segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Kara no Kyoukai (Movie)

OBS: Resenha publicada originalmente no Animehaus em 29/01/2010


Alternativos: Kara no Kyoukai -– The Garden of Sinners, Boundary of Emptiness
Ano: 2007
Estúdio: ufotable
Diretor: Ei Aoki (filme 1), Takuya Nonaka (filme 2), Mitsuru Obunai (filme 3), Shinichi Takiguchi (filme 4), Takayuki Hirao (filme 5), Takahiro Myura (filme 6), Shinsuke Takizawa (filme 7).
País: Japão
Episódios: 7
Duração: 50/120 minutos
Gênero: Drama / Terror / Ação / Mistério / Violência



“Kara no Kyoukai – The Garden of Sinners” surgiu como uma "light novel" amadora da dupla Kinoko Nasu e Takashi Takeuchi, escritor e desenhista, respectivamente. Mais tarde, esses dois visionários fundaram a “Type-Moon”, famosa produtora de "visual novels" para PC no Japão, sendo ela responsável por obras como Tsukihime e Fate/Stay Night, ambos tendo ganhado versões animadas de sucesso. Os capítulos de Kara no Kyoukai já apareciam em edições especiais da "visual novel" Tsukihime (na época em que a Type-Moon deixou de ser uma produtora amadora para entrar no mercado de vez) e faziam um grande sucesso, resultando na publicação oficial das "light novels" e, como não poderia deixar de ser, numa versão animada.

Pode-se dizer que Kara no Kyoukai recebeu um tratamento até que de luxo, com sua adaptação sendo dividida em sete longa metragens (alguns com 50 minutos e outros com duas horas), animados com primor pelo estúdio ufotable (Tales of Symphonia – The Animation), tendo o projeto se iniciado em 2007, época do lançamento do primeiro filme, e terminado só agora, em 2009. Também nesse ano, as "light novels" começaram a ser traduzidas oficialmente para o inglês, pela distribuidora gringa “Del Rey Manga”.

Por ser, em termos, a primeira obra da Type-Moon antes de Tsukihime, o enredo de KnK possui muitas similaridades com este, porém sem nenhuma relação direta entre os dois. Um exemplo disso é o fato de ambos os protagonistas se chamarem “Shiki” e ambos terem a habilidade de ver as “Linhas da Morte”. A ambientação de KnK é dada oficialmente como uma realidade paralela à de Tsukihime.

O enredo deste anime é um tanto difícil de se resumir em uma sinopse, pois os filmes não estão em ordem cronológica de lançamento, sendo que o primeiro filme não é de fato o começo. Isso complica um pouco as coisas, pois qualquer passo em falso pode me fazer "spoilear" alguma surpresa do enredo... Mas enfim, vou tentar explicar o enredo por alto: leia por sua própria conta e risco ^^

Shiki Ryougi é uma garota nascida em uma família muito tradicional japonesa, em que seus membros são treinados para se tornarem especialistas nas mais variadas tarefas, geralmente voltada para combates, desenvolvimento da inteligência e até assassinato. Eles também possuem outra prática peculiar, que não posso mencionar para não estragar a surpresa XD.

Enfim, temos como segundo protagonista o personagem Mikiya Kokutou, um estudante normal que acaba se envolvendo com Shiki por esta ser sua colega de classe. As coisas começam a se complicar em sua vida quando começa a investigar um caso de assassinatos brutais em série em sua cidade por curiosidade e, mais tarde, se envolve com uma mulher ruiva chamada Touko Aozaki, que lhe mostra todas as coisas sobrenaturais que permeiam a realidade do mundo. Mal sabia ele que, a partir daí, estaria arriscando o próprio pescoço em mais casos de assassinato envolvendo pessoas loucas, peculiares e até mesmo magos. Bem, acho que isso já deve estar de bom tamanho.


