Alternativos: Dot hack//G.U. TRILOGY
Ano: 2008
Diretor: Hiroshi Matsuyama
Estúdio: Bandai Visual / CyberConnect 2
País: Japão
Episódios: 1
Duração: 93 min
Gênero: Aventura / Drama / Sci-Fi
A adaptação de games para as telas não é coisa nova. Muitos jogos de sucesso passaram pelo mesmo processo de adaptação e fracassaram por um ou outro motivo. Ainda assim, a maioria das adaptações desses games ganha uma certa fama, principalmente entre os fãs. Com .hack//G.U TRILOGY não foi muito diferente.
Produzido pela CyberConnect 2 (empresa que projetou os 3 jogos da série G.U) e dirigido pelo presidente da mesma, TRILOGY parecia ter tudo para se tornar uma adaptação excelente... pena que esse não foi o caso.
TRILOGY se trata de (como você já deve ter imaginado) um OVA que conta a história da mais nova trilogia de jogos ”.hack//" para Playstation 2 (.hack//G.U vol. 1 Rebirth, vol.2 Reminisce e vol. 3 Redemption, respectivamente). Aliás, eu escrevi ”conta“? Perdão, na verdade quis dizer ”resume“.
CUIDADO! O RESTO DA RESENHA PODE CONTER SPOILERS SOBRE A SÉRIE E SOBRE .HACK//ROOTS! LEIA POR SUA PRÓPRIA CONTA E RISCO!
TRILOGY começa com Haseo, um iniciante no MMORPG ”The World“, testemunhando a morte de Shino, uma garota que conhecera no jogo pela qual tinha um sentimento de afeto não muito recíproco. Mas não foi uma morte qualquer onde você pode voltar ao jogo depois de um "game over". Shino foi morta por ”Tri-Edge“, um personagem misterioso que causa anomalias no jogo onde quer que vá.
A personagem da garota foi desaparecendo pouco a pouco do jogo de maneira anormal e, mais tarde, Haseo descobre que a verdadeira Shino está em coma no mundo real.
Seis meses depois, Haseo se tornou um poderoso PKK (Player Killer Killer) que procura por PKs em todo o jogo de maneira praticamente irracional, fazendo sempre a mesma pergunta a todos eles: ”Você conhece Tri-Edge?“.
Naturalmente, uma estratégia tão primitiva e sem fundamento não o levava a lugar algum. Um dia, recebe uma mensagem de Ovan (para mais informações, ver resenha de .hack//ROOTS), que revela qual será o próximo paradeiro de Tri-Edge e instiga Haseo a enfrentá-lo dizendo que ele é o único capaz para tal.
Haseo vai até o mesmo lugar que Shino morreu e acaba encontrando Tri-Edge. Por mais que Haseo o golpeie com toda a sua fúria, nada parece afetá-lo, até que ele resolve terminar a brincadeira com uma habilidade desconhecida que, ao atingir Haseo, o reseta para o nível 1.
Haseo acorda, totalmente fraco e confuso, em uma sala escura onde três jogadores (Yata, Khun e Pi) explicam que ele tem um poder especial em seu personagem, denominado ”Avatar“. Este poder é capaz de destruir toda qualquer anomalia no jogo, ou seja, deixa Haseo em pé de igualdade com Tri-Edge.
Haseo então se transforma em uma pessoa totalmente arrogante e com uma enorme obsessão por poder para derrotar Tri-Edge. Eis que um dia acaba conhecendo Atoli, uma jogadora que possui um personagem muito semelhante ao de Shino, apesar de sua personalidade ser um tanto diferente. Ela deseja se entrosar com Haseo por perceber nele uma expressão de solidão e tristeza, ou seja, quer ajudá-lo de alguma maneira.
O enredo dos 3 jogos foi extremamente retalhado e depois remendado de uma maneira que pudesse caber em um OVA de uma hora e 25 minutos e, diga-se de passagem, não foi uma coisa muito boa.
Apesar dos primeiros minutos serem, de certa forma, fiéis ao início do primeiro volume dos jogos, o resto é um enorme resumo de todo o restante de uma maneira praticamente descontextualizada. Por exemplo, no filme, Atoli simplesmente tem um ataque de caridade e resolve se relacionar com Haseo, enquanto no jogo existe uma explicação um pouco menos forçada e clichê para isso.
Todo o processo de desenvolvimento dos personagens é praticamente inexistente nesse movie, dando aquela sensação de que as coisas foram feitas às pressas e que a própria narrativa é rápida demais.
Falando em personagens, o jogo possuía um vasto elenco interessante e essencial no desenvolvimento da história. No OVA, aqueles que têm alguma importância são apenas três: Haseo, Atoli e Ovan. Os outros personagens existentes têm, no máximo, umas cinco ou seis falas.
Lá para o final do movie, uma chuva de situações absurdas e forçadas toma conta da tela, fazendo os que já jogaram os jogos e que não são cegados pelo fanatismo pensarem: ”Que p**** é essa?“. Desde quando Haseo pode abrir uma fenda no tempo e espaço para invocar milhares de espadas? Eu poderia até dar outra situação ridícula como exemplo mas, para evitar "spoilers", vou ficar quieto sobre isso, hehe.
Como se tudo isso não bastasse, nem ao menos o final é parecido com o dos jogos, tendo mais da metade do último volume cortado, finalizando de maneira extremamente clichê e meio decepcionante.
Como já devem ter percebido pelas imagens, o filme inteiro é feito em computação gráfica. Logicamente não é nada ao ”estilo Advent Children“, mas até que é bem feito, com uma boa mistura entre anime e 3D (ou Cell-Shade, para simplificar).
Outro ponto positivo é que este OVA trás uma pitada de ação à série ".hack//". Os personagens lutam para valer mesmo, com direito a saltos incrivelmente altos e tudo o mais. Não que isso faça uma grande diferença, mas um quebra-pau é bom de vez em quando =).
A trilha sonora, que sempre foi um dos pontos fortes de .hack//, é praticamente inexistente em TRILOGY. A maioria das cenas não possui nenhuma música de fundo, e o tema final é mais uma versão meio piorada da verdadeira música-tema do primeiro volume do jogo (Gentle Hands).
Normalmente eu finalizaria a resenha dizendo que esta obra é indicada para os fãs de mais longa data da série, mas nem isso eu posso dizer, pois eu mesmo não fui com a cara desse OVA. É claro que esta é apenas a minha opinião, já que a aceitação geral foi boa entre a maioria dos fãs. O pior de tudo é que, se for pensar bem, não teria como terem feito algo muito melhor com um tempo de duração tão curto. Acredito que se não fosse isso, teria dado uma nota muito pior.
De qualquer maneira, é mais uma adaptação meia-boca de uma história com um potencial muito maior. Se você jogou os jogos ou, no mínimo, viu .hack//ROOTS, é possível que goste. Mas se o seu caso for ter visto só ROOTS, recomendo fortemente que jogue os games ao invés de depender desse OVA para saber a continuação da história. Se não tiver acesso aos jogos de maneira alguma, TRILOGY até que é um bom quebra-galho, mas já vou avisando para não esperar muita coisa.
Lucas Funchal