sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Digimon Adventure tri.- Chapter 1: Reunion (Movie)

Alternativos: Digimon Adventure tri. Saikai, Digimon Adventure tri. – Reunion
Ano: 2015
Diretor: Keitaro Motonaga
Estudio: Toei Animation
País: Japão
Duração: 80 min
Gênero: Sci-Fi / Drama / Aventura



No ano passado, a Toei pegou todo mundo de surpresa, anunciando que fariam uma continuação de Digimon Adventure ou, para quem assistia Fox Kids ou TV Globinho, apenas Digimon. Isso mesmo: quinze anos depois da primeira série animada da franquia, Toei estava voltando as raízes, fazendo uma nova homenagem aos digi-escolhidos originais contando uma nova história, com todos agora no ensino médio, tendo de enfrentar uma nova ameaça. Também disseram que essa nova série seria voltada para o público mais velho, que já cresceu desde a época em que Tai e companhia foram parar no mundo digital.

No entanto, “Digimon Adventure tri.” teve uma produção um tanto conturbada. Originalmente planejado como uma série de TV, teve a data de lançamento atrasada ate não poder mais para, depois, ser revelado que seria na verdade uma série de 6 longa-metragens. Na data da escrita dessa resenha, já foram lançados três. Mas enfim, vamos falar sobre o primeiro filme em si, o primeiro capítulo: Reunião.

Três anos depois de Digimon Adventure 02, os digi-escolhidos originais cresceram e agora se encontram no ensino médio. Não mais envolvidos em nenhuma luta para salvar o mundo, levam suas vidas como estudantes normais que estão próximos de se tornarem jovens adultos. Cada um segue seu próprio caminho e, mesmo ainda mantendo contato, é evidente que está cada vez mais difícil todos se encontrarem juntos como um grupo. Yamato (Matt, na dublagem americana e brasileira) está ocupado com sua nova banda, Koshiro (Izzy) já tem todo o seu futuro planejado, Mimi está em Nova York, Jo (Joe) está focado em seus estudos para entrar em uma boa faculdade enquanto Sora, Takeru (T.K.) e Hikari (Hikari) levam seus dias normalmente, todos com seus próprios problemas.

Todos exceto Taichi (Tai), que se encontra em uma posição muito comum para jovens em sua idade. Sem saber exatamente o que fazer da vida de agora em diante, Taichi ainda faz parte do time de futebol da escola e se encontra em uma leve depressão por ter crescido, lamentando o fato de seu grupo de amigos estar tão distante ultimamente.

Certo dia, Taichi está andando por Tokyo quando uma espécie de vortex se abre bem em sua frente. Dele, um Kuwagamon hostil surge e começa a quebrar tudo. Ainda mais impressionante, Agumon sai do vortex logo em seguida. Muito felizes por terem se reencontrado depois de tanto tempo, a reunião de Taichi e Agumon é interrompida pelo digimon gigante e fora de controle. Daí em diante, os digi-escolhidos vão aos poucos sendo engolidos mais uma vez em um novo conflito envolvendo os monstros digitais, se reunindo com seus antigos parceiros digimons e se envolvendo com uma misteriosa organização que diz querer conter uma aparente epidemia que está infectando o Digi-Mundo, causando distorções também no mundo real.

Primeiramente, Reunion sabe muito bem qual é o seu público, e nos ataca com uma onda de nostalgia do começo ao fim. O retorno de músicas clássicas, as animações de digi-evoluções, os digimons anunciando o nome de seus golpes antes de desferi-los, tudo está aqui para agradar aos fãs de longa data que assistiram a série original quando crianças. Ao mesmo tempo, a história tem por ambição nos mostrar dramas reais envolvendo jovens que estão se preparando para a vida adulta, e o resultado disso, no primeiro filme, é um tanto quanto misto.


A história deste primeiro filme se foca em Taichi. Apesar de finalmente encontrar aquela sensação que tanto sentia falta, Taichi se vê receoso de voltar a lutar com digimons no meio da cidade, pois agora percebe como eles destroem tudo no processo, além do perigo real de acabar matando alguém sem querer. Apesar de isso ser entendível, me parece uma reação um tanto quanto tardia, considerando a série anterior. Até mesmo uma criança conseguiria compreender esse tipo de risco e, apesar de a ideia ser boa, o Taichi só perceber isso agora e ficar hesitando o tempo inteiro acaba não descendo tão bem quanto deveria, especialmente com Yamato e o resto do grupo insistindo para que ele pare de choramingar.

Os outros personagens têm um pouco de tempo pra se mostrar, mas nada que seja particularmente digno de menção específica, sendo tudo um grande “build-up” para o que vem a seguir. Temos também uma nova digi-escolhida com seu parceiro digimon, Meiko, mas ela não faz nada quase o filme inteiro.

O engraçado desse primeiro filme é o seu ritmo. Apesar do roteiro ser relativamente rápido, mal perder tempo com explicações necessárias (como o que exatamente é essa nova organização ou a tal infecção dos digimons) e já nos jogar em cenas de ação logo no começo, ao final do filme você percebe que quase nada aconteceu de fato. Ninguém sabe que organização é essa, o que exatamente é Alphamon, de onde veio essa nova digi-escolhida, etc. O filme é, portanto, uma introdução bem básica e rápida dessa nova história, o que não foi particularmente muito animador na época. Claro que ainda vemos potencial, e a nostalgia por si só é suficiente para que tudo valha a pena, mas sérias dúvidas pairavam no ar sobre o futuro de tri.. Felizmente, os filmes seguintes se mostraram excelentes, mas isso fica para outra resenha.

Visualmente, o filme também é muito básico. A animação quase abaixo do mínimo que se espera de produções atuais, com movimentos travados e qualidade de traço inconsistente. Falando em traço, o novo design dos personagens é simplesmente chato de se olhar: todos têm o exato mesmo rosto não muito detalhado, com diferenças mínimas no penteado e roupas. Eles não evocam o mesmo carisma e individualidade que os originais possuíam, mas são, pelo menos, passáveis.

Se tem algo que o filme acerta em cheio, é na trilha sonora. Ouvir versões atualizadas e remasterizadas de clássicos temas da série, como “Brave Heart”, é o suficiente para evocar aquela sensação nostálgica que arrepia os pelos na pele. Até mesmo quem cresceu ouvindo aquela versão horrível cantada pela Angélica, vai certamente reconhecer a nova versão de “Butterfly”, o tema de abertura original que tocava esporadicamente como música de fundo na série.



No final das contas, Reunion não foi nada mais do que isso mesmo, uma reunião dos fãs com os personagens da série. Mal tem história pra se discutir, a nostalgia é forte e a curiosidade só é ampliada. Felizmente, os próximos filmes mostraram que a equipe sabe muito bem o que está fazendo, mesmo em um pacote gráfico que deixa muito a desejar.


Lucas Funchal