O enredo de KnK é razoavelmente complexo e muito bem trabalhado, com uma mistura de temas e elementos que tornam a história muito interessante e sombria, abordando assuntos como magia, o que de fato significa assassinar outra pessoa, crises existenciais, ying e yang, etc. Por mais que a maioria dos temas tratados gire ao redor do principal, que é a questão do assassinato e motivos que levam alguém a cometer tal ato, tudo está muito bem encaixado em seu devido lugar.

Porém, algo que pode confundir alguns é o modo como o enredo é apresentado. Eu, particularmente, gosto muito de histórias cheias de detalhes subjetivos, que exigem certa capacidade de interpretação por parte de quem assiste, mas alguns podem acabar ficando perdidos muito facilmente. Não que a trama seja difícil de entender, muito pelo contrário, mas não espere explicações detalhadas nem citações completamente explícitas para sanar suas dúvidas. É necessário prestar muita atenção em todas as falas e cenas para responder a todas as suas possíveis perguntas sobre o enredo, mas está tudo lá, sem nenhuma ponta solta ou falta de informação.

A parte técnica do anime é, no mínimo, fantástica. A qualidade de animação é tão bem feita e movimentada que não serão poucas as pessoas que vão voltar no vídeo para rever a mesma luta umas três ou quatro vezes. É dada uma atenção muito grande para detalhes nos cenários e leves movimentos nos fios de cabelo/roupas nos personagens, além dos efeitos em 3D serem muito bem combinados à animação. As cores são fortes e vívidas, resultando em um pacote visual pra ninguém botar defeito.

A trilha sonora é simplesmente ótima, com melodias eletrônicas misturadas com um toque de rock e outras puramente orquestradas. Quem gosta de trilhas sonoras no estilo de Yuki Kajiura (encontrada em animes como .hack e Tsubasa Chronicles) vai ter muito o que ouvir aqui, tanto entre as músicas de fundo como as de encerramento. Falando nos encerramentos, as músicas “Oblivious” (encerramento do primeiro filme) e “Sprinter” (quinto filme) são ótimas e merecem seu destaque. A trilha sonora em geral foi composta pela cantora “Kalafina”.

Os filmes, mesmo não sendo apresentados em ordem cronológica, devem ser assistidos em sua ordem de lançamento para maior imersão no enredo. O primeiro filme, Overlooking View (visão elevada) serve como um “teaser” sobre qual é o “jeitão” da obra, nos apresentando pela primeira vez os três personagens principais (Shiki, Mikiya e Touko). O segundo e quarto filmes (A Study in Murder (Part 1), The Hollow Shrine) nos mostram em maiores detalhes o passado de Mikiya e Shiki, enquanto o terceiro (Remaining Sense of Pain) conta a interessantíssima história de uma nova personagem que acaba se envolvendo com Shiki, servindo também como palco para um desenvolvimento de personagens. O quinto filme (Spiral Paradox) é disparado o melhor de todos, ligando todos os filmes anteriores em um “desfecho” simplesmente emocionante. O sexto filme (Oblivion Recording) é mais uma “história extra” sobre a personagem Azaka e o sétimo filme (A Study in Murder (Part 2)) finalmente nos dá uma conclusão sobre todos os fantasmas pessoais de Shiki e Mikiya.



Kara no Kyoukai – The Garden of Sinners é uma agradável surpresa no mundo dos animes e, sem dúvida, merece todo o sucesso que faz no Japão e até fora dele. Por mais que eu procure, não encontro nenhum motivo para descontar nota dessa ótima obra, que merece ser assistida por todo fã de bons animes e por aqueles que reclamam que nada diferente do normal é feito hoje em dia. Com uma história inteligentíssima e banhos de sangue viscerais, KnK merece a nota máxima. Sei que, como toda a resenha que ganha uma nota tão alta, é possível que haja uma certa polêmica envolvendo meu julgamento, mas é com muito orgulho que deixo minha primeira “resenha 100%” aqui no Animehaus.


Lucas Funchal