no hard, e depois jogar online contra outras pessoas – no qual vai apanhar até embaixo da língua. Por melhor que a máquina seja, ela nunca vai se comparar à adaptabilidade e criatividade humana, e foi isso que a Névoa percebeu.

Por isso, ela passou a permitir que seus principais cruzadores de batalha possuíssem avatares, com programação voltada a emular o pensamento humano e os sentimentos, que são essas menininhas. Mas aqui entra a pegadinha: as meninas são só avatares feitos de nanomáquinas - a consciência mesmo, e todo o processamento, se dá no navio realmente. Então, quando você fala com a menininha fofinha representante de cada navio, na verdade você esta falando com o próprio navio, a guria é só um avatar.

A Iona, por exemplo, é só o avatar do submarino i401.

Ok, vá lá, é até de certa forma criativo, certo? Então, qual o problema, e o que torna esse anime tão perturbador assim? Ora, volte ao começo do texto: é um anime de harém.

Sim. Isso mesmo. Sanatori. Exatamente. Os navios vão se apaixonando pelo capitão Gunzou, e indo morar com ele, viverem juntos, e terem altas aventuras, como todo anime em que um cara, do nada, vive cercado de meninas bonitinhas. Só que não são meninas bonitinhas. São navios. Pelo amor de Jesus na Cruz pulando de pogobol, SÃO NAVIOS!

E você pode achar que eu estou zoando quando digo que os navios-meninas querem sentir o torpedo quente do capitão na sua sala de máquinas, mas eu estou falando sério. As meninas navio inclusive se referem a casa de máquinas de suas embarcações como suas partes intimas em uma conotação sexual!


Não. Sério. Mesmo. AI. MEU. KOKORO. De boa, cara. Na moral. Eu não sei nem mais o que dizer depois disso, sérião mesmo. Velho, são navios… É um harém de navios querendo levar uma caldeira quente na casa de máquinas, querendo ter a popa afundada, querendo levar uns arranhões no casco do encouraçado… Qualquer piadinha que eu fizer, por mais infame que seja, é completamente séria nesse caso.

Eu… eu não sei como continuar. Eu não sei como reagir a isso. Eu fui derrotado em meu próprio jogo. Você me venceu, Japão. Apenas digo isso. Você me venceu. Você venceu, Japão.

Estou batido. Vou apenas falar do resto do anime. Sei lá porquê, minha alma já foi quebrada mesmo, e as cicatrizes me acompanharão até o fim dos tempos, e mais além.

Deixando isso de lado, e eu não faço ideia de como isso é possível, a parte das batalhas navais é realmente interessante e bem feita. Digo isso porque elas são repletas de tática e coerentes com o cenário proposto: com exceção do final, nenhuma luta é vencida com o “poder da amizade” ou algo que o valha. Não, quando a Iona (que é um submarino) vence naus-capitânias ou encouraçados pesados, é feito de uma forma bastante coerente, de modo que você possa acreditar que eles realmente conseguiram, mesmo com poder de fogo e maquinário infinitamente inferior.

Sério, bizarrices à parte, a parte das batalhas é realmente legal. Visualmente, inclusive, porque o anime usa muito bem o 3D (o anime é todo em 3D, embora quase não dê para perceber, devido ao excelente cell shading que ele tem, só dá pra ver que é uma engine 3D em alguns movimentos dos personagens, que parece muito cutscene de videogame), para deixar fluir toda animezice (então, prepare-se para canhões antigravitacionais que desafiam as leis da física e caralho A4).
Outra coisa que é legal é que, quando não estão numa rinha até a morte, os navios que andam com o Chinzou (nunca vou me acostumar com isso) aprendem bastante sobre a cultura humana, e essas são cenas bem interessantes.

Isso porque a Névoa é um tipo de inteligencia artificial (não é dito claramente o que ela é, se é alien ou um projeto militar que deu errado ou o que), que segue cegamente um código de programação, e desenvolveu unidades com capacidade de emular sentimentos apenas para otimização bélica. Isso quer dizer que as meninas-navio ainda estão aprendendo essa coisa de “ser uma pessoa”, e o anime é bem trabalhado em cima disso.

Por exemplo, em determinado ponto, a Iona pergunta ao Chinzou qual é o propósito de um cemitério, ela não consegue compreender porque os humanos empreendem recursos e tempo em reverenciar uma coisa que sequer existe mais. Esse tipo de questionamento faz você pensar, e mostra de uma forma bem trabalhada que os avatares dos navios (ai…) não são pessoas de verdade.

A melhor parte disso vem, sem dúvida, na antagonista da história: a nau-capitânia da frota do Pacifico Congou. Ela inicialmente quer apenas destruir os navios que traíram o código de conduta da Névoa, e se bandearam para o lado dos humanos, entretanto, ela vai ficando tão obcecada com isso, mas tão obcecada, e com tanto ódio, que ela sequer percebe que ela própria está agindo da forma mais humana possível.

Em determinado ponto, os navios da Névoa demonstram claramente ter medo de interagir com Iona, e sua gangue de navios rebeldes (…), porque ela deve ter um vírus contagioso ou algo do tipo, quando na verdade ela (e seu relacionamento com o Capitão) apenas as fazem se dar conta da humanidade que já havia dentro delas, desde que passaram a emular sentimentos. E isso é feito de uma forma orgânica e bem trabalhada, é bacana mesmo.

Eu realmente não acredito que vou dizer isso… mas… os navios aprendendo sobre amizade realmente é uma coisa (brega mas) muito bonita. Tipo os melhores momentos (bregas) de Cavaleiros do Zodiaco.

Deus, eu falei bem de um anime sobre navios aprendendo lições sobre amizade e amor. Minha alma está definitivamente quebrada. Esse é o fundo do poço, eu vejo isso claramente agora. Está feliz, Japão? ESTÁ CONTENTE AGORA? ERA O QUE VOCÊ QUERIA? ESTÁ BEM, OLHA, VOCÊ VENCEU!

Claro que entre uma batalha e outra temos muito, mas muito moe mesmo. Muito ecchi e fan service mesmo – às vezes com closes quase ginecológicos na “casa de máquinas” das avatares – e cenas que não apenas abraçam o ridículo, mas fazem amor com ele e constroem uma casinha de pátio verde e cerquinha branca.

Enquanto em seus momentos sérios o anime tem um desenvolvimento de personagem sutil e orgânico (surpreendente para um anime de harém), na maior parte do tempo ele consegue ser apenas bobo. Infelizmente, não é raro pender mais para chato.

Eu tenho que dizer que tem muita coisa mesmo que poderia ter sido cortada sem pensar duas vezes (tem todo um desenvolvimento sobre uma criança-gênio que não leva a lugar nenhum: por que todo anime tem que ter a maldita criança-gênio?), e o gosto do anime é extremamente duvidoso – para dizer o mínimo.



Se eu recomendo? Bah, velho, eu ainda estou tentando acreditar que eu assisti essa coisa… Não me faz pergunta difícil. Mas, caso voce esteja se sentindo com sorte, já sabe onde fica o fundo do poço. Boa sorte. Você vai precisar.

(o anime está disponivel na Netflix, a propósito)


Cilon Mello