terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Digimon Adventure tri.- Chapter 2: Determination (Movie)

Alternativos: Digimon Adventure tri. - Determination, Digimon Adventure tri. Ketsui
Ano: 2016
Estudio: Toei Animation
Diretor: Keitaro Motonaga
País: Japão
Duração: 75 min
Gênero: Sci-Fi / Drama / Aventura



ATENÇÃO: Resenha contém "spoilers" para quem ainda não viu o primeiro filme " Digimon Adventure tri. – Reunion".

Depois de um primeiro filme meio sem sal, fãs estavam divididos entre otimismo cauteloso e pessimismo profético. Determination seria o filme que definiria que a nova série “tri.” valeria a pena de ser acompanhada e, felizmente, a resposta foi “Sim, vale a pena. E muito”.

Alguns dias depois do primeiro filme, os digi-escolhidos se encontram sem nenhuma informação precisa sobre o que está acontecendo de fato. Aparentemente, uma espécie de infecção está assolando o Digi-Mundo e isso é a causa de alguma espécie de distorção espaço-temporal responsável por possibilitar que digimons fora de controle entrem no mundo real.

Agora mantidos sob a supervisão de dois agentes da “Agência Administrativa Incorporada” do governo japonês, um deles sendo, inclusive, um de seus professores no ensino médio, os digi-escolhidos continuam suas vidas normais, mesmo que atentos. Taichi e Yamato ainda estão brigados e Mimi, que voltou de Nova York, decide fazer um programas para animá-los, aproximar todos do grupo novamente e, de quebra, dar as boas vindas à Meiko, a nova digi-escolhida, e seu parceiro Meicoomon. Enquanto isso, Gomamon se vê frustrado com o fato de que Jo se encontra muito distante de todos, dizendo não ter tempo pra brincar agora que o vestibular está chegando.

Determination leva as coisas em um ritmo muito mais lento do que seu antecessor e, neste caso, isso é ótimo. Dessa vez, o filme se foca nos personagens de Jo e Mimi, dois adolescentes com sérios problemas de auto-estima que acabam levando ambos a cometerem erros graves. Mimi se mostra muito impulsiva e, apesar de sempre ter as melhores intenções, tende a não pensar direito antes de fazer bobagens, o que complica a situação para todo mundo. Jo, em contrapartida, está em negação sobre o fato de estar sendo envolvido em uma aventura absurda mais uma vez, justo agora que precisa se focar em seu futuro, o que o torna distante do resto do grupo, para não dizer grosso.

Ao longo do filme, o drama de ambos se mostra como sendo muito real, e traz a tona questões muito mais maduras do que eles enfrentaram na série de TV de 1999. Afinal, até que ponto você está sendo bondoso ou apenas insistente e infantil? Porque justo eles têm que ser escolhidos por alguém para resolver problemas alheios aos seus próprios? Tudo o que Mimi quer é ser aceita pelos outros. Jo só quer seguir para a próxima fase de sua vida sem grandes atropelos. Ambos, no entanto, acabam sendo vistos como a “exibida” e o “covarde”.


Só isso já seria suficiente para o filme ser bem sucedido em seu estudo de personagens, mas felizmente não é tudo. O resto do elenco também ganha um tempo considerável de desenvolvimento. A relação conturbada de Taichi e Yamato continua pairando sobre o ar de maneira desconfortável. Desta vez, ao invés de brigarem aos berros como na série original, os dois encaram a situação de maneira mais passiva-agressiva, o que certamente demonstra que agora são adolescentes crescidos e mais reservados. Isso sem falar que agora não é apenas implicitado, mas explicitado, que existe uma tensão amorosa entre os dois e Sora, que faz de tudo para não favorecer nem um, nem outro. Koshiro também percebe que se sente atraído por Mimi, e não sabe direito como reagir a essa sensação. Os dois acabam tendo uma relação um pouco conturbada em vista da falta de cuidado de Mimi, que leva Koshiro a lhe repreender com muita severidade.

São esses pequenos toques que imergem o espectador no enredo: as crianças agora cresceram e, com isso, a dinâmica de suas relações muda de acordo. Agora eles têm problemas mais adultos, e as consequências de seus atos (assim como o primeiro filme forçou um pouco a barra para estabelecer) carregam mais impacto do que antes.

Meiko, a nova digi-escolhida, também tem mais tempo para se desenvolver aqui. Vemos que ela possui uma relação muito profunda e forte com Meicoomon, além de ser uma menina sem jeito que é sempre deixada de lado. Se ligando ao arco de Mimi, Meiko vê nela uma nova amiga que a ajuda a se tornar mais assertiva e social.

No quesito de personagens, tudo é ótimo e muito bem trabalhado. Mas, assim como no primeiro filme, a trama em si é quase nula. Quase nada relevante ao problema principal acontece durante o filme inteiro, servindo mais como um pano de fundo para justificar a volta dos digi-escolhidos do que uma história original em si.

O que ajuda a aliviar o problema, no entanto, é um ótimo final. Não só a luta final evoca uma sensação que não sentia há anos (a grande digi-evolução que acontece no momento em que os personagens amadurecem), como também apresenta uma bela reviravolta que serviu como um ótimo cliffhanger para o terceiro filme.

Infelizmente, Determination peca MUITO no quesito de animação. Ainda pior que o primeiro filme, a animação aqui é simplesmente uma porcaria. Cenas inteiras são apresentadas em três ou quatro frames estáticos que ficam se movimentando na tela, os movimentos dos personagens são completamente travados e quase nunca possuem detalhe. Expressões e cabelos ficam mudando de proporção de um frame a outro e, no geral, a sensação de falta de orçamento é evidente. Até mesmo na última luta, que é a parte mais bem feita do filme, esses mesmos problemas distraem do que está acontecendo. É como se eu estivesse assistindo a um anime dos anos 90 ou até menos. Pelo menos a trilha sonora continua ótima.



Apesar de problemas graves no visual, Determination é sem dúvida uma grande evolução se comparado ao seu antecessor. Uma história sincera e focada em personagens ajuda a empurrar uma trama que só se justifica em seus minutos finais. E quer saber? Isso já está ótimo, pois esses momentos íntimos com os personagens e seus dilemas de estarem crescendo são ótimos. Em um mundo onde projetos desse tipo são revelados como porcarias mal concebidas muito frequentemente, Digimon Adventure tri. – Determination mostra que faz uma coisa muito importante: respeita os fãs da série original.


Lucas Funchal