segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Casshern Sins (TV)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 21/01/2011

Alternativos: Kyashān Sins
Ano: 2008
Diretor: Shigeyasu Yamauchi
Estúdio: Madhouse
País: Japão
Episódios: 24
Duração: 24 min
Gênero: Ficção Científica / Ação / Drama


Num futuro pós-apocalíptico, a humanidade foi subjugada por robôs que, sob o controle de um tirano chamado Braiking Boss, levaram o mundo à ruína. O estopim para a onda de destruição em massa seria a morte da salvadora da Terra, Luna, pelas mãos de Casshern, um ciborgue subordinado de Boss com poderes colossais. O resultado já era esperado: centenas de anos se passam, a Terra está sob o efeito de um cataclisma que contamina o ar com um veneno mortal tanto para humanos quanto para robôs. Neste cenário, o terreno se torna árido e os robôs que antes se vangloriavam de uma vida eterna passam a temer a morte tanto quanto os humanos - não há mais recursos para conduzir reparos em peças danificadas e a poluição no ar intensifica brutalmente os danos nas estruturas cibernéticas. Sem mais delongas, é com este pano de fundo que se inicia a série Casshern Sins, remake da clássica série de anime Neo-Human Casshern.

Embora seja parte da aclamada franquia Casshern, a versão Sins é como uma espécie de reinício para a trama, com alguns personagens análogos, mas em situações completamente distintas. A série descarta a continuidade do original, onde Casshern era um super-herói cibernético que lutava contra o exército de Braiking Boss para salvar o mundo da destruição, sendo neste caso o próprio Casshern o principal responsável pela devastação da Terra. O anti-herói perambula por ambientes inóspitos enfrentando robôs a beira da ruína que apostam sua salvação na destruição do mesmo. Apesar de ouvir de todas as partes que foi o juiz do apocalipse terreno, Casshern perdeu a memória e só se recorda vagamente de seu encontro com Luna. Assim, em sua jornada com destino incerto, o ciborgue estará em busca de respostas em meio a confrontos que se desenrolam sem muitas explicações. Neste meio-tempo, se encontrará também com personagens que irão contribuir para que se lembre de seu passado, seja por desejo de vingança, por histórias que ainda não foram resolvidas, ou por simples acaso do destino. Dentre tantas figuras que aparecem na tela no desenrolar da série, algumas delas se apresentam como parte de um núcleo central, e são elas: Lyuuze, uma ciborgue que surge no primeiro episódio declarando seu ódio a Casshern por ele ter matado Luna; Ohji e Ringo, também ciborgues que se comportam como avô e neta; Friender, um cão robô que se torna uma espécie de companheiro de viagem de Casshern logo no início da trama; Dio e Leda, dois seres extremamente semelhantes ao protagonista que desejam dominar o que sobrou do mundo; e por fim, o melancólico Braiking Boss que, embora aparentemente não interfira nos embates centrais, corrobora para muitos dos acontecimentos de forma por vezes sutil, carregando, assim como Casshern, sua própria cruz por ter colaborado com a situação desesperadora que a Terra se encontra.


Nos quesitos técnicos, o estúdio Madhouse, responsável por tantas obras de peso, dá um show à parte, criando ambientações na maior parte do tempo sombrias, com um marcante ar de desolação, que propiciam uma experiência à parte para o conjunto da série. O traço dos personagens é leve, com um design adequado ao tom do anime, e muitos dos confrontos se desenvolvem com uma fluidez inimaginável, propiciando por si só fantásticas experiências. Casshern Sins, nesse sentido, cria um universo próprio, onde a trilha sonora casa exatamente com a coloração sorumbática do enredo. Os destaques neste âmbito ficam por conta da música de abertura ("Aoi Hana", cantada por Color Bottle) e da belíssima terceira música de encerramento ("Hikari to Kage", de Shinji Kuno).

Finalizando esta breve análise, cabem algumas considerações, que tangenciam alguns “pecados”, por assim dizer, do anime: muitos dos 24 episódios não acrescentam muito à história central, colaborando mais como passos de aprendizagem para o protagonista. O ponto positivo disto é o crescimento psicológico que se vê em Casshern ao longo da série, que pára de se lamentar e passa a buscar soluções, mas além deste tipo de jornada já ser lugar-comum em tantas outras séries (só pra ficar em algumas, temos Ergo Proxy, Kaiba, Kurozuka, Kino no Tabi, Samurai Champloo, Texhnolyze, Trinity Blood), realmente muitos destes episódios não são tão auto-suficientes a ponto de poderem se descolar da história central, e o anime parece acabar se “arrastando” mais do que deveria até atingir seu ápice. Outro aparente problema é o número extremamente vasto de personagens: se por um lado temos figuras carismáticas e com uma densidade de construção notável, outras tantas passam pelas cenas sem um desenvolvimento adequado, o que acaba prejudicando a edificação do núcleo central. Um exemplo notável disso é o problemático Braiking Boss, responsável por algumas das discussões filosóficas mais importantes da série, mas que tem um fim deplorável devido à má definição de seu papel.



Apesar destes pesares, Casshern Sins no geral é um trabalho que vale ser conferido. É uma reconstrução digna da franquia, com uma direção técnica esplêndida e com um enredo bem nuançado e de profundidade filosófica memorável. A narrativa não esclarece todas suas ambigüidades, deixando uma ponta de dúvida que caberá ao espectador interpretar. Assim, mais importante que saber se a Terra será salva, será que Casshern encontrará sua redenção?


Thales Vilela Lelo