Diretor: Keiichi Satou
Estúdio: Sunrise
País: Japão
Episódios: 25
Duração: 30 min
Gênero: Ação / Comédia / Drama / Sci-Fi
Para quem não sabe, em 2006 a Marvel Comics (editora dos X-Men, Vingadores, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, entre outros) lançou uma grande saga "crossover" entre seus heróis, chamada "Guerra Civil". Como resultado de um acidente causado pela irresponsabilidade de um grupo de jovens super-heróis enquanto lutavam contra um super vilão que se explode, matando muitos inocentes, cria-se a lei de registro dos super-humanos nos EUA. A lei obriga todo super-humano a se registrar, revelar sua identidade secreta e receber treinamento adequado para combater o crime. O objetivo é garantir a responsabilização do super-humano durante sua luta contra o crime e garantir que eles tenham experiência o suficiente para não gerarem outra tragédia. Os registrados poderiam também trabalhar para o governo e ganhar um salário. Pois bem, esta lei acabou dividindo os heróis em 2 grupos, os pró-registro, liderados pelo Homem de Ferro, que consideravam o registro uma atitude responsável, e os contra o registro, que alegavam que a lei violava as liberdades civis dos super-humanos, que trabalhar para o governo poderia transformá-los em peões dos políticos, e que a revelação das suas identidades os deixavam desprotegidos contra vilões que conseguissem esta informação.
Em Tiger & Bunny, ou T&B, a situação é um pouco diferente. No mundo do anime, existem pessoas com super poderes chamados de NEXT. Na cidade de Sternbild, uma espécie de Nova Iorque futurista com vários níveis sustentados por colunas, mas com arquitetura e costumes parecidos com os nossos, eles criaram uma solução diferente. Em Sternbild, existe um programa chamado HeroTV, uma espécie de reality show no qual os heróis ganham pontos ao salvar inocentes, capturar criminosos e ao chegar em primeiro ou segundo lugar na cena do crime, com o primeiro colocado da temporada sendo coroado o rei dos heróis. Os heróis trabalham para companhias que os agenciam e cobrem os seus custos, inclusive os dos danos causados por eles. O governo permite a atividade dos heróis, mas estes respondem aos seus chefes, que sabem quem eles são. Ou seja, é um tipo de heroísmo privatizado com heróis assalariados. Isso resolve o problema da responsabilidade pelos danos do herói, que são cobertos pela empresa e, em caso de crime, esta pode revelar a identidade dos heróis. E porque as empresas entram nessa? Porque elas vendem espaço nos uniformes dos heróis para patrocínios e os usam em campanhas publicitárias. Aliás, T&B inovou nisso, porque os patrocinadores dos heróis são companhias reais que pagaram para ter propaganda no anime, o que é um método pouco convencional de arrecadar fundos e que pode ser a solução para animes de produção mais cara ou mais arriscada. O irônico é que T&B vendeu tão bem que talvez nem precisasse disso.
O personagem principal é Kotetsu T. Kaburagi, cujo codinome é Wild Tiger, um herói já experiente cujo poder, o Hundred Power, lhe dá as habilidades de 100 homens durante 5 minutos. Depois disso ele precisa descansar 1 hora antes de usar o poder novamente. O anime não diz a idade dele, mas ele está no início dos 40 ou perto disso. Kotetsu, apelidado de “o esmagador da justiça”, por ter o mau costume de destruir as coisas enquanto caça os bandidos, acredita fortemente que o dever de um herói é salvar vidas e, por isso, não liga para o ranking do HeroTV e está entre os últimos. Quando a companhia na qual ele trabalhava é comprada, ele é obrigado pela sua nova companhia a ser parceiro do mais novo herói do HeroTV, Barnaby Brooks Jr., que possui o mesmo poder de Kotetsu. O anime mostra como estes dois aprendem a trabalhar juntos enquanto atuam como heróis no HeroTV, investigam o assassinato dos pais de Barnaby quando este era criança e lidam com outras ameaças que aparecem durante a série.
Tecnicamente, o anime é competente. O design de personagens do Masakazu Katsura (I´s, Video Girl Ai, Zetman) é muito bom e a animação costuma ser competente, apesar de cair de vez em quando. O uso do 3D, tanto nos cenários e máquinas quanto nos uniformes dos heróis, é bom, apesar de algumas eventuais falhas. Pelas imagens que vi na internet, muita coisa foi consertada na versão BD, então talvez esteja melhor. A dublagem é muito boa e a trilha sonora orquestrada para dar um tom épico geralmente cumpre o seu papel, falhando apenas por não ter uma música que casasse com os momentos mais dramáticos. Os temas de abertura e encerramentos não são ruins, mas são bem esquecíveis.
