Diretor: Genndy Tartakovsky
Estúdio: Cartoon Network Studios / Williams Street
País: EUA
Episódios: 10
Duração: 25 min
Gênero: Ação / Aventura
Samurai Jack era uma animação da Cartoon Network cheia de ação que chegou a passar até na TV aberta. Eu assistia quando criança e adorava. Contava a história de Jack, um samurai (ou será ronin?) que foi enviado para o futuro pelo demônio Aku. Segundo a abertura original:
Há muito tempo, em uma terra distante, eu, Aku, o grande Mestre das Trevas, libertei as terríveis forças do mal. Mas um inglório guerreiro samurai empunhando uma espada mágica opôs-se a mim. Antes do combate final, eu abri um portal no tempo e o lancei no futuro, onde o mal é lei. Agora o tolo busca retornar no passado e destruir o futuro que é Aku!
Jack possuía uma espada mágica capaz de selar o demônio. Com ele no futuro, Aku foi capaz de dominar o mundo e reinar a seu bel prazer. O futuro em que Jack vive é uma distopia em que diversos grupos são oprimidos e escravizados. Voltando para o passado e matando o demônio, Jack seria capaz de evitar que esta realidade sequer chegasse a existir. Mas (spoiler?) ele não conseguiu pelo simples motivo que a série não tem final.
Não é tão surpreendente, na verdade. Muitas animações infantis terminam em aberto. Samurai Jack tinha um estilo episódico, com vilões da semana e tudo mais. Não é como se fosse um grande arco culminando em algo. Segundo o criador, Genny Tartakovsky, a decisão de não ter um final fechado foi dele mesmo. Ele não queria fazer um final apressado, e não teve condições de terminar tudo.
A ideia original de Genny era fazer um filme encerrando tudo, mas o mesmo acabou não sendo produzido. Até que ele conseguiu fazer uma temporada de 10 episódios, saindo pelo Adult Swim, em pleno 2017.
Eu não revi as quatro temporadas originais. Elas estão na memória, e como muitas animações infantis, eu acho mais seguro deixa-las lá. Mas eu sou parte do público-alvo desta animação nova. Alguém que cresceu vendo a série, tem ótimas lembranças e que agora pode ver uma continuação feita para ele, com nudez e sangue e tudo mais que os criadores acharem necessário.
Deixando bem claro, então: esta é uma resenha sobre a última temporada apenas.
O que Samurai Jack tinha de diferente na minha memória? Não apenas ação, mas estilo. Samurai Jack era uma série de impacto. As imagens que eu tenho são de cenas bem parecidas com embates de velho-oeste ou de samurai. Embates que tem sua resolução em segundos. Mas tem todo um preparo, uma disputa. Uma respiração pausada, olhares fixos.
E, fora das cenas de ação, Jack tenta ser caridoso e controlado. É uma miniexposição a todo aquele mito que tentava mostrar os samurais como pessoas puras e sem falhas. Jack meditava, era moderado em gestos e ações. Isto tinha uma ressonância muito forte em mim.
Entre a quarta e a quinta temporada se passaram cinquenta anos. Graças a magia de Aku, Jack não envelhece, mas o samurai está desaparecido. Jack não tem mais sua espada e está maluco, mas Aku não sabe disso. O demônio continua governando tudo e o mundo se encontra em um estado ainda pior que antes.
No meio disto tudo há as Sete Filhas de Aku, moças que são treinadas por um culto desde a infância para caçar e matar o samurai. A líder delas, Ashi, divide com Jack o protagonismo da história – é com ela que exploramos como o mundo mudou, enquanto com Jack exploramos sua sanidade.
Há referências a personagens e situações antigas (tem o Escocês!), e até a personagens de animações beeeeem velhas que a Cartoon tem direitos. Eu consegui assistir tranquilamente, e acho que até quem não viu as temporadas antigas vai curtir bastante.
A necessidade é a mãe da invenção. Provavelmente por limites de orçamento, a série tem cenários e personagens de visual simples, como era comum na época. Ao invés de ser apenas uma limitação, acabou se tornando um estilo. Fugindo do realismo, estilizando tudo. Posso estar ficando maluco, mas as cores me lembram muito os filmes de Godard. E as formas me lembram aqueles cartazes antigos e simples que eram feitos principalmente em países como França e União Soviética – não sei se têm um nome específico.
São 10 episódios que desenvolvem bem Ashi, lembram todo mundo quem é Jack e o que ele defende, e fluem como água colina abaixo. Tudo culminando no esperado final da história – que é igualmente épico e breve. O embate e as consequências ficam espremidos em um episódio de pouco mais de vinte minutos e que decepcionou muita gente. Eu, em particular, fico dividido. Não acho a melhor coisa do mundo, nem um desastre completo. Difícil é achar quem gostava da série e não gostou da nova. O final é só a cereja do bolo, e acho que até quem odeia cereja pode deixar ela de lado se o bolo é saboroso o bastante.
Heider Carlos