O anime tem vários personagens interessantes, começando pelo Kotetsu, um viúvo de meia idade com uma filha pré-adolescente chamada Kaede que está naquela fase difícil, e o fato de o Kotetsu viver quebrando as promessas que faz a ela por causa das demandas do trabalho de herói não ajuda, já que Kaede mora com a mãe de Kotetsu e não sabe que ele é o Tiger. Foi muito legal terem escolhido o Kotetsu como principal, já que eu particularmente já estou cansado de tanto protagonista adolescente introspectivo... O Kotetsu é bem bonachão e atrapalhado, estando sempre em apuros por causa de sua concepção antiquada de heroísmo.
Já o Barnaby é aquele cara quieto e anti-social que faz o maior sucesso no Japão. Ele é sempre calmo, mas o Kotetsu consegue tirá-lo do sério constantemente e os dois vivem brigando, já que Barnaby gosta de planejar tudo e o Kotetsu faz o que dá na telha, além do Barnaby se importar com o seu desempenho no HeroTV e pelo apelido pelo qual Kotetsu insiste em chamar Barnaby, Bunny. Kotetsu dá este apelido a Barnaby por causa do uniforme deste. Obviamente, o objetivo era colocar estes dois caras diferentes aprendendo a trabalhar juntos e se tornando uma dupla de verdade, coisa que vemos constantemente em filmes policiais.
Além da dupla principal, temos Blue Rose, que além de trabalhar no HeroTV, é uma “idol”. Ela é uma colegial cujo sonho é ser uma cantora de verdade. Seu poder é congelar as coisas. Temos Sky High, o atual rei dos heróis, chamado de "mago do vento" por sua habilidade de controlá-lo. Ironicamente, ele é um baita cabeça-de-vento, apesar de levar seu trabalho de salvar as pessoas tão a sério quanto Kotetsu. Origami Cyclone é um jovem japanófilo que vive tentando aparecer no fundo das fotos e imagens tiradas dos outros heróis, como se fosse um ninja. Fire Emblem é um herói gay que é o presidente da própria empresa e que serve como a “mãe” do grupo. Dragon Kid é a heroína mais jovem que usa seu kung fu e seus poderes elétricos para lutar contra o crime. Sua roupa civil é a do Bruce Lee no Jogo da Morte e ela não se acha muito feminina. O último dos heróis é Rock Bison, amigo de Kotetsu dos tempos de escola cujo poder é endurecer seu corpo, tornando-o super resistente. Não por caso ele é cabeça-dura. Para finalizar, temos a produtora do HeroTV, Agnes Joubert, mulher de personalidade forte que passa as missões para os heróis e vive dando broncas no Kotetsu.
O legal dos heróis de T&B é que nenhum deles é apelão como alguns dos heróis deste lado do Pacífico. O poder mais forte é o do Kotetsu e do Barnaby, mas o limite de 5 minutos iguala as coisas. Com exceção do Rock Bison, todos os heróis secundários têm seus próprios episódios, com exceção da Blue Rose, que tem alguns. O ritmo do anime normalmente é bom, mas dá uma caída no começo da segunda metade. O anime tem alguns antagonistas bem interessantes e até a primeira metade toda a parte da ação é muito boa.
Infelizmente o anime tem seus defeitos, que começam a aparecer principalmente na segunda metade. O anime introduz um antagonista para os heróis e, principalmente, para o Kotetsu, porque os dois têm visões diametralmente opostas sobre o que é justiça, mas acaba não resolvendo este enredo, preferindo seguir outra linha. Até aí tudo bem, até porque isso dá a esperança de continuação (já foram anunciados dois filmes), mas o problema é a quantidade de clichês que eles usaram. E tome gente estando no lugar certo na hora certa, parceiros brigando, a união do bem contra o mal, o inimigo final ficar enrolando para matar os heróis, dando a oportunidade para os heróis o derrotarem, os vilões entregando os planos para os heróis e cometendo erros bobos... Tudo isso depois de uma primeira metade que não precisou de nada disso para ter um clímax satisfatório.
Outra coisa que me incomodou muito foram as iscas para as fãs de yaoi. O anime é cheio de cenas do Kotetsu e do Barnaby dizendo que confiam um no outro, do Barnaby pegando o Kotetsu no colo quando o salva, de um dizendo para o outro o quão importante ele é... O problema não são as cenas em si, mas o fato de elas terem sido feitas assim somente com este propósito, como vem se tornando costume ultimamente. No final da série tem uns momentos que enchem o saco.
Mas mesmo com os defeitos acima, achei o resultado final satisfatório. T&B é um anime divertido, com qualidade técnica boa e personagens legais. Recomendado a todos que gostam de animes de ação ou para os que gostam de super-heróis.
M4rc0 AFRL